{Eldarya} Coração de Cristal

{Capitulo II} Nada mais é como antes

No meu mundo, era normal acordar com som de pássaros, de carros, cachorros, até mesmo de gritaria de vizinhos ou o andar pesado dos sapatos sociais do meu pai no corredor. Aqui, também acordo com sons relativamente parecidos. Os animais definitivamente não são como os que cresci conhecendo; aqui é como se fossem todos híbridos. A gritaria de vizinhos já se resume nas pessoas treinando na Praça que a minha janela dá visão. E o andar no corredor já é substituído pelo pesar das botas de combate.

Porém hoje, acordo quase que por instinto, já acostumada à rotina de acordar com o sol. As baforadas quentes de Kida também ajudam o despertar. Kida, minha mascote e companheira. Ainda uma pequena Owlett. Um animal no qual Eldarya fez uma mistura esplêndida. Quase como por destino, seu corpo se mistura ao azul, branco e dourado; minhas cores favoritas. Um híbrido, uma face meio que de uma coruja, num corpo de um tigre, onde as cores alternam entre dourado e azul. Asas ainda para se formarem, e um rabo que as vezes penso só ter a utilidade de fazer a dona tropeçar nos corredores do prédio.

Quando chegou o dia para eu escolher meu mascote, pouco depois de eu começar a fazer parte da guarda, eu não fazia a menor ideia de como escolher, ou o que me esperaria. Escolhi por instinto. O primeiro ovo que me chamou a atenção. Não pelas cores, ou tamanho -mesmo porque era o menor de todos-, me chamou a atenção por ser o solitário. Tinha vários ovos parecidos. Ele era o único. Segundo Keroshane, ele era muito raro. Acharam o ovo largado a floresta. Aparentemente cuidar de um owlett era trabalhoso. Tanto pela dificuldade de doma-lo quanto pelo fato de ser imprevisível. Ele estava sozinho e perdido. Assim como eu estava nesse novo mundo.

Kida tropeça nas próprias asas e cauda, animada, rodando pelo quarto quando percebe que eu finalmente estou levantando. Vai ao sofá embaixo da janela, e olha para baixo, e depois para mim. Quer passear! Já está grande e madura o suficiente para eu mandá-la para explorações, e alguns treinos de obediência, mas ainda ama simplesmente caminhas ao meu lado. O sentimento é recíproco.

-Bom dia, amigona! -eu lhe afago a cabeça, observando a vista de fora. Realmente está um belo dia.

Troco de roupa o mais rápido que posso. Quero terminar a caminhada e tomar café antes que a cantina encha, e eu fique com as sobras. Karuto ainda não me perdoou totalmente pelo incidente passado em que eu o coloquei para dormir junto com todo o QG. Então duvido que se daria ao trabalho de aquecer mais um pão e leite se eu chegasse depois das tropas.

-Vamos! -chamo Kida, abrindo a porta e lhe dando passagem. Ela corre como uma criança indo para uma festa, quase batendo na parede do outro lado do corredor.

Como imaginei, o Corredor da Guarda ainda está vazio. Um ou outro membro sai para uma caminhada, ou treinos duros antes do sol ardente do verão que faz aqui. Vejo Ewelein próximo a entrada para a Sala do Cristal. Ela me recebe com um bom dia caloroso, e um carinho nas costas de Kida. Sempre irei admirá-la; o quanto trabalha duro e consegue dormir tarde e acordar tão cedo, sem deixar rastros de olheiras, e a força de sempre se manter disposta.

Kida também sai em disparada assim que vê Kareen. A garota vampira se sobressalta com a aproximação. Pelo seu olhar de um lado para o outro, tenho certeza que já estava espionando alguém, de olho em alguma fofoca.

Balanço a cabeça. Essa garota nao tem jeito, mesmo depois de toda a confusão que causamos.

Continuo a caminhada. Saindo do QG, e seguindo pela rua principal entre os prédios do mercado e do vilarejo. Quando chegamos perto do Quiosque Central, Kida corre para beber água na Praça da Música. Sento em uma das pedras próximas. Aqui fora também já tem um movimento grande para a hora. Observo o céu azul, quase limpo de nuvens. A calmaria aconchegante do lugar. Fecho os olhos por um momento para saborear a brisa com cheiro da Cerejeira Centenária,do outro lado do parque. Mesmo daqui, o cheiro é forte e constante como se estivesse na minha frente.