ATO 5 - CENA 2

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Cenário: Praça de São Sebastião da Cascata. Altar preparado pro casamento.

Estão Herculano e Bernardo no altar, os convidados ainda não chegaram.

BERNARDO- E o meu dinheiro? Já arrumou?

HERCULANO - Não, e nem vou arrumar.

BERNARDO - Se é assim, eu conto na frente de todo mundo, no meio do casamento.

HERCULANO - Claro, conta mesmo. E eu conto uma coisinha que a Sandra, aquela moça que trabalha na casa de Madame Celeste me disse outro dia, quando ela veio se confessar.

BERNARDO - O q-que ela d-disse? (Fala gaguejando)

HERCULANO - Que o seu negócio é o mais pequenininho que ela já viu na vida dela e que nem uma das meninas gostam da sua companhia. Fora um remédio que você precisa pra fazer umas coisas funcionarem. Quero ver você manter a pose de machão se eu dizer que o bonzão é brocha. 

BERNARDO - Você não pode! É proibido o Padre contar as confissões.

HERCULANO - Mas eu não sou padre de verdade. Então não há nada que me impeça de falar.

BERNARDO - Não ouse!

HERCULANO - Então não ouse revelar meu segredo. Não é só você que sabe ameaçar.

BERNARDO - Tá bom! Que saco, justo agora que eu ia me dar bem!

HERCULANO - Hahahaha.

Chegam Dona Teresa, Dona Cecília, Dona Luciana, Laurinha, Pedro, Bruno e sua esposa, Patrício, Madame Celeste, Briana, Jurandir, Juliana e Gabriel. Gabriel se dirige ao altar, próximo ao Padre. Os demais convidados se sentam nos bancos.

HERCULANO - É o seguinte, galera. A gente tá reunido hoje pra casar Samuel Amargo e Maria do Rosário.

GABRIEL - É Gabriel Camargo!

HERCULANO - Ai, que seja. Pra casar esse cara aqui e a Maria do Rosário. Bora reza um pai nosso antes da noiva entra, porque eu acho que até agora ela não chegou. Certeza que não coube no vestido. Fica o dia inteiro comendo os doces da padaria do Pedro e não entra no vestido depois. Quando ela entrar no vestido, ela chega.

MARIA DO ROSÁRIO - Calma! Cheguei. (Fala entrando)

HERCULANO - Então vem cá. Pensei que a noiva tinha desistido. Mas enfim... O casamento é muito bão. Traz muita coisa boa pra vida da gente. Traz paz, Saúde, felicidades, traz dinheiro, traz briga, traz uma criança endiabrada correndo e pulando feito um sapo doido dentro de casa, popularmente conhecido como filho, traz chifre...

MARIA DO ROSÁRIO - E desde quando chifre é bom, Padre? (A moça sente a indireta e se aborrece)

HERCULANO - Minha filha, com os chifres que você tem, você faz um par de berrantes pra vender.

GABRIEL - Chifres? Eu nunca chifrei minha noiva. (Diz o chifrador furioso.)

JURANDIR - Que história é essa? Meu filho nunca chifrou a noiva. (Fala nervoso e irritado)

HERCULANO - Então é agora que a gente descobre. Ai, como eu amo a parte que eu vou falar agora. "Se alguém tem algo contra essa união, que fale agora, ou cale-se para sempre".

BRIANA - Eu tenho! (Grita e se levanta). Eu tô grávida do noivo.

HERCULANO - Poxa, nem pra usar camisinha, Rafael?

GABRIEL - Ela tá mentindo! E é Gabriel!

CELESTE - Que mentindo o quê? (Se levanta também) Ele vai toda noite no meu cabaré pra trair a noiva. Pronto falei. (Se senta novamente)

GABRIEL - É mentira! Elas só querem meu dinheiro. Vão tentar aplicar um golpe da barriga.

HERCULANO - Convenhamos, até eu quero seu dinheiro. Mas não é toda prostituta que tem coragem de interromper um casamento no meio pra falar um trem desse, Mikael.

GABRIEL - Não me importo. Não vou assumir, porque o filho não é meu. E é Gabriel!

HERCULANO - Tá bom. Não deu certo Briana, senta aí e aproveita que quando acabarem aqui vão partir o bolo. Mais alguém tem algo contra esse casamento?

LEONARDO - Eu tenho! (Fala Leonardo que entra montado no cavalo Mustang do seu Jurandir) Eu quero casá com a noiva.

GABRIEL - Nem pensar! A noiva é minha!

LEONARDO - Outro dia cê num falou que se eu domasse o cavalo, cê me dava qualquer coisa? Então, eu domei o bicho. Eu quero casar com a sua noiva.

PATRÍCIO - Como você conseguiu? (Patrício se levanta, deixando o gesso em seu braço a mostra).

LEONARDO - Eu consegui porque sou um peão muito melhó que ocê! (Patrício se senta. Leonardo desce do cavalo, sobe no altar, empurra Gabriel pro lado e pega nas mãos da noiva) Cê casa comigo, minha Rosa?

MARIA DO ROSÁRIO - Eu caso, e você?

LEONARDO - Eu também caso, uai.

HERCULANO - Pra mim já tá bom. Eu vos declaro marido e mulher. Agora vamos comer o bolo, minha gente!

GABRIEL - Pera aí! Você casou ele no meu lugar?

HERCULANO - Tá cego por acaso? Casei, uai. Agora vamos comer!

LUCIANA - Pera aí. (Se levanta). Você vai descasar eles agora. Minha filha não vai se casar com um capataz!

HERCULANO - Ela já casou, Dona.

MARIA DO ROSÁRIO - Poisé, mamãe. E eu não ligo para o que você acha. Eu amo o Leonardo.

Maria do Rosário e Leonardo se beijam.

LUCIANA - Que absurdo. Vou te mandar pro convento! Eu avisei. 

LEONARDO - Vai nada. Vamo fugir agora.

Leonardo e Maria do Rosário correm até o cavalo, montam nele e saem correndo. Luciana se senta de novo indignada.

JURANDIR - Aquele maldito roubou meu cavalo. Aquilo não é um homem, é um moleque... (fala se levantando).

PEDRO - Pra mim já deu! (Se levanta e começa a falar as verdades) Ele é muito mais homem do que o covarde do seu filho, que traia a noiva com prostituta toda noite. Ele sim é homem de verdade. O seu filho é um garoto mimado que não trabalha e vive as custas do pai. E eu concordo com o padre, vamos lá comer o bolo, porque fui eu que fiz e tá uma delícia.

Beto entra no casamento furioso.

BETO - Ninguém vai comer nada, até que aquele homem seja preso! (Aponta para o Padre). Eu me chamo Beto. Esse homem alugou uma fantasia de padre na minha loja lá em Belo Horizonte. Disse que ia devolver no dia seguinte. Já fazem três semanas. Eu tive muito trabalho para achar ele. Agora o prendam! 

TERESA - Ai, meu Deus. O padre é falso. (Dona Teresa exclama ao se levantar)

CECÍLIA - Só pode ser...

HERCULANO - Coisa do diabo. Todo mundo já entendeu. Cala a boca, moça. Você é muito paranóica. Acha que tudo é o Diabo, que chatura! Se você morrer e for pro inferno, o Diabo vai te expulsar a ponta pés.

As duas senhoras se sentam inconformadas.

BETO - Alguém prende o farsante! (Bruno se levanta).

BRUNO - Eu sou policial. Eu prendo. (Vai até Herculano e o rende).

HERCULANO - Por favor, não me prenda!

BRUNO - Lamento, mas nós vamos dar um pulinho em Sete Lagoas. (Herculano é levado aos gritos)

Bruno, Herculano e Beto saem de cena.

Cortinas se fecham.

Fim do Quinto Ato

A farsa do Padre HerculanoOnde histórias criam vida. Descubra agora