STAR - de onde surgem as estrelas - Livro 1

Capítulo 24 - A voz da natureza

Jéssica não soltou Kerman em nenhum instante até pousarem seguros no jardim do castelo. A grama verde brilhava como se regada todos os dias. Pássaros voavam, cães, gatos e outros animais domésticos passeavam por todos os cantos entre os animais selvagens como se fossem amigos. Jace pisou no chão como se fosse a primeira vez que pisava em grama na vida, ela se sentou, depois se deitou e olhou para cima. Kerman sorriu vendo aquilo.
-É tão bom estar em terra firme! _disse Jace gritando.
-Eu disse que não te deixaria cair.
-Quando isso tudo acabar, me lembra de nunca mais topar ir pra lugar nenhum com você?!

Kerman pareceu triste ao ouvir aquilo, mas disfarçou bem pois apenas Scarlett percebeu interrompendo seu segundo de pensamentos.
-Vamos para dentro?
-Não podemos ficar aqui fora por mais alguns instantes? _Jace reclamou como criança birrenta.
-Você pode! _Michael disse_ Mas nós temos que organizar uma série de treinamentos para começar amanhã.
Kerman olhou para o horizonte ainda calada, pôs as mãos no bolso e começou a andar em direção oposta ao castelo. Michael, Andorian e Scarlett entraram para preparar as coisas enquanto Jéssica ficava lá deitada no chão olhando para cima e imaginando como era possível haver céu debaixo da terra.
Kerman andou em direção a uma grande árvore no centro do jardim, quase não notava mais a presença dos animais ao seu redor. Ela pensava "se eu já estive aqui, por que parece tudo tão novo? Como é capaz uma criança esquecer algo assim?".
-Impossível! _ela socou a árvore com a mão direita_ Não pode ser real! Onde está a parte em que eu acordo? _murmurava quase chorando_ Isso só pode ser uma pegadinha de mal gosto, tem um planeta dentro de um planeta! Eu simplesmente não posso acreditar nisso!
-Mas deveria_ uma voz delicada e masculina disse.
Kerman olhou ao redor, a pessoa mais próxima estava deitada no jardim há mais ou menos um kilometro de distância e nunca teria aquela tonalidade de voz... Chegava a ser...fofa!
-Quem está aí?
-Quem sempre esteve Sam. Não lembra de mim?
-Pode aparecer pra que eu possa te ver?
-Só se parar de me bater!
Kerman olhou para a árvore, tinha uma fruta estranha pendurada lá, analisou de cima até onde a raiz encontrava com a terra e voltou a olhar para o centro à altura de seus olhos.
-Paro! _Kerman respondeu._ agora vai dizer que árvores falam?
-Não!
-Então o quê?
-Não vou dizer! Não significa que não seja verdade! Tenho uma coisa para te dizer.
-Prossiga! _Kerman sentou ao lado da árvore.
-O éter te escolheu, mas não por escolha dele apenas. Todos somos um! A água, a terra, o fogo, o ar, o universo e o tempo! Ao criar uma pedra para si feita do material de todas as pedras existentes ele criou um desequilíbrio no universo inteiro. Nós contamos não só com você, mas com todos os outros para vencê-lo!
-Espere aí! Se Serpent usa a pedra para controlar os outros e fez a pedra com as pedras dos outros...então como ele obteve as outras pedras?
-Você as entregou! Nós confiamos a você o dever de proteger as pedras colocando elas dentro do seu livro! Mas você preferiu distribuir essa responsabilidade! Você entregou uma a Scarlett, uma a Solária, uma a Rachel, uma ao Adam, uma ao Thomas e uma ao Júnior!
-O filho do destruidor? Mas por que eu faria isso?
-Você não fez! Mas fará!
-Mas você disse que eu fiz!
-E fez! "Para conseguir a pedra do éter, você terá que pagar um preço bem caro por isso!"

Kerman enfiou a mão no bolso e puxou a pedra do éter de lá.
-Mas eu já tenho a pedra do éter!
-E o que você sacrificou por ela?
-Eu...
-Está em dívida conosco Samantha Kerman Stace! Ninguém pode ter tudo o que deseja!
Kerman olhou para Jéssica deitada no jardim.
-Tem razão! Eu já sei o que vou sacrificar pra isso!
-Boa sorte! _a voz falou como se sorrisse e se foi.

Kerman levantou e andou em direção a Jéssica no jardim. Sentou-se ao lado dela e ela se sentou também.
-Como se sente? _Kerman perguntou.
-Viva!
-E isto é bom?
-Me sinto jovem de novo! Mais jovem que o comum.
-Conheço a sensação. E o que tem vontade de fazer?
-Seria loucura dizer! _Jéssica olhou para Kerman.
-E por que precisa ser dito?
-Tem razão! Não precisa!

Jace se aproximou de Kerman e roubou-lhe um beijo quente, demorado e também correspondido. Kerman alisou seu rosto e disse:
-Me desculpa! Não queria estragar sua vida!
-E não estragou! Você é a única que traz emoção pra minha vida! Você me dá vontade de viver e de acordar novamente a cada manhã! Porque te ver todos os dias é a melhor coisa que pode acontecer comigo!
-A melhor?
-Bom... A segunda melhor!
-E qual é a melhor?
-Cala a boca! _Jéssica falou dando outro beijo em Kerman sem nem dar tempo pra ela responder.

Elas deitaram novamente no jardim ainda num beijo, lado a lado. Mas uma sombra cobriu elas duas e pararam para olhar pra cima.
-Temos quartos lá em cima! _Scarlett interrompeu sorrindo._Sério! Precisam ver uma coisa.

Kerman olhou mais uma vez a árvore enquanto levantava sem encostar as mãos no chão. Depois esticou a mão para Jace e a ajudou a levantar e foram as três para dentro. Jéssica fazia questão de não sair ao lado de Kerman por nada, ainda olhava os lados para ver se enxergava o Andorian andando por aí.
-Quanto mais thartaniano você é, mais claras as coisas ficam.
-Como assim Scar? _Kerman perguntou.
-É que as coisas por aqui desandaram quando você se foi, mas quanto mais claro fica que Thartan é o seu lugar, melhor as coisas ficam!
-Espere aí! Vim até aqui para salvar a Solária, não para...
-Mas você ficou para salvar o planeta! É o que importa!
-Não! Eu fiquei pra salvar o universo! Eu planejo voltar pra casa se tudo der certo!
-Você sabe que devia ter nos sacrificado lá embaixo né?
-Como você...
-Não, não escutei conversa alguma! Eu cheguei tão perto de conquistar a pedra do éter! Quase acreditei que ela podia ser minha! Eu teria encostado, teria ela pra mim se eu tivesse coragem pra fazer o meu sacrifício!
-O que era o seu sacrifício? _Kerman perguntou a Scarlett, mas ela fugiu do assunto abrindo uma porta e mostrando a Kerman o que a chamou para ver.
-Esta é a sala de treinamento do esquadrão! Esperava que...
-Que quando eu a visse resolvesse ficar? Que eu me lembrasse de algo?
-Não! Que começasse a treinar imediatamente. E que a Jéssica nos ajudasse!
-Peraí, eu? _Jace se assustou ao ser introduzida no assunto.
-Sim! Você não pode treinar conosco, mas precisamos de alguém na sala de controle!
-Não sei mexer em nada disso! _reclamou Jéssica com medo de acabar estragando alguma coisa.
-Tudo aqui é ativado por voz! Vamos registrar a sua e pronto! Não vai mexer! Vai nos surpreender pra reagirmos! Por isso não podemos ser nós mesmos! Concorda?
-Bom... assim eu concordo!
-Então vamos lá!
-Eu vou dar uma volta! Depois treinamos! Ok?
-Okay! _Jéssica e Scarlett concordaram.

Kerman foi andando pra um lado e as duas pro outro em direção a sala de controle. Enquanto Michael e Andorian descansavam um pouco da viagem, Jéssica aprendia a mexer nas coisas e Scarlett ensinava, Kerman voltou para o jardim afim de respirar um pouco mais o ar puro de Thartan. Ela pensou que Scarlett poderia ter razão! Será que ela era tão thartaniana que faria mais sentido ela ficar no planeta do que voltar pra Terra? E Jéssica? Teria que pelo menos levar ela de volta! Enfiou as mãos no bolso e sentiu algo crespo no bolso direito e uma pedra no bolso esquerdo. Tirou as duas e em uma estava a pedra do éter, ainda em ser formato losangular e na outra havia um pedaço de papel, o mesmo pedaço de papel que havera ganhado da figura estranha no quadro, o mesmo enigma que até agora não a ajudou em nada, mas que sempre continuava voltando pra ela e que ela sabia que deveria resolver.
Sentou na grama e respirou fundo olhando a árvore com a qual agora a pouco conversava. Olhou para cima e baby voava de um lado para o outro com os outros dragões. Olhou ao seu redor e viu os animais domésticos assim como os selvagens fingindo que ela nem estava ali. Seria esse o propósito de Kerman no mundo? Ser alguém invisível para todos ao seu redor? Se isolar num planeta onde todos a serviriam? Seria isso o que ela realmente queria ou voltar para a terra e viver como uma pessoa normal? Com todos os seus problemas e dificuldades. Respirou fundo mais uma vez! Deitou-se na grama e fechou os olhos.