ATO 1 - CENA 1

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Herculano chega cansado em uma praça de São Sebastião da Cascata. O rapaz deixa sua mochila no chão e exclama:

HERCULANO - Ai, que vida difícil essa minha. Como eu queria um pouco de paz. Não acho trabalho em lugar nenhum. Por que você não escutou seu pai quando ele falou pra você estudar, Herculano?! (Exclama se lamentando amargamente) Como vou sobreviver nesse lugar? Tomara que nessa cidadezinha tenha um servicinho pra mim.

Entram Dona Cecília e Dona Teresa. Herculano se esconde atrás do banco da praça para ouvir a conversa das duas. Cecília e Teresa se sentam no banco e começam a conversar.

CECÍLIA- O que será de nós agora? Tenho certeza que foi culpa do diabo!

TERESA- Sim, minha amiga Cecília. Demorou muito tempo para construirmos nossa capelinha. Ela ficou tão bonita. E justo agora que ela está toda reformada e bonitinha, nosso Padre morreu.

CECÍLIA- Que será de nós sem o Padre João, Teresa? Era ele quem benzia a gente quando estávamos doentes. Era ele quem dava comida para os pobres. Tenho certeza que isso foi obra do diabo! Foi ele que botou aquelas tais de chagas no padre!

TERESA- E ainda nem é o pior. Quem é que vai casar a minha netinha, Maria do Rosário? Ela estava tão animada com o casamento.

CECÍLIA - Não sei não, Teresa. Mas tudo o que podemos fazer é esperar. Não podemos deixar o diabo vencer.

TERESA- Vamos comer uns sonhos lá na padaria? Pelo menos ainda temos um padeiro.

CECÍLIA- Poisé, que bom que o Pedro ainda é jovem e forte. O diabo não atacou ele, porque sem Padre e com a barriga vazia, aí sim, a gente ia tá perdidinha. (As duas senhoras dão risadinhas).

As duas senhoras saem de cena, deixando Herculano sozinho novamente.

HERCULANO- Que Interessante. O Padre não faz trabalho pesado. Tem lugar pra morar na sacristia. Decide o que fazer com o dízimo da igreja. Vive bem e é adorado por todos desse vilarejo. Tá aí. Vou virar Padre. Padre Paulo é um bom nome. É agora que eu saio dessa vida de miséria. Vou dar um pulinho em Belo Horizonte, usar o que tenho de economias e arrumar uma fantasia de padre. É agora que saio dessa vida de miséria.

Herculano começa a pegar suas coisas para sair, quando ouve alguém conversando e se esconde para não ser visto.

Entram Maria do Rosário e Laurinha.

MARIA DO ROSÁRIO- Aí, Laurinha. O que será de mim?

LAURINHA- Calma, Maria do Rosário.

MARIA DO ROSÁRIO- Não me peça calma, Laurinha!

LAURINHA- Rosa, em breve vamos achar outro Padre. Você e o Gabriel vão se casar. Só precisa esperar.

MARIA DO ROSÁRIO- Não é isso. É que eu não estou mais apaixonada pelo Gabriel. Eu conheci um rapaz extremamente encantador. Ele se chama Leonardo. Trabalha com o pai do Gabriel.

LAURINHA- Leonardo? Mas ele não é o capataz da fazenda do Seu Jurandir? O que você quer com o empregado do Seu Jurandir, quando você tem a chance de casar com o filho dele?

MARIA DO ROSÁRIO- Eu gosto do Gabriel, mas eu não o amo. Meu coração pertence a Leonardo.

LAURINHA- Você sabe o que vai acontecer se você desistir desse casamento, não é?

MARIA DO ROSÁRIO- Claro que sei. Minha mãe vai me mandar para um convento em Montes Claros. Ela disse com todas as letras, ou casa com um rapaz rico, ou te boto num convento.

LAURINHA- Que horror! Parece até que ela só quer dinheiro.

MARIA DO ROSÁRIO- Mas é isso que ela quer, um noivo rico pra nos sustentar e nunca mais termos que trabalhar. Mas não quero deixar o Leonardo. O que eu faço?

LAURINHA- Ai, amiga. Vamos dar uma passada na padaria? Os doces que o Pedro faz sempre te animam. Lá você me explica como vocês se apaixonaram.

As duas saem em direção à padaria. Herculano sai de trás do banco.

HERCULANO- Ah, pobre garota. Ela não sabe o quanto esse casamento pode ser bom para o bolso dela. Mas quem sou eu para questionar, né? Bem... vou dar um pulinho lá em Belo Horizonte e arrumar uma fantasia de Padre.

Herculano pega sua mochila e sai de cena.

Fim de cena.

A farsa do Padre HerculanoOnde histórias criam vida. Descubra agora