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Anos depois

Ruan

Apertei aquele teste de gravidez na minha mão, apertei não me mostrando na felicidade, mas sim com ódio e raiva, olhei novamente e joguei com força na parede. Meu sonho não é família e nem muito menos um filho, não é não, mané.

Faz uma semana que descobri essa porra toda, Juliana fez um auê porque eu não quero assumir, não quero e não vou, mermão. Minha mente suporta tudo, menos tentar trombar com minha cara e querer me obrigar a algo, aprendi a ser sozinho e assim vou ser até meu final, porra.

Tirei a garrafa de bebida de dentro do armário rodando a tampa e abrindo, puxei o copo virando, peguei o gelo deixando dentro e dei um gole, assim foi um... dois... três... e a bebida de whiskey descia rasgando.

O barato é feio e confiei na porra de satisfazer uma mulher, tenho certeza que a piranha engravidou pra querer outras coisas do meu porte.

Uma coisa que eu sempre levo na minha mente é o que eu quero eu faço, não me sinto culpado e nem muito menos não me arrependo de nada, então não me vejo no poder que essa criança seja minha, parcero.

Não é, e se ser não vai ser reconhecido, não vai ser mesmo não, mermão. Não precisa pagar de nada para o meu lado não, quem me conhece sabe que sou dessa maneira e vou me fazer de maluco negando até o último momento.

Fiquei um tempo naquele quarto tomando uns gole da bebida e depois que acabei caminhei para o banheiro, aproveitei e bolei um bem bolado dentro do banheiro mesmo, acendi dando uma tragada e me encontrando nos pensamentos, neguei comigo mesmo e apaguei o cigarro depois de umas tragadas.

Liguei o o chuveiro, tirei minha roupa e entrei debaixo daquela água, deixei escorrer pelo meu corpo todo e alguns minutos tomei meu banho, passei a toalha na cintura e saí do banheiro. Subi minha cueca, camiseta e uma bermuda, joguei uma corrente de ouro no pescoço e enterrei o boné na cara.

Peguei o rádio e com peça na minha mão passei pra cintura, sai do barraco subindo na minha moto e dei partida pegando o caminho para a biqueira.

Magrinho: Tá aí a foto daquela mulher que tú mandou.- me mostrou no celular, apenas olhei a foto e fiquei calado, não rendi na conversa.- É ela que tá devendo drogas, ela tem uns filhos pra cria ai e não passa a grana a um tempão, rapá.- encarei ele.

- Paga com o dinheiro ou com a vida, tú sabe dessa parada mais que qualquer um, porra.- mandei pra ele que engoliu em seco.

Magrinho: Mais e os filhos dela, Alemão.

- Mulher drogada não age como mãe não, caralho. Se ela agisse como mãe estaria devendo era comida e não essas farinhas que ela cheira, caralho.- mandei mais sério.

Magrinho: Tá certo, pode crê.- confirmou, não mandei mais nada pra ele, fiquei calado na minha como sempre e comecei a fazer meus pertence de sempre.

Gerente da boca é algo pra dar tensão, e é sempre foda ter que ligar com vários, mas eu tento ser o quanto mais transparente pra qualquer um, o quanto eu quero mandar em algo e quando me descontrai eu sempre vou agir da maneira certa, que é sempre cobrando na má intenção.

O chefe por maioria das vezes ele não age nada com a cara, sempre manda dos barracos onde ele se isola, mesmo é chefe em cima de chefe, rapá.

Peixe: Acha que vai passar abatido, Magrinho.- balançou ele.- Tá me devendo trezentos conto daquela aposta, comi a filha do pastor ontem mermo, ela caiu feito aquelas bobona no meu papo.

Magrinho: Se liga, tá na mão.- riu.- Vou passar a grana pra tú, só quero uma prova.

Peixe: Um vídeo?- falou baixo, eles riram em seguida.

Magrinho: Tá tirando? Tú é maluco.

Peixe:Vou mostrar pra tú, pô...

Revirei os olhos e voltei a fazer o que estava fazendo. Assim que bateu a tardezinha meti o pé para a padaria e ia logo beber um suco.

Alguns me olhavam e cumprimentavam, eu nem fazia muito no bagulho de cumprimentar, onde muitos aí que conheço me vê diferente, com medo e nota a diferença que o tempo fez comigo, não me olham como antes na parada, tá ligado? Com dó e com pena.

Rafaela: O de sempre né, Alemão.- apenas confirmei me sentando na cadeira e desviando meu olhar pra TV pequena que desenrola no jogo do Flamengo contra São Paulo.- Está aí.

- Valeu.- virei no copo.

Rafaela: Posso conversa contigo? É rápido.- olhei pra ela e arquiei a sobrancelha.- É... Baião está sumido...- cortei ela no mesmo momento.

- Ela não está presente na favela.- apenas mandei isso desviando o olhar.

Baião é o único cara que sempre esteve na rotina desde o dia que me tornei do complexo Alemão, um cara que sempre tem o respeito de qualquer um, mermão... fica de canto em na ativa de outros morros.

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(Votem e comentem o que estão achando, cara.)

Mancha VermelhaOnde histórias criam vida. Descubra agora