1- A dívida e o seu pagamento. [✓]

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— E então...o que vocês têm a dizer sobre isso? — A voz grossa do Senhor Nakamoto ecoou por toda sala de estar, fazendo os Hime estremecerem.

Era uma tarde fresca e convidativa para um passeio pelas ruas movimentadas de Osaka. Qualquer um que acordasse naquele dia, esqueceria na hora que era uma típica segunda-feira. Porém, nem todos estavam tendo um bom dia.

A senhora e o senhor Hime estavam calados. Nem mesmo o doce e refinado cheiro do chá de mel que se alastrara pelo cômodo recheado de móveis caros podia acalmar os coraçõeszinhos daquele pobre casal.

— Senhor Nakamoto...— O Hime olhou de canto para sua esposa e engoliu seco, pegando-a pelo pulso e fazendo ambos se ajoelharem no tapete peludo — Eu peço, por favor, que tenha piedade de nós e nos perdoe por nossa ousadia...

Perdão? — O Nakamoto olhou com raiva para o casal ajoelhado no chão, em sinal de arrependimento, e bateu com força na mesinha de vidro no centro da sala, fazendo os que estavam presentes tremerem pelo susto — Vocês atrasam cinco meses de pagamento e ainda tem a coragem de me pedir perdão?!

— Perdoe por nossa ousadia, perdoe por nossa ousadia!! — O Hime exclamou, temendo o que podia acontecer a cada dez segundos. Fechava os olhos com força, o coração pulsando em medo e antecipação.

— Seus...!

— Querido! — A senhora Nakamoto entrou no meio da discussão, tentando acalmar o marido — Por favor, se controle...tente entender o lado deles também...

Entender? — O Homem olhou para a mulher e bastou apenas uma troca de olhares para que o maior bufasse de nervosismo.

— Por favor, meu senhor...pedimos por uma nova maneira de lhe pagar por nossa dívida...— O Hime disse, esperançoso, a voz trêmula.

— Uma nova maneira? — A Nakamoto questionou, os olhando com curiosidade e empatia. A calma de sua voz jamais poderia ser encontrada na linguagem corporal de seu marido ao lado — O que vocês sugerem?

— Eles não têm o direito de sugerir nada, Izume! — O mais alto exclamou, fazendo a mulher lhe olhar com surpresa.

Antes que outra palavra pudesse ser dita, o som da porta de entrada batendo ecoou pela casa. Houve um burburinho de vozes recepcionando quem havia chegado, e não demorou muito para que o jovem japonês aparecesse no corredor, o qual dava ligação à sala de estar. Com olhos curiosos, o garoto olhou para seus pais e depois para o casal ajoelhado no chão.

— O que está acontecendo? — Sua voz chamou a atenção das quatro pessoas presentes na sala.

Yuta! — Izume foi a primeira a ter uma reação, o olhando com hesitação — Chegou mais cedo hoje...?

— O professor nos liberou antes...

— Ah, entendo...— A japonesa limpou a garganta e se levantou do sofá, indo rapidamente ao encontro do filho — Por que não vamos para a cozinha, hum? Tenho certeza de que você está com fome...

Á medida que ambos iam se afastando do cômodo, tanto a voz da mulher quanto a do menino ficavam cada vez mais abafada, ao ponto de não se ouvi-las mais. Os Hime continuavam ajoelhados e de cabeça baixa, ainda na esperança de conseguirem outra maneira de quitar sua dívida com o empresário rico. Clamavam baixinho para que os céus lhes dessem uma segunda chance, e o Nakamoto também.

— Vocês...— O milionário começou — Tem filhos?

— S-sim, meu senhor...— O casal se entre olhou, temendo o que o outro podia supor — Três filhos...duas meninas e um menino...

— Qual de suas filhas é a mais velha? —  Continuou com o questionário.

— Hime Ayumi, meu senhor...Ela completará 18 daqui quatro meses...

— 17?

— Sim...

— Deem a mão de sua filha ao meu filho...— E foi assim que a sala se afundou no mais profundo e assustador silêncio.

Os Hime arregalaram os olhos e se entre olharam com surpresa, os dois corações pareciam ter parado de bater por um segundo antes de voltar sua atenção para o Nakamoto sentado no fino sofá.

— D-d-dar a mão de minha filha...

— Ao seu filho?? — Pela primeira vez, a senhora Hime entrou na discussão, a voz tão fraca e chorosa quanto a de seu esposo.

— Não faz muito tempo que meu filho saiu de um relacionamento complicado...— Suspirou, com certo nervosismo — Sem contar que, infelizmente, meu filho parece não querer tomar conta de minha empresa quando mais velho...Então, penso que, se eu ainda estiver vivo e houver descendentes, minha empresa, pelo menos, terá um herdeiro com quem contar...

—M-mas eles são muitos jovens, digo...— O homem engoliu seco, tremendo — Essas crianças são jovens demais para um casamento, meu senhor...

— Não se preocupe, eu também tenho consciência disso...Vamos começar com um simples namoro, até que ambos tenham intimidade o suficiente para um casamento...

— Mas...— A Hime chamou a atenção de ambos os homens ali — Normalmente, jovens nessa idade não aceitam esse tipo de coisa...E se, eles negarem?

— Eu conheço bem o meu filho, e sei que ele não irá recusar tão facilmente...— Sorriu, maldosamente — Já a filha de vocês...Hum, não acho que ela tenha a opção de negar, não acham? — Riu, fazendo o casal se entre olhar — Apenas tenham consciência de que se ela não querer, vocês terão de pagar de outra maneira...E eu acredito que nenhum pai e nenhuma mãe gostaria de ver sua família morando na rua, certo?

Os Hime estremeceram ainda mais, olhando com medo para o homem, que por sua vez, ria da expressão assustada de ambos.

— Amanhã terá uma confraternização de negócios de minha empresa, levem sua filha...Se tudo der certo, Yuta e Ayumi serão apresentados como namorados ao público e começarão um relacionamento oficial...

Com rapidez, o homem se levantou, e após um suspiro pesado, sorriu com maldade e se direcionou para fora do cômodo.

— Ah...e não se atrasem...eu, particularmente, odeio atrasos...— Foi o que disse, antes que saísse do local.

Os Hime ainda estavam trêmulos. A mulher tentava segurar as lágrimas por sua filha, enquanto o homem cerrava os punhos com força.

— O que faremos agora? — A Hime resmungou, com a voz embargada.

Com delicadeza, o Hime entrelassou seus dedos com os da mulher, a olhando com a maior calma possível.

— Por agora...vamos para casa...

A japonesa olhou nos olhos fundos e castanhos do marido, e somente com esforço, pôde ver no canto de cada olho, um pequeno aglomerado de água salgada.

⇏ Como Não Ser Destinada Ao Seu Inimigo - Yuta ⇍ (REVISANDO)Onde histórias criam vida. Descubra agora