Em uma das aulas, nossa coordenadora gentilmente nos entregou uma folha minuciosamente elaborada, delineando as próximas datas de avaliações que nos aguardavam. Surpreendentemente, a primeira prova da semana estava sob a responsabilidade de Cecília.
Um murmúrio coletivo ecoou pela sala, uma vez que a perspectiva de avaliações tão precoces causava inquietação. Recém-introduzidos a esse novo universo acadêmico, confesso que minha relação com as complexidades gramaticais não era das mais amigáveis. As inúmeras regras, frequentemente pontuadas por exceções, representavam um desafio considerável. Minha verdadeira paixão residia nas histórias que a literatura oferecia, na magia contida nos livros e nas mentes brilhantes dos renomados escritores.
Enquanto minhas amigas expressavam entusiasmo pela professora Balfoz e pela encantadora disciplina que ela oferecia, minha devoção estava voltada para somente a nossa estimada docente. Era a ela que eu dedicava uma veneração sincera e uma profunda admiração.
— Já conferiram o calendário das avaliações? — indagou Mariana.
Estávamos ansiosas pela iminente aula de gramática, tentando antecipar os temas que seriam abordados nas próximas provas. O entendimento compartilhado por minhas amigas foi confirmado por uma troca de olhares, seguida por expressões de desagrado.
Nossa conversa foi abruptamente interrompida pela entrada de Cecília na sala. Seu tom de voz, normalmente caloroso, estava agora impregnado de firmeza, e seus olhos exibiam uma expressão única, indefinível. Talvez tenha sido apenas uma percepção momentânea.
— Bom dia, pessoal. Peço que organizem a sala nas fileiras corretas, sem ficarem amontoados. Meu intuito hoje é fazermos nossa primeira revisão dos conceitos da morfossintaxe.
Não era a mesma professora cativante que adentrava a sala com um sorriso contagiante, provocando risadas entre os alunos. Cecília parecia diferente, mais reservada. Ponderei se talvez não estivesse se sentindo bem, e se eu deveria perguntar se estava bem.
Arqueei meu corpo em direção a Luíza e sussurrei:
— Impressão minha, ou Ceci não está bem. Está diferente.
Luíza assentiu, dando de ombros, demonstrando carregar a mesma falta de conhecimento dos motivos que eu.
Enquanto Cecília iniciava a revisão, meu olhar permanecia fixo nela, tentando decifrar os sinais que indicavam sua alteração de comportamento. Ela conduziu a aula de maneira meticulosa, explicando os conceitos com a mesma competência de sempre, mas havia algo sutilmente diferente.
Ao final da aula, quando os alunos começaram a sair, decidi abordar Cecília com discrição, preocupada com seu bem-estar.
— Ceci, posso acompanhá-la até a sala dos professores? Parece que algo a está incomodando, e eu gostaria de ajudar se possível — ofereci, procurando manter um tom respeitoso e preocupado.
Cecília sorriu, agradecendo a gentileza, mas minimizando a situação.
— Raíssa, querida, não se preocupe. São apenas questões pessoais que estou tentando resolver. Agradeço muito sua preocupação.
A resposta dela não dissipou completamente minha inquietação, mas respeitei sua privacidade, reconhecendo que nem todos os momentos difíceis precisavam ser compartilhados. No entanto, permaneci alerta, observando-a de longe enquanto se encaminhava para a sala dos professores.
Nos dias que se seguiram, a energia na sala de aula permaneceu tensa, e Cecília continuou a apresentar sinais diferente. Não deixou de ser carinhosa, mas ainda estava distante.
Decidi, então, usar a oportunidade de uma aula para expressar minha preocupação de forma mais sutil. Durante uma pausa, enquanto respondíamos a lista de exercícios, decidi abordar o assunto delicadamente.
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Aos olhos de Raíssa
RomansaNeste romance, conhecemos o contraponto entre o amor proibido e a inocência. Ele revela uma perigosa atração de Cecília, uma pacata professora e sua aluna Raíssa. Esse sentimento faz com que Cecília conheça um romance nunca vivido. Explorar seus mai...