Capítulo 2 - A foto

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Perambulei pelos caminhos arborizados do campus, contemplando cuidadosamente o delicado entrelaçamento dos ramos das árvores. Em apenas uma semana na universidade, estabeleci um círculo de amizades animado com Luíza e Mariana. Descobri que o universo mágico do final da adolescência não era tão encantador como inicialmente imaginado. Senti-me como se tivesse sido retirada abruptamente da minha zona de conforto e inserida em um turbilhão de responsabilidades.

Na terça-feira, deparei-me com a extensa lista de livros necessários para as aulas, surpreendendo-me com a quantidade – mais de sete livros apenas para uma disciplina.

O dia estava nublado, com poucos raios de sol, indicando a proximidade da chuva. Era o fim do verão e o início do outono, embora o clima ainda permanecesse quente. Enquanto observava a perfeição das rosas no canteiro de flores, deparei-me com um gracioso beija-flor, que parecia exibir-se diante dos meus olhos. Rapidamente, peguei minha câmera e, de maneira sutil, capturei uma única e rara foto. O pequeno pássaro não hesitou em voar após posar para a mais bela imagem. Fotografar preciosidades aos meus olhos e eternizar os momentos mais lindos não tem explicação.

Um grupo de professoras aproximou-se de mim, todas do nosso curso. Embora falassem em tom baixo, seus gestos expressivos e sobrancelhas erguidas denotavam surpresa.

Ao lado, Luíza, sorrateiramente, espiou minhas mãos para ver o que capturava minha atenção. Não me surpreendi, pois já a havia visto minutos antes vindo em minha direção.

– Quando irá fazer minhas fotos? Juro que posso ser uma ótima modelo – disse ela, com um sorrisinho.

– Posso pedir à minha secretária para marcar um horário na agenda.

Rimos das nossas expressões.

Nosso ato atraiu a atenção das docentes que se aproximavam. Silenciaram sobre o assunto que segredavam e passaram a interagir conosco. Lembro-me dos sorrisos delas, das vozes suaves e do carinho que recebia.

Diante dos meus olhos formou-se uma linda e delicada cena. Sob as árvores floridas e justapostas, as docentes posicionaram-se lado a lado - uma bela foto, eu diria - iluminadas pelos poucos raios de sol.

– Por obséquio, eu poderia tirar uma estonteante fotografia destas belíssimas damas? – proferi sorrindo enquanto sacava a câmera fotográfica.

– Ora, mas é claro! – disse uma delas.

Cecília estava entre as professoras, sorridente e bonita como sempre. Seus olhos pareciam se iluminar à medida que me aproximava com a câmera. As organizei da maneira como achei adequada. Uma das professoras carregava uma sacola, então achei apropriado entregá-la a Luíza, mas não retirei os livros de suas mãos, pois traria uma essência exatamente a qual eu desejava.

Após minutos de ajustes, angulei a câmera e fiz a mais doce foto, a qual guardei como uma joia raríssima e valiosa. Nela trabalharia horas mais tarde.

– Quero vê-la. Como ficamos? – disse nossa professora de linguística.

– Ficamos lindas, com certeza. Posso assegurar que Raíssa tem um olhar preciso para fotografias. – confessou Cecília.

Sorri, sentindo as maçãs do rosto corarem, à medida que todas lançaram-me olhares curiosos.

– Não mostrarei agora, pois quero trabalhar na edição e outros elementos da foto, mas posso prometer que em breve vão vê-la.

– Promessa é dívida. Afinal, não é todo dia que terá modelos tão graciosas como nós – brincou Cecília, fazendo-nos rir.

Naquela manhã, nos despedimos, mas por alguma razão não consegui me despedir daquela foto. Passei a maior parte do tempo com ela em minhas mãos, olhando cada detalhe que a compunha. Luíza implorou-me para vê-la, e com muito custo deixei.

Aos olhos de RaíssaOnde histórias criam vida. Descubra agora