{Capitulo III} Apenas acorde

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Cada musculo do meu corpo vibra a cada respiração. Nevra aperta minha mão com tanta força, que meus dedos doem, amassados um contra o outro. O leve movimento de olhar para trás e para os lados, para ver algum jeito de correr dali, me faz tremer com os rosnados dos Blackdogs, seguindo meus movimentos. Um dos subordinados de Naytili faz questão de fazer bastante barulho ao puxar ainda mais a flecha em seu arco. Pronto para solta-la a qualquer momento.

O único pensamento positivo que consigo ter, é em agradecimento por Chrome ter voltado antes de entrarmos nessa emboscada. Mas é insuportavelmente desconfortante não poder nem ao menos nos movermos, não estarmos prontos para uma situação dessas. Sem meu arco, e Nevra sem conseguir nem ao menos alcançar seu punhal. Parecemos duas crianças morrendo de medo.

-Ai ai... Não são tão valentes longe daquele pedaço de pedra brilhante, não é mesmo? - Naytili esfrega uma mão na outra. Sei que em sua cabeça deve estar pensando em como nos atacar.

Dou uma respirada longa, tentando desesperadamente me acalmar. Dou um passo à frente, saindo da retaguarda de Nevra. Estufo o peito, e solto de sua mão. Já enfrentei essa bruxa, não posso fraquejar agora. Temos que arranjar um jeito de sair daqui inteiros. Eu praticamente fui alertada pelo Oraculo que deveria vir, sendo assim, deve haver algo que eu possa fazer. Algo que eu deva fazer.

Olho bem pelo canto do olho, e consigo ver o lumiar da adaga presa a cintura de Nevra. E sei que ele deve ter mais uma escondida em sua bota. É uma esperança, mesmo que pequena.

Naytili estreita os olhos, e me encara por um longo tempo.

-Aparentemente, esses pedaços de carnes mortais são mais corajosos do que imaginei.

Olho para Nevra, e lanço o olhar em direção a sua cintura e botas, e volto ao seu rosto. A linha de sua boca se curva discretamente. Ele entendeu.

Coloco toda a velocidade e agilidade que posso em meus movimentos. Saco a adaga de se seu cinto, ao mesmo tempo que ele ainda mais ágil, saca a outra escondida. Em uma sincronia de se admirar se não fosse pelo momento, eu e Nevra ficamos de costas um para o outro. Empurro minha bolsa de lado, e fico em posição de defesa, encarando Naytilli com todo o meu ódio acumulado. Seus subordinados tomam a defensiva, avançam somente mais um passo, e nada mais. Os cães infernais rosnam, e mordem o ar.

-Mais do que você imagina! - Faço questão de deixar a adaga em minha mão elevada, em sentido a garganta da bruxa.

Ela bate palmas lentas e dramáticas. Rindo para o além, sem nos encarar. Dá alguns passos adiante. Dois metros de distância de mim. Tento regular minha respiração, para disfarçar a tremedeira de adrenalina que balançam minhas mãos.

-De fato corajosa... - ela volta a nos encarar como dois brinquedos a sua mercê. Suas palmas cessam, e seu sorriso se alarga. - Mas nem um pouco inteligente!

Ela estrala os dedos. Ouço o barulho de galhos se batendo. Pensando ter dado autorização de seus subordinados atacarem, viro o rosto para o lado do som. Nevra faz o mesmo. A distração foi perfeita para que o responsável pelo arco liberasse a flecha, que atinge com um baque forte a coxa do vampiro, que se desequilibra e cai de joelhos.

Tomada pelo pânico, viro-me para ajudá-lo. Mas antes sequer conseguir toca-lo, algo me atinge a cabeça. Não me sobra nada além de um zumbido.

***

-Ora, ora, ora. Vejam só quem finalmente acordou!

A voz fica ecoando em minha cabeça por tempo demais. A tontura é desnorteante. O gosto de bile inunda a minha boca. Antes de me conter, coloco o pouco que tinha no estomago pra fora.

{Eldarya} Coração de CristalOnde histórias criam vida. Descubra agora