Uma Vida Para Chamar de Minha

CAPÍTULO I - A VIDA DE PEDRO

Meu nome é Pedro, tenho dezoito anos, cheguei agora no último ano do ensino médio. Há pouco mais de seis meses perdi a minha mãe, vítima de um câncer que a levou na mesma velocidade em que surgiu e deste então a minha vida nunca mais foi à mesma.

Sou o tipo de jovem que podemos chamar de atrasado no mundo, que nunca consegui acompanhar o ritmo de vida dos outros meninos da minha sala. Nunca fui o pegador do bairro, entretanto não sou considerado um nerd ou antissocial. Digamos que sempre fui mais caseiro e não fui muito namorador, sempre me considerei muito indeciso em várias questões pessoais e por isso sempre demonstrei ser meio imaturo e frágil.

Ao perder minha mãe, vi o meu mundo desabar diante dos olhos e me sugar para baixo. Ainda tenho meu pai, minha irmã e a Priscila, minha melhor amiga do colégio, mas sinto que minha vida não é e nunca mais será a mesma, afinal, o meu alicerce se foi.

Meu pai começou a trabalhar muito cedo, é do tipo super conservador, não nos damos muito bem por causa disso. Quem sempre intervém em nossos conflitos é minha irmã Denise. Meu pai é mecânico, dono de uma oficina, que ficou meio jogada durante os últimos meses de vida da mamãe. Ele largou tudo para dar toda a atenção possível para ela, sinto orgulho dele por essa atitude. Não posso dizer que meu pai é a pior pessoa do mundo, seria hipocrisia de minha parte, a verdade é que ele sempre se esforçou para fazer o melhor por nossa família, deu muito duro para criar minha irmã e eu, seu único defeito é a sua mente arcaica, que acaba nos impedindo de ter um bom relacionamento em família.

Denise é, sem dúvida, o meu maior brio e ao mesmo tempo o meu maior exemplo. Quando eu era mais novo, já a via como uma pessoa esforçada e muito inteligente; lembro-me de como ela passava noites com a cara nos livros no tempo do ensino médio, o seu maior sonho era ser aprovada e ingressar em uma faculdade pública de medicina, e por todo esse esforço, o sonho se concretizou. Hoje ela está cursando o terceiro ano de medicina e ainda trabalha durante meio período na padaria do Seu Júlio – um velho safado – digamos que um galanteador excessivo. Denise luta muito para conquistar os seus objetivos, creio que esse é o ponto que eu mais admiro nela. Por ser independente, ainda mais agora com a morte da mamãe, ela tornou-se a única mulher da família, tem mais liberdade e não é tão cobrada por nosso pai.

Atualmente ela namora o Rodrigo – um palerma. - Confesso que não entendo como minha irmã, linda e tão inteligente, pôde se apaixonar por um cara como ele. Rodrigo é o famoso bad boy do bairro, trabalha como auxiliar de mecânica na oficina do meu pai e não se separa de seu amiguinho Fábio, outro palerma que também trabalha para o meu pai, ambos são do tipo de caras bombados e enormes, contudo são incapazes de agirem como adultos, sempre arrumam confusões por onde passam e esse jeito do Rodrigo só traz sofrimento para minha irmã, mas se dependesse de mim, isso já teria mudado.

E finalizando o quadro de pessoas importantes na minha vida e não menos importante, Priscila, minha melhor amiga. Ela está comigo desde a terceira série, sempre fomos àqueles amigos unha e carne, como moramos em uma cidade pequena do interior de São Paulo, todos nos conhecem e acham que somos namorados, mas a verdade é que somos grandes amigos e nunca passará disso. Sabemos de todos os segredos um do outro, ou quase todos. Ainda que com grande dificuldade, tive forças para continuar os estudos depois da morte de minha mãe, graças a ela, que se não fosse por isso, ainda estaria mofando dentro do meu quarto.

Passados alguns meses desde a morte de minha mãe, ainda tenho dificuldades para me recuperar, problemas para me alimentar, dormir, aprender, me interessar por alguma coisa e principalmente para me envolver com outras pessoas. Desde o acontecido, só saio do meu quarto para ir à escola, tranquei meu curso de inglês e cancelei minhas aulas de canto, que era uma das coisas que eu mais amava fazer.