Capítulo 14

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  Graham nunca conhecera nada além da região em que morava em seu próprio reino. Conhecia as terras que foram de seu pai, e que foram suas, posteriormente. Nada grande nem que desse orgulho, apenas com espaço para sua velha casa e algumas plantações. Conhecia as terras ao redor da sua. Maiores e com plantações mais fartas, que eram alvo constante de saqueadores, assim como a sua também. Aquela região era conhecida como as terras de ninguém, embora elas tivessem donos e esses tivessem que pagar impostos exorbitantes àqueles que a chamavam de as terras de ninguém.

Conhecia também o bosque e a ruazinha que levava à pequena cidade, onde viajantes, cavaleiros e aventureiros paravam para comer, beber e dormir, sozinhos ou com a companhia de sua preferência. Na cidade, conhecia também os muros altos que cercavam a fortaleza real, que se erguia no alto para todos verem seu esplendor. Durante muitos anos, ficara naqueles portões pensando num jeito de poder entrar.

Não conhecia os outros cantos do reino, que era enorme, segundo todos os viajantes que por lá passavam. Tantas terras e outros reinos inteiros conquistados no sangue para juntá-los num só. Um único rei comandando meio mundo. Graham não conheceu essas terras, não poderia dizer com suas próprias palavras qual a extensão delas. Mas não se importava agora, porque ele conhecia terras que seu rei nunca conhecera, nem conquistara. Era algo novo e ele que estava desbravando.

Conforme os dias que passava ali, ia se apegando aos costumes e se encantando com as coisas novas que descobria. Descobriu que havia mais além da praça central. Havia plantações de trigo à oeste, de algodão mais ao sul e, após as pequenas montanhas, lagos e gramados verdes sob um sol extremamente agradável.

E todos ali viviam de igual para igual. Seu comércio também não funcionava como no reino. Ali ninguém usava moedas, nunca ouviram falar. No lugar, usavam um sistema de trocas. Cada um chegava à um consenso devido ao tamanho e quantidade de alimento ou objeto envolvido na troca. Serviços também eram oferecidos com o mesmo sistema. Graham sentiu-se extremamente idiota por ter dado suas moedas à Bastian achando que elas teriam algum valor para ele. Cada um chegava ao fim da negociação com uma troca justa, a passo que ali não havia intrigas, roubos, discriminação ou injustiça. Mas também não havia contradições às ordens de Eméreter.

Passava os dias acordando cedo pela manhã, andando pela praça, indo até as montanhas e passeando ao redor do lago após as montanhas. Levara um tempo até se sentir confortável para isso, pois apenas pensava nos tais cães selvagens, até que Bastian o garantira de que não aconteceria de novo. Mais ainda tomava o cuidado para não se aproximar demais da floresta. Sentia que um pouco de cautela não faria mal a ninguém.

Em suas manhãs ali pelo lago, observando as pessoas andando sob o sol e fazendo seus desjejum entre amigos e familiares, ficava pensando na sua própria família lá do outro lado, longe de seu alcance. Era algo muito chocante o que Eméreter lhe revelara e a cada dia sentia um pouco mais de curiosidade sobre o que havia realmente acontecido com seus antepassados e quem eles eram. Mas deixava essa curiosidade acumular pouco a pouco, a cada manhã. Durante a tarde, ele esquecia essa curiosidade se ocupando com os afazeres num pub que descobrira ter a melhor cerveja e comida da praça. Limpava e organizava em troca de refeições grátis. O dono era um grande amigo de Bastian e Graham o pediu por essa oportunidade de se misturar com as pessoas e aos seus costumes.

- Você sempre poderá comer e beber o quanto quiser aqui comigo. Não precisa oferecer seu trabalho a ninguém - argumentou Bastian.

- Quero me sentir útil enquanto eu estiver por aqui - defendia-se Graham que, além disso, queria também fugir das habilidades culinárias não tão habilidosas do amigo sem querer ofendê-lo.

Voltava para a casa de Bastian tarde da noite, trocavam suas experiências diárias e iam dormir. No dia seguinte, recomeçava tudo de novo.

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