Capítulo 3 - Em Busca Da Verdade.

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   Após ligar para a manutenção e levarem dez minutos só para chegar, Kerman e Jace tiveram muito tempo no elevador. E se tem uma coisa sobre mulher que você não sabe é que nunca se deve prender duas delas no elevador por dez minutos. É tempo o suficiente para contar uma vida (claro que a de cada uma). O que se pode fazer se mulheres gostam de conversar?

   Ao desligar o telefone Jace sentou no chão pois já previa a demora para chamar os mecânicos e eletricistas. Graças a Deus havia outro elevador no prédio e essa demora não atrasaria o rendimento da empresa no mercado! Kerman então olhou pro rasgo no teto e encostada na parede do elevador foi se agaixando até que também se sentasse no chão.

-No que está pensando? - Jace perguntou.
-Em como vamos explicar esse rasgo num metal tão forte sem citar que seres saíram de um livro que eu escrevi.
-Mas é a verdade!

Kerman olhou pra Jace com face de desgosto e disse:
-Não diga...
-Tem razão, ninguém em sã consciência acreditaria na verdade. Mas o que planeja dizer então?
-Não sei. Que eu rasguei com essa faca brilhante para tentar sair num ato de desespero por ser claustrofóbica?!
-Tem fobia de lugares pequenos?
-Não! É só a desculpa. - Ela mentiu.
-Onde vamos encoder essa sua faca?
-É do Adam! Ele que não foi capaz de encontrar porque não era o momento certo.
-Não pode mandar ela de volta pro livro? Tipo como fez com o Andorian à pouco.
-Não! Você não entenderia.
-Parece que temos tempo para que explique.

   Jace olhou para Kerman sorrindo e ela sentiu que devia mesmo uma explicação para quem quase morreu por sua causa, então ela apenas retribuiu o sorriso e começou a explicar:
-Olha, se não entender pede que eu paro.
-Certo!
-Ou senão pede a minha secretária que ela te explica depois. Ela é boa para entender as coisas.
-Tomo como elogio?
-Tudo começou quando eu tinha cinco anos. Eu era a garota mais solitária da minha turma e pra piorar criei inimigos na alfabetização.
-Com cinco anos vocês ainda estudam alfabetização?
-Posso continuar? - Kerman perguntou e Jace deu de ombros.
-Eu desenhava muito bem, então minha vida se resumia a uma carteira na frente da professora, um papel e um lápis, até que minha mãe fosse me buscar. As vezes eu usava borracha, mas era raro eu achar que borrei um desenho.
-Desenhava bem assim?
-Não! Isso se chama ego! O meu era grande demais, enfim...eu fazia vários desenhos na escola, vários desenhos em casa, fazia todas as atividades e ainda arrumava tempo para brincar com as meninas da vizinhança. Mas não se confunda, não eram minhas amigas, procuravam brincar comigo pelos brinquedos que eu tinha, como filha única, meus pais não poupavam esforços para me ver feliz. Um dia eu senti que nada daquilo era real, que não era ali que eu queria estar de verdade, então criei dois amigos com caras bem redondas, cabelos longos e olhos grandes, assim quando me vissem, se não saíssem correndo eu saberia que estariam ali de verdade. Eles eram feios, mas eu os amava pelo que eram por dentro.
-Eram o Adam e a Solária?

-A princípio não se chamavam assim, esses foram os nomes que escolheram para si depois. Ia ser legal se eu pudesse escolher meu nome, mas Kerman é legal. Então eu criei a Linda e o Jhon, eles eram crianças como eu e mesmo depois de me ver, de me conhecer, de me estudarem...eles escolheram ficar. Então sem que meus pais soubessem eu criei esses amigos imaginários, sem saber também o quão real eles eram pra mim.
-Perai, Jhon tudo bem, mas Linda?
-Eu nunca soube escolher nomes.
-Mas você sabe que os nomes Solária e Adam que "eles escolheram depois" foi você quem escolheu.
-Você os viu! Como pode duvidar? Os olhos cinza do Adam, os cabelos vermelhos da Solária...eles nem sempre foram assim, ele pode estar de lentes, mas sei como ele era! Ele sempre indicou calmaria e ela a ferocidade! Nunca mudei isso! Por isso Adam não se estressou no restaurante.
-Tudo bem, mas eles ainda não tinham saído do livro quando escolheram os nomes, haviam?
-Tem razão! Não existia livro, nem informações o suficiente sobre eles para que saíssem do papel, mas eu os sentia reais! Eu podia vê-los, conversar com eles, eu sentia seu toque e tocava eles também. Ou seja, eu sempre fui meio louca.
-Eu os vi! Tá me chamando de louca?
-Quanto tempo tem que estamos aqui?
-Cinco minutos!
-Parece uma eternidade!
-O que aconteceu depois? - Jace perguntou anciosa.
-Ah, eh! Eles cresceram comigo até que eu tive a brilhante ideia de escrevê-los, mas comecei em preto e branco e depois colori! Eu os colori com lápis de cor, mas não era tão real, então eu os colori com palavras. Citar a cor dos cabelos de fogo da Linda fazia eles parecerem mais de fogo do que eram na minha imaginação, e como era um livro eu podia ousar, coloquei fogo de verdade nos cabelos dela e não só a cor. Para o Jhon, sua pele podia até ser clara, mas seus cabelos eram mesmo brancos como gelo dos mais altos picos e seus olhos cinza como a fênix. Um não era nada sem o outro apesar de terem poderes opostos. A Linda controlava o fogo, o Jhon controlava o vento e conseguia até fazer seu skate sem rodas voar mais alto que os aviões no céu, mais rápido que uma águia a caçar.

STAR - de onde surgem as estrelas - Livro 1Onde histórias criam vida. Descubra agora