A LEGIÃO

01. NOITE FRIA

Califórnia, Danville - EUA

Foi mais um dia entediante na faculdade, eu caminho pela estrada até minha casa sozinho como sempre e com fones. Havia nos mudado para Danville fazia uns três meses e já havia me adaptado, as noites eram geladas do jeito que eu gosto. Meu nome é Dylan Walter, não tenho sonhos com meu futuro como os jovens normais, apenas fujo da claridade e de pessoas — elas machucam emocionalmente e fisicamente — por isso prefiro continuar sozinho. Sabendo que ao chegar em casa, meus pais estariam brigando novamente.

Meu pai é um alcoólatra machista e desempregado, minha mãe e eu é que trabalhamos para pagar as contas e nos manter, mas, não era fácil.
Minha trabalha numa lanchonete no centro da cidade e eu num pequeno mercado, o dono é amigo de meus pais. Ouvia as vozes altas de longe e apenas passo por eles indo direto para meu quarto, subindo as escadas e ignorando tudo.

Me deito na cama ainda com os fones e minha mãe entra no quarto.

–"Como foi a faculdade?" Pergunta ela.

–"Razoável..." Digo.

–"Eu estou indo trabalhar agora, vou chegar tarde da noite pra fazer hora extra." Diz ela se sentando.

–"Vou dormir na casa de um amigo, vou ficar bem." Digo, percebendo as marcas roxas em seus braços. –"Ele está te batendo?"

–"Ignore isso, filho." Diz ela, tapando uma das marcas com a mão e se levantando. –"Te amo!" Diz antes de se retirar.

Meu pai havia saído novamente, para o bar gastar seu último salário com bebidas, como se isso fosse adiantar alguma coisa. Depois de almoçar e ter tomado banho, pego minha mochila e vou trabalhar.

–"Boa tarde, Sr. Phillips." Digo tentando ser simpático com meu chefe.

–"Seu pai acabou de sair daqui, só comprou lenços de papel e disse que ia beber até cair... Está tudo bem em casa?" Pergunta ele, preocupado.

–"Não sei se posso dizer que está tudo bem... Mas, vou tentar dar um jeito nisso!"

–"Mostre quem é o verdadeiro homem da casa!" Brinca ele.

🌙 Anoitece

Ao sair do trabalho, vou rumo ao meu lugar preferido de ficar, a Floresta dos Esquecidos assim conhecida. A noite está perfeita! Tiro da mochila bebidas e drogas, meus passatempos favoritos. Até eu ver um grupo de jovens andar até mim — roqueiros — o tipo de gente que eu curtia!

–"E aí mano desconhecido." Diz uma das jovens, bem doidona. –"Tem baseado?"

–"Tenho." Entrego para ela. –"Prazer, sou Dylan. E vocês?"

–"Sou Tyler, esse é Harry, Megan e a Sasha."

–"Nunca te vi antes por aqui." Diz Harry.

–"Bem, eu estou vindo todas as noites e fico sempre nessa... Grande rocha." Digo.

–"Não tem medo de ficar sozinho aqui?" Pergunta Megan.

–"E por quê eu teria medo? Tenho Nictofilia* estar na escuridão me faz sentir seguro e em paz!"

–"Legal, a maioria de nós temos isso." Diz ela.

–"Nossa galera está dando uma festa, vem participar." Convida Tyler.

Penso um pouco, e aceito ir com eles. Pegando a trilha que nos levou para um campo aberto no meio da floresta com roqueiros dançando ao som de Rock heavy metal, as únicas luzes eram do fogo em tonéis de ferro e de suas motos. Nos sentamos no chão com um isopor cheio de cervejas dentro.

–"Por quê gosta de vir pra essa floresta sozinho?" Pergunta Tyler, curioso.

–"Essa floresta é meu refúgio dos problemas que tenho em casa." Digo.

–"Entendo. Eu era assim também."

–"Por quê o nome é Floresta dos esquecidos?" Mudo de assunto. Ele ri um pouco.

–"Pessoas vinham pra cá e se matavam ou se perdiam, sendo que a polícia nunca conseguia encontrar nenhum dos corpos, as almas dos mortos ficaram esquecidas para sempre aqui." Explica ele.

                                  ☯

Enquanto isso, minha mãe chegava do trabalho tarde da noite e encontra meu pai dormindo no chão da sala, sujo e com uma garrafa vazia de vodka do lado. Ela vai até meu quarto, na esperança de me encontrar lá, mas não. Sentindo um vazio, ela se senta na minha cama e sente que bateu com o pé em uma caixa debaixo da cama, o que chama sua atenção. Ela abre a caixa de madeira e encontra vários papéis e fotos antigas de nossa família e percebe que o fundo da caixa era solto, o abrindo — sua expressão facial muda — ao ver saquinhos de maconha e outras drogas.

Os conhecendo melhor, via que todos eles tinham uma razão por estarem ali. Assim como eu, eles eram jovens rebeldes que gostavam do perigo e de infligir as leis, além de serem bem Liberais com qualquer coisa. Observando ao redor, vi beijos lésbicos e beijos gays, brancos ficando com negros, interagindo um com o outro e isso era legal.

–"Aí Dylan, gostei de você e minha galera também." Diz Tyler. –"Quer ser um membro do nosso grupo?"

–"E o que é preciso para que eu seja um de vocês?"

–"Só fazer a nossa marca de identificação." Mostra ele um símbolo em seu pulso tatuado. (Uma Cruz Ansata).

–"E o que vocês fazem as noites?" Pergunto.

–"A noite é toda nossa, fazemos corridas pela cidade, roubamos, quebramos regras..." Diz ele empolgado.

Dou um sorriso e ergo o braço.

–"Façam!"

Eles me levam até um trailer com desenho de uma estrela pixado de amarelo e lilás.

–"Craig, este é Dylan, nosso novo membro." Apresenta Tyler.

–"Olá jovem, Sente-se." Diz ele, simpático.

Após terminar a tatuagem, um homem idoso de cabelos grandes grisalho pega em meu braço.

–"Dylan Walter..." Diz ele.

–"Sou eu."

–"Sua mãe, Michelle, está bem?"

–"Conhece minha mãe? De onde?"

–"Ela não te contou? Ela fazia parte da nossa seita oculta antes de você nascer."  Diz ele.

Estranho aquilo.

*NICTOFILIA= Pessoas que gostam de estar em lugares escuros, de coisas escuras, trevas. Amantes da Escuridão!