LET'S HURT TONIGHT ❪song!lock❫

say something

— sherlock, a gente precisa conversar.

— precisamos?

john engoliu em seco e desviou o olhar. precisavam?

— sim, nós realmente precisamos conversar.

watson sentou-se na poltrona defronte a holmes como não fazia há meses e estava se obrigando a encará-lo nos olhos como há muito tempo não tinha coragem de fazer. sherlock, por sua vez, parecia tão indiferente ao nervosismo de john quanto às notificações em seu celular das inúmeras ligações perdidas de seu irmão mycroft.

— como vai a mary? — perguntou holmes, num tom descontraído.

— a mary? — disse watson, um pouco espantado pela pergunta repentina. —bem... ela está bem.

— bom, e os preparativos do casamento? — continuou sherlock, sorrindo.

— e— está tudo... o que você está fazendo?

john fitou-o confuso enquanto esfregava as mãos palma com palma, distraidamente, sem se dar conta de que seu corpo estava fazendo questão de demonstrar o quão nervoso ele estava.

— tentando puxar assunto — disse holmes. — não tento mais.

— não é sobre isso que eu quero conversar — watson sorriu tentando disfarçar o desconforto que aquele assunto em especial lhe causava. — é sobre uma... outra coisa.

sherlock olhou, observou john dos pés a cabeça a procura do motivo que o trouxera ali depois de semanas, mas ele não conseguia enxergar muita coisa. watson estava nervoso, o rosto levemente suado e o tique com as mãos não negavam isso; também estava com medo, holmes sabia disso pelo seu olhar; a respiração ofegante indicava um nível alto de ansiedade, mas o que isso tudo significava, sherlock não era capaz de dizer. pela primeira vez desde que conhecera john ele não conseguia lê-lo por completo e isso era irritantemente perturbador.

— eu preciso ter em mente o tópico da conversa antes de conversar, jawn, e temo que eu precise da sua ajuda pra isso — disse-lhe ele.

watson abaixou o olhar e, num ato falho, arrumou a aliança em seu dedo. pensava em como abordaria o assunto porque, por mais que tivesse ensaiado mais de cinquenta maneiras de fazê-lo no táxi a caminho do 221b, ainda não parecia ter encontrado um jeito certo de dizer o tinha a dizer. sua busca pelo conjunto apropriado de palavras, no entanto, fora atrapalhada por holmes.

— ah, sim... — o detetive consultor voltou a dizer. — entendi, é o casamento.

— é — disse john, voltando a encará-lo com espanto. — é e não é, na verdade.

— como assim "é e não é"? — perguntou sherlock.

— é... complicado.

— sempre é, jawn.

watson se levantou e começou a andar de um lado para o outro sentindo o peso do olhar de holmes sobre si.

— eu... eu estou me sentindo tão... perdido no meio disso tudo — disse enfim, parando de perambular. — é muita informação na minha cabeça e eu não sei o que fazer... eu não sei o que eu estou fazendo.

sherlock encarou john ali, escorado na lareira, com os olhos cheios de lágrimas, e foi capaz de sentir sua agonia.

— jawn, eu... eu acho que a mary é a pessoa pra quem você deve dizer isso.

— o quê? não — exclamou watson.

— eu entendo que é difícil — insistiu holmes, usando toda a empatia que era capaz de sentir. — mas se é assim que o casamento está te deixando, ela precisa saber.