Capítulo 3 - Não gosto de injustiças

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No dia seguinte, Milena fez algo que não fazia há muito tempo: chegou cedo à faculdade. Ela aguardava o início da aula, sentada no lugar de sempre, ao fundo da sala, quase vazia naquele horário. Vez por outra alguém entrava ali, porém logo saía, com medo da cara de poucos amigos dela. 

Foi então que César Marques chegou, mas ele não percebeu a presença dela de imediato.

– Acabei chegando cedo... - ele falou sozinho.

Com um olhar desprovido de vivacidade, Milena apenas o observava. Ele trazia uma mochila muito usada nas costas que criava certo contraste com as roupas aparentemente de grife de elite e o All Star novo. Então aconteceu dos olhos deles se encontraram.

– Milena! - ele exclamou com um sorriso enorme. – Que bom que você também chegou cedo!

O sorriso dele era tão amistoso que quase derrubou o mau humor dela, porém, muito séria, ela disse:

– Bom dia.

Sem se incomodar com a frieza da saudação, César largou a mochila na primeira carteira da fileira ao lado da que ela estava e em algo próximo à velocidade da luz, veio até ela e se acomodou displicentemente na cadeira à sua frente, de modo que ficaram cara a cara.

– Bom dia! - ele respondeu descontraído.

Milena não disse nada e a proximidade a fez constatar que ele era mais parecido com Danilo do que imaginara. O fato suavizou um pouco a expressão dela, em uma reação involuntária, mas por poucos instantes apenas, logo ela voltou a fechar a cara.

– Quer minhas notas de aula pra copiar a matéria de ontem? - ele ofereceu gentil.

– A Karina já me passou - rebateu seca.

César olhou ao redor, procurando pelos materiais da colega. Não encontrando nada, perguntou confuso:

– Ué, mas a Karina já chegou também?

– Não. É que ela trabalha em uma empresa perto de casa e deixou a matéria comigo ontem.

César assentiu ainda sorrindo simpático e Milena não gostava do comportamento dele, que parecia ignorar a realidade de que mal se conheciam. Embora intuísse que ele apenas devia ter um perfil mais extrovertido, a situação começou a incomodá-la.

– Milena, posso te fazer uma pergunta que vai soar um pouco estranha?

– Melhor não.

– Ah, por favor, não é nenhuma gracinha.

– Se ia falar de qualquer jeito, então por que pediu permissão?

O rapaz chegou a se encolher. Milena reconhecia que estava sendo exageradamente azeda, mas não conseguia se controlar. Antes ela costumava ser amistosa com todos, mas a morte de Danilo modificou drasticamente sua empatia com as pessoas, e para pior.

César desviou o olhar para o lado e comentou com voz séria:

– Karina me contou que o seu namorado morreu em um acidente de carro...

Pega de surpresa, Milena demorou um pouco para reagir, mas então retesou a postura e exclamou furiosa:

– Escuta aqui, cara, isso não é da sua conta!

Diante de tanta fúria, César ficou quieto.

Milena suspirava de raiva e estava a ponto de se levantar e sumir dali de novo, mas continuou sentada quando ele retrucou, tranquilamente:

– Não é mesmo, mas talvez eu possa ajudar com o processo judicial. Fiquei sabendo que a situação está bem complicada...

Ainda mais surpresa, ela rebateu:

Lutando por Justiça (Me Deixa Ficar no Lugar Dele)Onde histórias criam vida. Descubra agora