Capítulo 2 - O acidente

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Depois que voltou para sala, César até tentou, mas não conseguiu se concentrar na aula, simplesmente não parava de pensar em Milena. De repente, ele teve um ímpeto de querer saber mais sobre o acidente que acabou com a vida do namorado dela. Rasgou então um pedaço da folha do fichário, escreveu um recado e jogou-o no colo de Karina, sentada um pouco mais à frente na fileira ao seu lado.

"Como foi o acidente?"

Karina franziu o cenho e logo escreveu uma resposta, mas não a que ele queria, perguntou o motivo daquilo. Ele só a encarou com um olhar insistente, então ela cedeu e logo lhe lançou outro papelzinho com o recado: "Depois que essa aula acabar a gente conversa.".

Cerca de quinze minutos depois, os dois estavam na cafeteria em frente ao prédio. Provavelmente perderiam o começo da próxima aula, mas nenhum deles se importou.

– Talvez o Danilo ainda estivesse vivo se não tivesse sido na Marginal. Lá, o povo anda a 100 por hora, ainda mais à noite.

– Verdade. Quanto mais alta a velocidade pior é o estrago.

– Pois é... Mas era a hora do Danilo mesmo, porque o motorista do caminhão não sofreu nada. Agora, o carro dele ficou com a frente destruída e ele ficou bem machucado. Não chegou a ter traumatismo na cabeça, mas os ferimentos internos foram sérios. Ele mal conseguia falar.

– Nossa, que horror... E a Milena?

– Ficou arrasada, lógico. Não acho certo dizer isso, mas eu achei que ela fosse mesmo se matar. Nos primeiros dias depois do enterro, ela ficou de cama, sem comer, sem coragem pra nada. Daí a mãe dela chamou uma psicóloga e aos poucos ela foi recobrando o contato com a realidade.

– Que barra... Mas e o inquérito? Já descobriram a causa?

– Então... Isso também o maior rolo. A perícia diz que não tinha problema nenhum no carro e que o motorista do caminhão também não fez nada de errado.

– Ah, até parece!

– Pois é... Sinceramente, eu não estou muito a par do assunto. A Milena não gosta de falar sobre isso. Mas pelo que entendi já é quase certo que não vai rolar indenização. E o Danilo não tinha Seguro de Vida.

– Como assim não vai ter indenização?

Karina apenas balançou a cabeça numa negativa.

– Como eu disse tá tudo bem complicado nesse sentido, mas enfim, César... Eu acho melhor a gente voltar pra sala agora. Esse professor Jonas é muito chato e a prova dele um terror.

César tinha ficado intrigado com a história, mas concordou e então eles voltaram à sala.

ooOOOoo

Milena entrou em casa pelos fundos, com a ajuda de sua vizinha. Ficou então encostada na pia da cozinha, ao perceber que a mãe estava na sala, falando com seu irmão no telefone. Dali dava para ouvir a conversa. Diferente dela, Henrique era um ótimo aluno e, pelo que ouvia, acabara de ser efetivado na empresa na qual estagiava há pouco mais de um ano. Entre um e outro "Que maravilha, filho!", ela ouvia as exclamações e as risadas da mãe.

– Claro, ele é o orgulho da família, enquanto eu...

Chateada, do modo mais sorrateiro que pôde, Milena buscou refúgio em seu quarto, mas, em um ato mal calculado acabou batendo a porta e denunciando sua presença. Não se importou. Atirou-se na cama e meteu a cabeça embaixo do travesseiro.

– Não aguento mais, Danilo! Não aguento...

Começou a chorar e chorou até dormir de exaustão. Acordou por volta de meia noite, com o corpo dolorido. Ao se mexer, percebeu que seu gato estava ali na cama com ela.

Lutando por Justiça (Me Deixa Ficar no Lugar Dele)Onde histórias criam vida. Descubra agora