Cenário: Casa de Seu Jurandir.
Jurandir e Gabriel estão na sala conversando.
JURANDIR - Ah, filho. Nem parece que você vai se casar. E sabe por quê?
GABRIEL - E por que não parece? Eu sou lindo, sou rico, o que mais poderia esperar de mim, senhor meu pai? Consegui a mais bonita mulher desse fim de mundo que só tem gado.
JURANDIR - Olha a língua. Cuidado com o que fala. Saiba que é o imenso rebanho que eu e seu avô criamos nesse fim de mundo que pagou todos os seus estudos em Belo Horizonte. 17000 cabeças. Não acha impressionante?
GABRIEL - Tá bom.
JURANDIR - E o porquê não parece (começa a se alterar e a ficar zangado) é porque te viram saindo da casa da Madame Celeste, seu infeliz! (Avança para cima do filho, que se esquiva do golpe) Como você espera se tornar um respeitado coronel como eu, se você, noivo da moça mais linda da vila, me faz o favor de fazer saídas noturnas nada discretas?!
GABRIEL - Calma, papai! Como é que o senhor soube?
JURANDIR - Como eu soube?! O excomungado daquele Sacristão veio me pedir dinheiro antes de ontem para não espalhar pra todo mundo que meu filho trai a noiva! A empregada disse hoje que viu uma marca de batom na sua blusa quando foi lavar! O capataz viu você saindo escondido ontem a noite!
GABRIEL - Vai acreditar naquele capataz e numa empregada?
JURANDIR - Leonardo sempre foi fiel, é o melhor vaqueiro desse lugar. Juliana trabalha pra família já tem 30 anos, e ela nunca mentiu pra mim. Se eu fosse você, parava de ir na casa de Madame Celeste, antes que alguém descubra.
GABRIEL - Tá bom, tá bom. Eu paro de ir ver a Briana.
JURANDIR - Briana? E já criou até uma amante fixa?... quer saber? Não vou me estressar com isso. Você vai dá seus pulo pra resolver isso. Eu tenho assuntos mais sérios.
GABRIEL - Que assuntos?
JURANDIR - Tenho que mandar ajeitarem as cercas do curral. O Seu Alencar finalmente vai me vender aquele cavalo dele. Um mustang. Tenho que reforçar a cerca porque o bicho é bravo. Nenhum dos peões dele conseguiu domar.
GABRIEL - E acha que o capatazinho vai fazer isso?
JURANDIR - Leonardo é bom, mas vou chamar alguém de fora. Talvez de São Paulo. Mas agora vou ir para a Padaria. Preciso pedir um favor ao Padeiro.
Seu Jurandir sai de cena.
GABRIEL - Juliana ( A empregada aparece ao ser chamada) Chame o Leonardo para mim.
LEONARDO - Já ouvi. Tô aqui. (Leonardo aparece antes que a empregada possa chamá-lo). Precisa de algo patrão?
GABRIEL - Sim. Que você pare de ficar falando pro meu pai sobre minhas idas à casa de Madame Celeste! Maria do Rosário é linda, mas eu sou muito novo pra me prender a uma pessoa só. Agora se me dão licença, vou dar um passeio a cavalo.
Gabriel sai de cena. Juliana e Leonardo ficam sozinhos.
LEONARDO - Ai, Juliana. Vê se pode um trem desse?! Ele é um vagabundo! Num trabalha, vive as custas do pai, num dá valor pro que tem, e nem sabe amar. Se Maria do Rosário soubesse que esse traste num presta...
JULIANA - Fica calmo. Eu sei que você gosta dela.
LEONARDO - Se eu gosto? Eu amo! Nunca teria coragem de fazê algo que a magoasse. Eu ia tratar ela como uma rainha, se ela fosse minha noiva...
JULIANA - Mas não é. Entenda. A mãe dela nunca permitiria que ela se casasse com um capataz. E se você tentar roubar ela do Gabriel, o Seu Jurandir te demite.
LEONARDO - Pode até tentar me fazer parar, mas num quero desistir não.
Os dois personagens saem de cena, um para cada lado.
Fim de cena.
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A farsa do Padre Herculano
HumorTexto teatral que narra a história de Herculano, um homem pobre que finge ser o novo padre da igreja da cidadezinha de São Sebastião da Cascata, no interior de Minas. Mas ele vê em suas mãos a tarefa de realizar um casamento, que na visão de muitos...