Capítulo 6 - Sinais que confundem, e uma xícara de café

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No final da última aula, mergulhei meu rosto entre as mãos, como se buscasse abrigo. A fadiga, persistente e envolvente, era evidente, se entrelaçando com a tarde. A semana, apenas começada, se desdobrava diante de mim, mas o desejo de acalmar meus pensamentos no fim de semana era notável.

Ao lado do gigantesco auditório havia uma sala dedicada a cursos complementares, como aquele gentilmente oferecido por Cecília. Cruzamos a entrada e percebemos que havíamos chegado no momento certo. Diversas pessoas ocupavam os assentos com precisão, revelando ser, sem dúvida, o espaço organizado da senhora Balfoz. Escolhemos nossas mesas e aguardamos em silêncio, imitando os gestos dos mais experientes. Como calouros, notamos apenas mais dois além de nós.

Minhas amigas guardavam o último livro na mochila enquanto percorríamos os olhos pela sala. Sussurramos nossa ansiedade, e elas me revelaram a felicidade em minha escolha de aceitar fazer o curso.

Contar a elas que minha escolha era exclusivamente por Cecília seria confidencial demais.

A professora, com pontualidade, entrou na sala carregando volumes encadernados e seus livros favoritos. Seus trajes, antes formais, deram lugar a vestes leves e descontraídas, conferindo-lhe uma essência de despretensiosa elegância.

Meus olhos baixaram-se para minhas mãos em sinal de fuga, que passou a ser minha estratégia para enganar minha imaginação. Não queria que ninguém percebesse, queria controlar para não fracassar em meus planos.

Cecília aproximou-se de mim, fazendo me encolher os ombros e iniciar rabiscos aleatórios na caderneta. Consigo me lembrar com exatidão a fragrância que a acompanhava por todos os lugares e que corroía o mais íntimo dos meus desejos.

Dei uma rápida olhada no seu comportamento. Cecília distribuía folhas, e fui a última a recebê-las, seguindo a direção que ela tomou. Notei um sutil e doce sorriso, daqueles que nos faz suspirar.

Vez ou outra ela perambulava ao redor das cadeira, observando a maneira como cada estudante resolvia os exercícios complexos. Carregava uma gentileza e doçura, e pude ver olhos fascinados aos seus gestos, venerando o carinho da docente. Cecília escrevia pequenos truque nas orações posta no quadro, sempre exemplificando aqueles em que se encontravam nas folhas entregues no início da aula. Depois permaneceu por um bom tempo diante de sua mesa, não longe dos meus olhos. Explicava sempre coisas difíceis de uma forma simples e que colava em nossa memória magicamente.

Eu não conseguia desviar os olhos por muito tempo. Queria lhe dedicar minha veneração também, contemplar minha razão com aquela belíssima imagem. Envolta em meus próprios desvios de sanidade, desejava, constantemente, dizer a ela o quanto era linda, tocar em sua pele e sentir o furor percorrer minhas veias até não poder mais me afastar.

Tão cedo, ou apenas desperto, meus sentimentos por ela tornaram-se bem mais do que o conhecido carinho de sempre. Eu estava tão encantada por ela e me perguntava como não percebi a mulher extraordinária que era antes.

Conforme íamos terminando os exercícios, Cecília nos deixava ir.

Constatei que a sala ficaria vazia em minutos e eu ainda não me aproximava da metade. Minhas amigas, por exemplo, acabaram e foram logo se levantando, me deixando sozinha. Na verdade, uma das regras de Cecília era nunca permanecer em sala após a finalização das atividades, pois com certeza o desejo de conversar sobressairia a ética de não atrapalhar os que buscavam concentração para as tarefas.

A solidão começou a me deixar nervosa. Verifiquei os permanecentes, e éramos três.

Ela se levantou sutilmente ao ver meus olhos curiosos, sorriu e aproximou-se, dizendo:

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⏰ Última atualização: Jul 22 ⏰

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