Capítulo 1 - Calouros

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Por muito tempo, busquei as palavras perfeitas para compor estes capítulos, e tal empreitada revelou-se um dos maiores desafios que já encarei. É aqui que se inicia a narrativa dos dias mais intensos que já vivi nesta Terra.

Lembro-me com vívida nitidez do meu primeiro encontro com essa nova fase da minha vida. Era como se, ao atravessar os portões daquele imponente edifício de tons azuis e brancos, todo o meu mundo começasse a transformar-se.

Naquele dia, a ansiedade me dominava completamente, pois era o começo da minha jornada na faculdade de Letras, na cidade vizinha. A verdade é que, inicialmente, minha maior vontade era simplesmente terminar o ensino médio e descansar a mente da incessante rotina de estudos, das preocupações com provas e da convivência com pessoas indesejáveis que transitavam em minha vida. No entanto, meus pais conseguiram persuadir-me de que seria mais benéfico para o meu crescimento pessoal e profissional seguir adiante sem pausas ou permitir que meus neurônios relaxassem.

Na semana que antecedeu o início das aulas, a ansiedade cresceu de forma avassaladora, impulsionando meu anseio por conhecer meus colegas e enfrentar o que o futuro reservava. Entretanto, o que me causava mais temor era a inevitável adaptação.

Naquela manhã, levantei-me assim que a aurora pintou o céu. A noite havia se estendido interminavelmente, e a ansiedade consumia-me vorazmente. Meu celular estava repleto de mensagens de Mavi, minha melhor amiga, lamentando minha ausência no almoço de domingo em sua casa. Ela organizara uma despedida com alguns de nossos colegas, mas eu tinha exagerado nos queijos e doces na casa da avó Lourdes, o que resultou em um turbilhão de desconforto estomacal.

Silenciosamente, desci as escadas, temendo acordar meus pais. Em nossa casa, acordar cedo não era uma tradição, especialmente após um mês de paz e sossego, onde nossa rotina começava depois das dez. Naquele dia, contudo, a realidade era diferente, e eu tinha que acordar às seis.

Minha mãe, sonolenta, apareceu logo depois.

— Bom dia, minha filha! Como você dormiu?

— Bom dia, mãe. Não dormi bem. Mal consegui fechar os olhos. A ansiedade tomou conta de mim à medida que o relógio avançava, e o sono parecia se esquivar. Tenho medo de que tudo dê errado.

— Fique tranquila, Raíssa! Medo do quê?

— Tenho medo de não me adaptar, de não conseguir acompanhar as matérias, de não fazer amigos, de não ser aceita – revelei em um só fôlego.

— Não se atormente assim! Você sempre sofre antecipadamente, mas no final das contas, tudo costuma se resolver. Lembra do seu famoso "bem que você falou, mamãe!" – disse ela, imitando-me de forma cômica.

Não pude evitar um sorriso, que logo se desfez ao suspirar profundamente.

No trajeto até a universidade, começamos a imaginar como seriam os professores, inventando figuras engraçadas e outras nem tanto, o que nos proporcionou risadas valiosas.

Finalmente, cheguei à esquina da instituição. Centenas de estudantes adentravam o imenso edifício com sua fachada azul e branca, ostentando orgulhosamente o nome da da universidade no mesmo tom de azul. O campus era adornado por um amplo jardim, que, devo confessar, conferiu ao lugar uma atmosfera acolhedora.

Caminhei até a imponente escadaria que levava ao portão de entrada do pátio. Busquei meu nome no painel, encontrando-o entre os numerosos alunos da turma. Uma simpática senhora nos recepcionava calorosamente, revelando-se, mais tarde, como a coordenadora do curso.

O prédio era grandioso, nada semelhante à minha antiga escola. O assoalho de madeira rangia suavemente sob nossos passos, permitindo-nos escutar as conversas alheias. Nos corredores, meus olhos exploravam as portas das salas de aula. Pessoas abraçavam-se, outras chamavam pelos nomes de seus amigos, e ali eu estava, sozinha e incapaz de encontrar minha sala. Após uma busca persistente, localizei a sala número onze. Ao entrar, observei diversos estudantes, mas duas jovens chamaram minha atenção. Tentei encontrar traços familiares em seus rostos, e tive a sensação de já tê-las visto em algum momento da minha vida.

Aos olhos de RaíssaOnde histórias criam vida. Descubra agora