Capítulo 15

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  O grande recinto que se assemelhava a um pub era cheio de mesas redondas espalhadas pelo local e estava sempre cheio. Pessoas entravam oferecendo alguns objetos, partes de animais para ensopados e outros apenas sussurravam segredos ao ouvido de Migeal, dono do pub. Sentavam-se às mesas e eram servidos do equivalente ao que fora oferecido.

As tarefas de Graham não passavam de ser cordial com os clientes, manter o local limpo e servir as bebidas no balcão. Era fácil demais e não tomava nenhum esforço de sua pessoa. Apenas lutou nos primeiros dias para conhecer todas as bebidas diferentes que serviam ali. Entre elas, o arake extra mélico e o airag de cabra, além do bom e velho vinho de romã, whisky, cerveja e hidromel. Bastian lhe dera uma longa aula em casa para que ele não parecesse tão deslocado do local quanto realmente era - ele não havia revelado a Migeal que Graham viera de fora dos limites da vila.

Migeal era um homem corpulento, alto e sério, porém muito amigável. Sua esposa, Agda, e sua pequena filha, Dulce, o visitavam e passavam o dia ajudando nos afazeres do pub às vezes, como Migael lhe avisara. No primeiro dia de sua visita, Agda se mostrou muito feliz ao ver que o esposo havia conseguido alguém para ajudar com o atendimento.

- É muita bondade sua se oferecer para nos ajudar - dizia numa alegre satisfação. - Assim tenho mais tempo para cuidar da Duc. Falando nela, onde a danadinha se enfiou? - dava voltas pelas mesas se abaixando, a procura de algum sinal da filha.

- Agda, não me diga que ela trouxe aquilo de novo - Migeal tinha a voz pesada com o desânimo.

- Eu não vou dizer nada - a mulher ergueu seu rosto acima de uma das mesas, com um olhar de culpa, porém sem remorso.

- Dulce - o homem resmungou indo em direção à cozinha.

- Você sabe como ela é apegada, Migeal - disse a mulher delicadamente, seguindo o marido.

Graham ficou sozinho no balcão, um pouco nervoso. Estava um pouco cedo e não havia praticamente ninguém no pub. Aproveitou o tempo de sobra para tirar o pó dos copos pela terceira vez, poliu e os dispôs simetricamente organizados em cima do balcão, esperando a chegada dos primeiros clientes. Colocou os rótulos das bebidas atrás de si virado para o lado correto e se abaixou para ver se havia alguma coisa a mais fora do lugar. Tudo parecia em ordem. Copos reservas, tigelas de madeiras, de cerâmica, panos reservas para limpeza, cestas com frutas e um grande cesto com amendoim, que estava se mexendo. Graham se levantou, satisfeito, e olhou novamente para o cesto, com os olhos arregalados. Ele não poderia estar se mexendo, poderia? Após observar longamente o cesto, que agora encontrava-se imóvel, decidiu que vira coisas apenas em sua imaginação. Pôs-se a passar o pano aleatoriamente pelo balcão, quando, com um baque surdo, o cesto começou a rolar no chão espalhando todo o amendoim.

Graham deu um pulo para trás com o coração batendo em sua garganta, uma mão em sua boca para não soltar um grito e a outra apertando com força a borda do balcão. Ficou encarando, gélido, o cesto caído inerte no chão. Recompondo-se, ele se abaixou lentamente para olhar o vão onde o cesto se encontrava segundos antes. Um grande vulto rosa se mexia soltando silvos agudos, vindo em sua direção. Graham, agindo por instinto, agitou o pano que segurava em suas mãos contra o animal que, ao sentir o pano chicotear contra suas costelas, avançou contra a mão de Graham, cravando suas garras e dentes na parte mais carnuda abaixo do polegar. Desta vez ele não conseguira se conter, gritou de dor e susto, caído no chão com a mão balançando no ar, tentando se livrar da mordida da criatura.

- Lady Rashne! - uma voz aguda de criança cortou o aposento. - O que você está fazendo com a Lady Rashne? Solta ela.

Numa confusão de corpos, Graham sentiu sua mão se livrar das garras e dentes. Sentou-se, assustado, aninhando sua mão atacada sob a mão boa e encarou uma garotinha de marias chiquinhas e o rosto em fúria. Em seus braços, acariciava, o que agora parecia, um pequenino animal de pelagem rosa que se assemelhava à um bichano comum, porém com as pernas mais curtas e com pequenos chifres sobressaindo a pelagem em sua cabeça. Com os olhos amarelos, ainda mostrava os dentes afiados para Graham.

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