O abajur aceso me faz lembrar bem a sua voz inconformada que eu lesse até tarde. "Desligue esse abajur, preciso dormir" ouço nitidamente, com sua calma e doce voz de sono. São 02:13 da manhã neste momento e consigo rever esta cena perfeitamente, até consigo vê-la deitada de bruço, com o rosto enfiado em seu travesseiro.
Consigo vê-la levantando com sua calcinha de renda e uma das minhas camisas que nela serviam como vestido com a premissa de que iria beber água e já voltava para a cama. À noite, sempre me vem à memória, virou rotina enxergar ela do meu lado ou na porta do quarto me alertando que já estava na hora de ir trabalhar.
Eu não compreendo bem quando o assunto são essas lembranças repentinas, porque eu já tive outras, essa cama já foi cenário de inúmeras mulheres quais até hoje não sei o nome, mas o seu eu decorei como se fosse minha, até a nomeava, nos dávamos apelidos carinhosos, coisa que nunca aconteceria com outra qualquer e ela até me foi qualquer, ela era uma qualquer. Mas, dela eu gostei, dela eu gostei mais.
Essa coisa de sentir e nem poder escolher quem, no mínimo os trejeitos ou sua descendência, aquelas coisas que idealizamos como requisitos da sua "pessoa perfeita" da pessoa que idealizamos como quem iremos encontrar, casar e ter uma bela família perfeita. Eu, distante disso, estou recordando constantemente de uma das mulheres que eu titulava de "puta" ou melhor "passatempo". Percebo que sinto algo por ela, na realidade não sei muito sobre sentir, sempre as descartei quando me passava o prazer. Sou melhor em enterrar lembranças do que diagnosticar o que estou sentindo, o que me leva a lembrá-las. Mas dela eu gostei, dela eu gostei mais.