{Eldarya} Coração de Cristal

{Capitulo IV} Meu dever

Nem sinto a picada da agulha no meu braço. Ewelin sempre foi delicada em relação a esses tipos de cuidado, mas de qualquer forma, parece que agora já senti de tudo pra me preocupar com algo desse tipo. Enquanto coleta algumas amostras do meu sangue, para ter certeza que está tudo sobe controle, fico olhando pela janela. Uma brisa fria atravessa minhas cortinas.

-Pronto! - Ewelin abaixa a manga da minha camisa, e termina de arrumar a maleta onde guarda seus apetrechos. Sinto que cada vez que ela para de me tocar, é como se fosse um alivio pra ela. Como se tivesse medo de se encostar em mim... Como se fosse me causar mais algum machucado.

-Quando eu puder deixar a Kida pular em cima de mim de novo, me avise! - digo, formando um sorriso. Meu familiar está ao pé da cama, sentada, analisando atentamente todos nossos movimentos. Ela parece entender muito bem do que estou falando, e abana o enorme rabo.

-Você, quietinha. - Ela olha para Kida por cima do ombro, com um tom sério. E depois, aponta para mim – E você, quietinha também. Ouviu?! - eu arqueio as sobrancelhas – Eu lhe conheço muito bem, Erika... Nada de procurar o que fazer até estar totalmente recuperada. - Ela desvia o olhar - Não ouse nos assustar assim novamente.

Fico sem saber o que dizer, além de fazer o mesmo, e desviar o olhar para Kida, soltando um sorriso amarelo.

-Posso entrar? - Huang Hua aparece a porta, abrindo uma fresta só o suficiente para ser escutada. Ao gritar que sim em resposta, ela adentra com um de seus sorrisos calorosos. - Não quero atrapalhar...

-Não vai. Já terminei por aqui, e já estava para chamar alguém para ficar de olho nela. - Ewelin me manda mais um olhar brincalhão, antes de colocar a mão em meu ombro em despedida, e sair do quarto.

Huang Hua se apruma na poltrona ao lado da minha cama, colocando algumas flores a mais no vaso em meu criado-mudo. Não consigo mais contar quantas há ali. De quantas diferentes espécies e cores diferentes. Acredito que quase todos que vieram aqui antes, quando eu estava desacordada, me trouxeram um. O pensamento me faz desmanchar um pouco a tranquilidade que reinava aqui. Olho para Huang ainda distraída com as flores, mas não consigo me conter.

-O que aconteceu comigo, Huang?

Imediatamente ela para de mexer as mãos. Por um momento, parecia uma estátua. Sei que cutuquei um assunto ainda sensível. Acordei ontem, mas sendo totalmente sincera, até para mim mesma: eu estou bem. Cem por cento obviamente não estou. Mas já estou bem e sã o suficiente para entender o que aconteceu e o que está acontecendo.

Quando eu despertei do coma que eu estava – ontem mesmo-, eu senti como se tivesse simplesmente acordado de uma noite mal dormida. Mas quando Miiko me explicou que já fazia oito dias, eu poderia ter caído para trás se já não estivesse sentada na cama. Recobrando um pouco melhor o raciocínio, eu só conseguia perguntar o estado de Nevra. Ele estava bem. Estava vivo. Antes do vampiro chegar ao meu quarto depois do anuncio do meu despertar, Ykhar deixou escapar baixinho como ele nunca saia do meu lado. Aquele exato momento tinha sido um dos raros. Não consegui disfarçar o ruborizar das minhas bochechas.

Até agora, aceitei que adiassem mais detalhes, pois realmente eu tinha acabado de acordar, não conseguia me recordar muito bem do que tinha acontecido. Agora que alguns flashs de memória já vão me voltando numa velocidade saudável para minha mente. A noite só passou mais tranquila pelos remédios que Ewelin me deu, por que se dependesse de mim, as lembranças de cortes e sangue nunca sairiam da minha cabeça.

Desta vez, deixei até mesmo a urgência de contar a Miiko sobre mais uma visão do Oraculo. Apesar que sinto que dessa vez não há nada a ser dito ou usado a nosso favor. Não consigo lembrar o que ela disse... Ou melhor, mais uma vez: não entendi suas palavras. A única seria dela gritando para que eu acordasse, mas nem isso me seria algo a ser de urgência a ser relatado.