CAPÍTULO IV - A VIDA DE MIGUEL

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Arrumar a mala com a minha mãe, me fez pensar em como as coisas podem ser, a correria do dia a dia, as surpresas. Em um momento você está todo louco atrás de uma saída e logo depois, em sua zona de conforto, você encontra abrigo nos momentos mais simples. Como eu amo minha mãe, essa mulher única, sabe me trazer de volta pra terra.

- Qualquer coisa me liga filho. Cuidado na estrada, não corra muito e não faça besteiras.
- Tá bom, Dona Helena, a senhora pode ficar tranquila.
- Fico mais aliviada. Beijos meu querido, vá com Deus.
- Bye mãe!

Saí tão depressa pela porta de casa que nem vi meu pai e fui logo o atropelando.

- Olha por onde anda rapaz, cuidado!
- Desculpa pai. Tchau!
- Aonde você vai?
- Pro nosso apartamento na praia, querido, esses adolescentes são imprevisíveis.
- Tudo bem, afinal, terei uns dias a sós com a minha amada esposa.
- Pare já com isso, os vizinhos podem estar de tocaia.
- Problema deles. Vem cá, vem!

Entrei no carro, posicionei o meu pen drive no compartimento USB e segui meu caminho em direção à praia, ouvindo minhas músicas favoritas.

"Don't you want me baby

Don't you want me, oh.

Don't you want me baby

Don't you want me, oh".

Músicas brasileiras, americanas, espanholas e até ZAZ, uma cantora francesa de que gosta muito, embalavam a trilha sonora de sua viagem, ou melhor, da fuga de pensamentos e realidades, mas era só ele parar de cantar que tudo vinha à tona em sua mente, o sitio, o bilhete... Pedro.

- Esse menino não sai da minha cabeça, maldita hora que resolvi ir nesse sítio!

Miguel tentava, em uma luta sem fim, esquecer o passado, só que ele sabia que não era um passado muito distante assim.

- Ninguém pode saber o que aconteceu absolutamente ninguém, é minha reputação que está em jogo.

- Finalmente cheguei nesse prédio. – Desabafo em voz alta. – Agora é descarregar as coisas.

Miguel subiu rapidamente para o apartamento, pois estava muito apertado para ir ao banheiro, olhou no relógio e os ponteiros marcavam 01:30 da manhã. Jogou-se na cama, exausto, mal retirou os tênis e o peso do sono caia sob seus olhos.

Miguel acordou assustado, esqueceu-se completamente de onde estava, o motivo de estar ali, ou melhor, o nome do responsável de tudo isso.

Lá fora o sol já queimava , se levantou, colocou os shorts, tomou uma injeção de ânimo ao pensar no lindo mar que o esperava.

Chegando a praia, viu que o local estava vazio, exceto por um grupo de amigos, sentados em um ponto ao som de um violão, cantando MPB.

- Hey! – Miguel escuta um grito, mas não olha, afinal, não estava esperando ninguém chegar ali. – Ele olha de canto de olho e percebe que o grupinho está olhando para ele.

- Garoto? Psiu, é você mesmo. – Uma moça de cabelos longos e escuros, de pele bronzeada o chama.

- Eu? – Pergunta Miguel meio sem jeito.

- Claro, o tubarão que não ia ser. – Miguel não dá ouvido.

- Marina, isso é jeito de falar com as pessoas que você nem conhece? – Dispara Beto em direção de Miguel. – Desculpe a minha amiga, ela bebeu um pouco além do que está acostumada.

- De boa, relaxa! – Intervém Miguel de forma um pouco ríspida.

- Prazer, me chamo Beto.

- Miguel!

- Quem se sentar conosco e curtir a nossa roda de música popular brasileira?

- Obrigado, mas eu já estava mesmo indo embora.

Uma Vida Para Chamar de MinhaOnde histórias criam vida. Descubra agora