Capítulo 8 - Lar 🏡

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Já dizia a Dorothy: não há lugar como nosso lar. Para um autista, seu lar é o único porto seguro. Em um mundo
caótico e turbulento, tudo naquele ambiente era familiar e previsível. Aos 22 anos, Bernardo, ainda morava com sua mãe, Marta. Desde muito pequeno, quando não entendia o significado de sorrir ou chorar, ele já sabia que nela podia confiar. Seu pai, um covarde, foi embora uma semana após o diagnóstico. Naquela época seria impossível prever que um dia , o garotinho estranho, se tornaria um policial estranhamente competente. Tudo se tornou um pouco imprevisível a cerca de 2 anos, quando sua mãe recebeu o diagnóstico de Alzheimer. Aos poucos ela foi esquecendo onde colocou a chave, esquecendo o bolo no forno... E chegaria um dia em que ela olharia para Bernardo e nem sequer saberia quem ele era. Só de pensar naquilo, o deixava inquieto, as vezes chorava e sempre fazia seu ritual de relaxamento. O detetive já havia pensando em namorar, tentou algumas vezes, mas nenhuma chegou nem perto de dar certo. Sua dificuldade para tocar outro ser humano atrapalhava tudo, ninguém queria um namorado que não pudesse beijar ou abraçar.
Sua mãe já estava dormindo quando ele chegou, como sempre o jantar dele estava no microondas. Tomou seu famoso banho de 30 minutos, no qual cumpria rituais de higiene no mínimo exagerados. Sentou para comer, hoje tinha cuscuz e frango frito, com um cafezinho levemente adoçado. Pegou seu bloco de notas, fez diversas anotações sobre o caso, terminou de comer, lavou seu prato e subiu para seu quarto. Deitou em sua cama, pegou sua "bola do pensamento", uma velha bola de tênis que ganhou da mãe, e começou a arremessa-lá para o alto. Pensou no caso durante algumas horas, foi quando teve um epifania. Levantou de depressa, correu até sua mesa de estudos, pegou uma caneta e circulou as palavras " Policiais" e "Praia". Abriu o notebook, entrou no Google, digitou um nome,entrou no primeiro link e viu que estava certo. Apanhou o celular, discou rapidamente e esperou. Foi atendido por uma voz sonolenta:

- A....lô....Você sabe... que horas são???

- 2:47 da manhã -Ele não entendia ironia

- Fala....logo!

- Eu sei quem ele é....

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