A palavra morte é muito mais forte. Quando ouvida pela alma, dói, machuca, tormenta. Sinto um nó na garganta, minhas narinas ardem, meus olhos queimam, logo as lágrimas brotam.
A morte é ingrata, maldosa, fria, incalculável e, saber que nunca mais verei minha avó Cyzina me deixa pior, corta meu coração. Um pedaço de mim foi embora no momento que ela foi enterrada naquele túmulo frio num dia chuvoso e triste.
Toda família sofreu nesse momento, mas eu era a mais apegada a ela. O chão me falta aos pés, pois não perdi somente uma avó, e sim uma amiga, confidente.
Antes do falecimento de vovó Cyzina, nossa família já estava de mudança marcada. Meu pai recebeu uma ótima proposta de emprego em Louisville Kentucky, então estaremos partindo de Maryland em poucos dias. Por um lado será boa essa mudança, aqui já não tem graça sem a vovó.
Hoje já faz uma semana desde que ela se foi e, daqui a três dias, iremos embarcar de vez. Minha mãe Keyth está organizando as coisas nas caixas, parando toda hora para chorar e perguntando uma série de "por quês". Meu pai John perdeu os pais aos dezessete anos e diz ter sofrido muito desde então. Ele sempre consola a mamãe e dá todo apoio a mim e aos meus irmãos, Bryan e Erik.
Sou Kallyna Ruschel, tenho dezoito anos, e não estava preparada para passar por isso. Acreditei que teria as pessoas que amo para sempre junto de mim.
— Filha querida, desce para comer. — minha mãe diz entrando no quarto.
— Não sei se quero comer, mamãe. — meu estômago parece ter se fechado de tanto chorar, sei que não consigo engolir nada, muito menos comer.
— Faz um esforço, meu amor. — minha mãe me abraça e beija. O calor do seu corpo é bom e confortante, seu cheiro me lembra a vovó, aquele tom de lavanda no ar.
De tanto minha mãe insistir, eu desço e como umas torradas mesmo com a dor insuportável na garganta, que parece se fechar a cada dia mais. Resolvo sair para encontrar meus amigos.
Nosso ponto de encontro é num bar na praça Millak bastante aconchegante e cheio. Temos nosso lugar marcado, debaixo das árvores.
— Oba! Kallyna, que maravilha te ver aqui! — meu melhor amigo Dimitry Merten vem até mim me cumprimentando com aquele abraço de urso.
— Olá, Dimitry, tudo bem? — pergunto já com lágrimas nos olhos. Ele me abraça, conforta e diz que tudo ficará bem.
Nos sentamos e, aos poucos, a turma vai chegando, primeiro Alexia Lanius e Cristiny Barker, amigas de infância e depois Luka Bransky, que já vem fazendo todos gargalharem.
— Fico muito triste em saber que irá embora, amiga, mas, ao mesmo tempo, consigo ficar feliz, pois essa mudança ajudará muito sua família. — Alexia diz me abraçando forte.
Logo Cristiny também vem e as lágrimas brotam em nossos olhos. Somos o trio perfeito, amigas inseparáveis desde sempre.
— Irei sentir falta de vocês, meninas. — digo soluçando.
A noite foi maravilhosa com eles, me senti aliviada, e já deixamos nosso último encontro antes da minha partida marcado, sei que será só choro, mas não tem como fugir. Chego tarde em casa, todos já dormem, entro com cuidado e vou direto para o banheiro. Ao ligar o chuveiro, choro e deixo a água cair. Me sento no chão e meu coração dói muito. Depois de trinta minutos, saio do banho, visto um baby-doll e caio na cama.
Vejo a caminhando em direção a um canteiro de rosas vermelhas, extremamente feliz, serena. Minha avó Cizyna, vestida com lindo vestido branco, seus cabelos grisalhos caindo na altura dos ombros, suas covinhas perfeitas na bochecha a mostrar um sorriso. Não aguento tanta aflição e grito:
VOCÊ ESTÁ LENDO
Sonhador Adormecido (degustação)
FantasiKallyna Ruschel é uma linda jovem, uma mudança para uma nova cidade faz com que precise deixar todos a quem ama para trás. O destino reserva surpresas na vida dela e, na nova casa ela começa a receber cartas de amor endereçadas a ela. Quem seria o a...