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Ruan

1 mês depois

Joguei o papelão de lado olhando tudo ao meu redor, a rua ensina tudo, te ensina a viver mais e saber que nem tudo é como pensamos, nunca vai ser, pô. Apesar de tudo, eu conheci vários na rua, conheci alguns menor que são até da hora, porém, pra sobreviver temos que roubar e aprendi isso com eles.

Peixe: Tá foda!- puxou um trago do cigarro.

- Sempre foi.- dei de ombros com indiferença.

Por mais que tento pensar as coisas, eu não tiro nada que já passei, não tiro nada mesmo, cara. Cada dia que passa me atormenta mais, eu me sinto culpado, me sinto humilhado e fico com mais ódio de mim mesmo, vou criando uma barreira comigo mesmo.

Fico bolado e me fecho pra todos, acabo descontando em quem não tem nada haver com isso, eu tô vivendo um pesadelo e tudo é por culpa dela.

Magrinho: aí rapaziada, eu encontrei uns cara que vende umas drogas maneiras... eles tão subindo para uma parada lá, é alemão!

Depois daquele dia não vi mais o Igor e nem consegui conversar mais com ele, assim como nunca mais vi os moradores da onde onde eu morava.

Peixe: Tão esperando o que? Bora desenrolar com eles.- chutou o papelão.

- Eu não vou.- falei alto, sério.

Peixe: Qual é, Ruan.- bufou.- Tú vai ficar sozinho? As vezes os caras pode desenrolar algo pra nós.- suspirei.

Magrinho: É, vamos logo.- saiu na frente.

Fui olhando baixo, bolado já. Quando chegamos na calçada encarei um cara que tinha aparência de ser um pouco mais velho.

Magrinho: Aí, Baião.- fez um movimento com a cabeça.- Esses é os moleques que estão comigo.- Baião olhou cada um de nós.

Baião: Não posso dar mole aqui não, rapá.- olhou bolado.- Vamos logo pra lá.- apontou pra outro lado.

Os meninos acompanhou ele e eu fui mais pra atrás, com receio e com medo apesar de tudo. Ele encarou todo nós, mas ficou mais me fitando, como se tivesse olhando com pena.

Baião: Alemão é um complexo que está dando mais entrada a menores, o crime tá aí, tão querendo morar na rua pra que? Eles vão te fornecer barraco, dinheiro e muita mulheres, bastam tá com disposição e aderir a confiança.- os moleques se entre-olharam.

Magrinho: Maneiro...

Peixe: Demais.

Baião: E tú, menor.- me encarou sorrindo falso, olhei estranho pra eles.

- E... eu...- os meninos me olharam.- Eu tô com eles.- falei baixo.

(...)

O olhos dos moleques brilharam nos cordões de ouros e nas armas, assim como passou o olhar para os radinhos. Eu apenas ficava de canto, não gostava de meter cara em tudo e ainda ficar parecendo um emocionado.

Baião: Qual é dessas cicatrizes?- me olhou por cima.

Magrinho: Ele não vai te falar, já perguntei uma pá de vezes e ele embola tudo.

- Não é nada.- falei sério.

Baião: Agora vai fazer parte e tem que entrar na mente de vocês que podem muito bem crescer no pódio, crescer nessa vida e querer mais e mais.

Acompanhava a fala deles todas, prestava atenção e não respondia nada, apenas ficava na minha enquanto eles desenrolarava nas coisas e eu estava disposto a ser alguém diferente.

....

Subia descalço e com uma mochila nas costas, complexo do Alemão é uma comunidade humilde, porém, como muitos fala, tem bastante tráfico, eles vendem como se fosse normal, algo de outro mundo.

Assim que passei pela entrada encarei os policiais, quando eles baterem o olhar na minha direção começaram a rir.

Xxx: Vem cá, moleque.- abaixei a cabeça andando até eles.

Xxx: Tá se fazendo de coitado é porque deve.- engoli em seco.

- Eu não fiz nada não, senhor.

Xxx: Coloca a mão na cabeça e vira.- obedeci e eles me revistaram, logo em seguida tomaram a mochila abrindo com raiva.

Me dei sorte que já não tinha nada, nada mesmo.

Xxx: Tá errado isso.- levou a mão no meu bolso.- Esse dinheiro aqui é do que?

- Eu estava trabalhando.- ele riu irônico.

Xxx1: Aí Pardal, trabalhando né.

Pardal: Moleque mente na cara mansa, mané.- senti um tapa no meu rosto.- Vai apanhar até saber fazer o certo!

Quando eles falaram isso eu apenas sentia todo ódio torna mais no meu coração, uma raiva e a minha vontade de fazer o mesmo com eles...

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