Dried Petals

141 13 5
                                    

play: Every Breaking Wave (U2)

"Você foi, de verdade, a primeira pessoa que eu amei. E depois de tudo o que nós passamos juntas eu não te dou o direito de duvidar disso.

 Nunca fui boa com palavras, você sabe, mas eu precisava dizer que está doendo demais te deixar ir embora. Do mesmo jeito que doeu te ver sair pela porta dos fundos naquela maldita sexta-feira, quando entendi que as coisas entre nós não seriam mais do mesmo jeito. Acho que não durmo há sete noites. Acho que meu coração nunca sangrou tanto.

 Você vai mesmo ir, não vai?

 Eu queria entender porque nada do que eu tenho a te oferecer parece suficiente. Eu deveria saber. Não, não vou te pedir para ficar. Você está fugindo de nós, mas saiba que, por você, eu teria ficado. Eu teria lutado até o final.
 Eu me detesto por ser tão fraca e te detesto por ser tão covarde. Eu poderia me desculpar por ter errado, mas não vou, porque você errou também e sequer fez questão de me olhar nos olhos enquanto eu desmoronava na sua frente.
 Devo desculpas apenas a mim mesma, por ter me envolvido mais do que prometi que faria. É que havia esse teu maldito sorriso bonito e não sei onde enfiei minha razão, mas, de qualquer forma, agora aprendi que essa merda de amor só fode contigo.
 Nós duas tínhamos medo de que eu acabasse te machucando e não é você quem está com o coração destroçado agora.
 Eu vou me curar. Vou esquecer que eu te tornei meu mundo. Vou seguir em frente, arrumar um emprego, consertar minha vida. Vou ser a garota que Karla Camila teria coragem de amar e gritar que ama para o mundo inteiro. Eu vou mudar e vou viver. Não mais por você, mas depois do que amar você fez comigo.

 E eu teria feito você feliz. Desse meu jeito estranho, meio torto, meio errado, eu me partiria em mil pedaços e atravessaria o mundo inteiro com os pés descalços apenas para acordar com seu sorriso do meu lado todos os dias.
 Alguém vai. Algum dia.
 Algum sortudo do caralho que você irá chamar de primeiro amor para fingir que se esqueceu de nós. E mesmo que você não me convide para o casamento, eu vou torcer pela sua felicidade.
 Porque tudo o que eu quero é ver você feliz, ainda que isso me mate por dentro. Não vamos chamar de altruísmo agora. Eu apenas me considero covarde demais para lutar.
 Seria uma luta perdida.
 Nós somos uma causa perdida. É tão estranho que, mesmo assim, eu não saiba perder você?

Ps: Eu vou me dar ao conforto de acreditar que não era mentira quando você dizia me amar também.

-Lauren. Enquanto eu não desaprendo amar, ainda a sua Lauren."

 Entre a página única, escrita em frente e verso e marcada de dobras e amasso, havia aquela única pétala seca de uma rosa que já foi viva um dia, assim como a nossa história.
 Eu a sinto se desfazer ao mínimo toque do meu polegar trêmulo, quando tento segurá-la, e sinto um soluço sôfrego sacudir meu corpo outra vez. Enterro o rosto entre as mangas largas do meu casaco e deixo que doa. Que queime. Que me mate por dentro. Eu mereço. Não vai passar tão cedo. Nada nunca doeu como ela me dói.
 O cara do assento ao lado me encara com um misto de pena e curiosidade. Em uma competição silenciosa com a criança de três meses aos berros alguns assentos a frente, minhas lágrimas despencam e engulo a minha vontade de gritar.
 Encolho as pernas, abraço meus joelhos e espero a próxima aeromoça aparecer para reclamar da minha posição. Quando ela puder tornar despedidas mais fáceis, talvez eu a escute. Guardo a carta de Lauren no meu bolso e encaro a poeira de pétala que restou na palma da minha mão direita. Assopro-a, sutilmente, e cada mínima partícula termina por se camuflar no ar enclausurado ao redor de mim.
 Éramos aquela pétala. Talvez, enquanto duramos, uma flor inteira, mas perdemos a maior parte do inteiro em pouco tempo.
 Lauren a secou e eu a destruí.
 Ela me machucou e eu a fiz sofrer.
 Nós nos arruinamos.
 Dentro de um avião a caminho do outro lado do mundo e carregando mais dor que roupas em minhas malas, fecho os olhos e me lembro dos olhos dela, que se tornaram meu planeta particular e preferido. Admito que eu talvez nunca mais me apaixone tanto pelos olhos de alguém e talvez ninguém nunca chegue aos pés dela, que arrancava meus pés do chão e me levava longe, me mostrava o mundo, me abraçava forte, me fazia sorrir como se a vida fosse simples e me fazia chorar como uma adolescente boba enquanto descobria o amor em mim.
 Percebendo que pensar nela só me dá mais vontade de voltar atrás e refazer o que fomos, fecho meus olhos com o dobro de força e engulo a saudade a seco. Amassa meu peito, me arranha a garganta. O cara ao lado me oferece um café e eu aceito.
 Café amargo. Agradeço. Hoje, nada combinaria mais comigo.

-Eu não quero me meter, mas você parece mal.

 Conclusões impossíveis de serem tiradas.
 Suspirei, evitando o impulso de revirar meus olhos. Ele só está sendo legal e não tem culpa se a minha vida amorosa se tornou um desastre de cinema –desafortunadamente, sem o final feliz.

-Sou Harry Styles -sorriu gentilmente, ajeitando o corpo sobre o assento- Não precisamos necessariamente falar sobre o que é que te dói, mas se conversar sobre qualquer besteira que te distraia pode servir de alguma coisa, estou aqui.

 Eu queria, na verdade, mandar ele ir se foder e me deixar em paz com a minha melancolia, mas não era o caminho seguro. Chorar só me faz querer chorar mais, chorar mais me faz querer chorar pra sempre, chorar pra sempre me parece a desculpa perfeita para voltar atrás. Torno a esticar minhas pernas e engulo em seco. Esfrego o resto das lágrimas, focalizo meus olhos no garoto cabeludo simpático -que deve ser apenas dois anos mais velho que eu- e estendo a mão para cumprimentá-lo.

-Camila Cabello
-O que está te levando a Londres, Camila?

 A pior decisão que eu já tomei na minha vida.

-Faculdade. E você?
-Tráfico
-Engraçadinho -revirei meus olhos-
-O que há de errado? Não tenho cara de traficante?
-Sério, garoto? –eu ri. Genuinamente, pela primeira vez em algumas semanas- Talvez tenha cara de vadia dos traficantes, no máximo.
-Uau. Você é sincera -franziu os olhos- Faculdade, também. Está animada?

 Eu com certeza deveria estar. Levando em conta o quanto é difícil ser aprovada na Universidade de Londres e o fato de eu ter conseguido algo desse tamanho aos 18 anos, eu deveria estar urrando de felicidade, soltando corações pelos olhos e falando pelos cotovelos como uma adolescente recém formada prestes a mudar de país. Deveria. Mas vamos lá, meu coração está ocupado se remontando e vou precisar de algumas semanas. Talvez meses. Talvez anos. Em quanto tempo se supera um amor, afinal?
 Não tenho referências.
 Lauren foi a minha primeira e eu realmente acreditei que seria a última.
 Pessoas e relacionamentos deveriam vir com manuais de instrução. Em caso de um desastre inesperado, saia para tomar um porre com seus amigos até que o álcool te faça esquecer, enfie a cara nos estudos até não ter tempo para lembrar, finja que a saudade não é verdade até seu coração deixar de insistir e toda essa merda. Acredito que o desejo absurdo e sufocante de voltar atrás seja parte do processo, assim como não ceder a ele. Acho que estou indo bem até agora, na medida do possível. Não é como se 24 horas fosse tempo suficiente para apagá-la de mim.

-Claro. Estou feliz -garanti, me esforçando para soar sincera-
-Então suponho que todas essas lágrimas são de felicidade.
-Provavelmente já deve ter notado que não e só está perguntando para arrancar algo de mim -ele riu, descansando a cabeça no apoio da poltrona- Devo estar terrível.
-Você vai ficar bem. Se amor nenhum dura pra sempre, dor de amor também não. De jeito nenhum.
-É meio difícil acreditar nisso agora, garoto. Ela realmente acabou comigo. -Harry franziu os olhos-
-Ela? -assenti, entre outro suspiro. Encontrei nos suspiros uma estratégia excelente para driblar as lágrimas. Quando não acontece de ser possível, dou tapas na minha própria testa até elas desistirem de cair. Quando nada disso funciona, aí, finalmente, eu choro- E como é o nome dela?

 O nome dela é saudade. Lauren e saudade se tornaram sinônimos, equivalentes, uma é consequência da outra. Também posso chamá-la de raiva, tristeza e qualquer coisa que se inclua no caos do meu peito. Posso até chamá-la de meu fim, porque ela também foi. Meu mal-humorado, misterioso, incrível e irresistível fim -de olhos verdes e sorriso lindo. De cabelo negro e manias bobas.

-Lauren -murmurei, sentindo que minha voz falhava outra vez- Lauren Jauregui.

 Ele morreu o lábio inferior, esticando um dos braços para atravessar por meus ombros.

-Me parece com o nome de alguém que gosta de partir corações.

 É, ela gostava. Não fui o primeiro coração que Lauren partiu.
 Mas, sem dúvidas, o meu foi o primeiro que devolveu cada golpe. E foi assim que a nossa história veio a nocaute. 


----------------------------------------------------------------------

hello hello hello how low -kurt cobain voice-
turubom?
espero que vocês gostem
e comentem
e me cobrem
e etc e tal
primeiro capítulo é pra rah pq ela é minha gêmea da alma/corretora ortográfica/nenê
eh isto
(qualquer coisa apareçam pra me xingar no twitter, é @eversincekcc. bjs de luz)


In My VeinsOnde histórias criam vida. Descubra agora