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Ruan

20:00/ 2010- RJ

Olhei aquele barraco todo a minha volta, todo na bagunça e um cheiro insuportável misturado com bebida, lá estava minha mãe sentada em uma cadeira naquela mesa pequena e consumindo drogas enquanto bebia.

Minha realidade sempre foi fodida, uma realidade péssima pra caralho.

Uma mãe drogada e sem pai, talvez minha realidade é tão dura quanto a qualquer uma por aí, reclamo de fome e frio, não abro aquele sorriso de criança feliz.

Ou até mesmo reclamando pela mãe vadia que faz o próprio filho sustentar seus vícios, ou seja, fudido pra caralho.

Me mantenho quanto mais duro possível pra suporta isso tudo a minha volta, mas na real? Te fode pra caralho viver dessa maneira, imagino por mais que tudo que isso não é vida não.

Clarete: Trouxe o dinheiro que mandei? - neguei sério.

- Não mãe.- falei baixo.- Sem movimento nenhum.- bastou pra ela levantar e vim na minha direção com o rosto cheio de raiva, tentei revisar com medo.

Clarete: Pode ir se mandando pra fora novamente, seu desgraçado - ela levantou a mão desferindo no meu rosto.

Me contive virando o rosto de lado e negando todos pensamentos que veio na minha mente, a verdade é dura, ela faz isso e tem dia até mesmo pior.

Nunca ouvi uma palavra boa sair da boca dela, sempre me faz me sentir humilhado pra caralho, parcero, sem felicidade nenhuma.

Em antes mesmo de piorar as coisas sai pra fora do barraco, sentei no canto encarando aqueles barracos do lado.

Desviei meu olhar para umas crianças brincando no meio de umas tralha, elas mantinha um sorriso no rosto, pelo menos pareciam felizes.

Treze anos e nunca conseguir essa oportunidade de brincar e nem mesmo sorrir, sempre passei minha vida toda vivendo pra sustentar minha mãe e sustentar os vícios dela, colecionando várias cicatrizes pelo meu corpo.

Por mais que vivo isso, eu não queria de modo nenhum passar por esses bagulhos, tá ligado? É doloro demais viver dessa maneira, o peito chega a doer por viver assim todo dia.

Não tenho nem mesmo amigos, sempre vivi dessa maneira, sozinho por esse mundo.

(...)

- Me ajuda aí, cara.- encarei o rapaz que me olhou bolado.

Já é meio dia e sol rachando naquela baixada, vivência dessa maneira todo dia, até mesmo dia de domingo, não tem parada não, pô.

Pra muitos me olhava com pena e acabava me dando alguns trocados, mas esse foi tempo, ultimamente cai maneiro e quase ninguém descola nada.

Xxx: Qual é, mete o pé.- olhei baixo e me afastei do carro.

Passei o resto da minha tarde no asfalto, não consigui quase nada mesmo, já fui logo daqui pra subir com a mente vazia e sem muitos pensamentos pra não ficar com a mente cheia.

Clarete: Vai logo, moleque.- estendeu a mão, passei o pouco que ganhei pra ela.- Tá tirando? Isso aqui não dá pra comprar nada que quero.

- Foi isso que consegui.- ela me olhou com raiva, fiquei até mesmo com medo.

Clarete: Seu desgraçado.- puxou meu braço com força me desferindo dois murros no meu rosto.

- Para...- gritei alto tentando me soltar, mas somente piorou.

Clarete: Fico o dia inteiro esperando pra fumar e beber, e me aparece com essas merdas de moedas, vai entrar na porrada.

Isso não é minha escolha, não escolhi colecionar cicatrizes e andar por aí com a pele roxa. Essa é a mulher que me pariu, sou espacando todo dia por não conseguir uma meta boa pra ela comprar as drogas dela, filho nenhum quer uma mãe dessa maneira...


Mancha VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora