— Então, você é o tutor do Aghi? O famoso senhor Todorov?— Perguntou, Miguel.
— Sim, é um prazer conhecer você. Acredito que esteja cuidando dele, certo?
— É, estou sim, nossa. Muito prazer, eu sou o Miguel.— Miguel apertou a mão do homem, apesar da idade tinha firmeza nas mãos. — Não é maravilhoso, Aghi? Ele te encontrou!
Então, percebeu que o amigo estava chorando, não um choro de alegria por encontrar um familiar querido, suas lágrimas eram de terror. Seus olhos estavam esbugalhados, a boca tremia de uma forma estranha. Era como se a visão de um fantasma tomasse o lugar.
— Não, não, não. Vocês não precisavam ter feito isso. Eu fui embora. Eu fui embora, achei que ele estaria a salvo. — Aghi, dizia tais palavras confusas em meio ao choro.
O garoto caiu no chão de joelhos. Estava desesperado.
— Aghi, o que tá acontecendo, esse não é o senhor Todorov?
— Acho que ainda está ressentido comigo, certo? Me perdoe, filho. Agora estou aqui pra você.
A chuva ficava mais forte, mas nenhum dos três aparentava ter o desejo de procurar abrigo. As palavras do homem, despertaram a atenção de Aghi que focou seu olhar triste para a figura do homem a sua frente.
— Você sabe que eu nunca ficaria com raiva dele. Vocês não precisavam fazer isso. Ele era um bom homem. Vocês corromperam a alma dele, não era o suficiente?
— Filho, eu não sei o que você está dizendo. — Interrompeu o homem.
O velho se agachou para abraçar o ombro do garoto, a essa altura Miguel não sabia o que fazer. Obviamente, pela descrição do próprio Aghi, aquele era o senhor simpático e amável que criou a criança na ausência dos pais. Contudo a recepção do amigo era a mais aterrorizada possível, como apenas alguém em pânico poderia oferecer.
O garoto empurrou a mão de Todorov, se afastou imediatamente. Aquilo pareceu a deixa para uma intervenção.
— Olha, senhor. O garoto não parece bem. Acho melhor nos encontrarmos amanhã com todo mundo calmo. Hoje foi tudo meio agitado, estamos nesse cemitério porque alguém atacou os túmulos dos meus pais.
— Ninguém atacou o túmulo de seus pais, jovem Miguel. — Interrompeu o velho.
— Como é, que é, cara?
— Sua mãe, meu jovem. Ela está viva, ela veio pra você.
Aquilo era tão absurdo, que Miguel não reparou a névoa contornar o seu redor, lentamente. Secava o rosto com os braços encharcados, enquanto, perplexo, encarava o autor daquelas palavras.
— Minha mãe morreu, meu senhor. Ela estava enterrada aqui até algumas horas atrás. Era bem ali.— Tentava apontar mesmo com a visão limitada.
— A morte não foi suficiente para separar Joana de seus filhos, ela está aqui essa noite.
Joana? Como diabos aquele senhor sabia o nome de sua mãe? Nada daquilo fazia sentido.
— Não use o nome da minha mãe! Você é uma daquelas aberrações? Por isso o garoto tá desse jeito? O que aconteceu com o homem que criou o Aghi?
— Eu sou Alexandro Torodorov. Não sou um Carniçal, sou um amigo. Da mesma forma que o presente que eu te trouxe essa noite é uma verdadeira benção.
— Que presente?
Fixou os olhos em Aghi esperando alguma explicação plausível, e não encontrou nada. O garoto parecia fechado em seu próprio mundo sussurrando não e não enquanto balançava a cabeça. Nem a água fria parecia distraí-lo.
— Que presente, merda? — Insistiu Miguel.— Do que você tá falando?
— Por que não vai conferir com seus próprios olhos? — Apontou para uma árvore encoberta pela névoa.
Fixou os olhos e com dificuldade enxergou um vulto, aos poucos a visão se tornava menos turva e era capaz de ver, alguém além dos três estava naquele cemitério.
— Tem alguém ali?
— Não é qualquer pessoa, você deveria ir ao encontro dela, rapaz.— A voz do homem se tornara doce, quase hipnotizante.
Resolveu atender o conselho e se encaminhou lentamente naquela direção, à medida que se aproximava podia reconhecer uma figura feminina de cabelos longos, usando um vestido branco.
— Quem? Quem está ai? Apareça logo.
Foi quando a voz,aquela voz, tomou seus ouvidos de assalto.
— Miguel, meu filho. Você está tão lindo.
Era única. Era som da boca dela, sua mãe.
Mesmo com todos os anos, mesmo com o barulho da chuva, era inesquecível: aquela voz pertencia a Joana. A medida que se aproximava notava que aquela mulher era sua mãe. As roupas, a altura, aquela voz, ainda que algo esteja diferente no tom, a sonoridade era levemente mais intensa.
— Mãe? Mãe, é você mesmo?
Um raio cortou o céu entre as nuvens escuras e a ausência de estrelas, o som alto mal pôde ser percebido por Miguel, sua atenção estava voltada para a mulher cujo o rosto não podia ser visto.
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****PRÓXIMO CAPITULO 19/05****
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Ômega - O Guardião Santo (Fantasia/Suspense/Sobrenatural)
FantasyUm livro de Fantasia Urbana. { VENCEDOR DO PRÊMIO WATTYS 2018} Atenção: Esse livro não é sobre Lobos e esse tipo de coisa... E se eu lhe dissesse que Deus tem um nome? Uma única palavra e todo um Universo escondido se mostrou para uma pessoa: uma si...