I Wanna Breathe Her

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Play: Girl Crush - Harry Styles Cover (quem tiver spotify escuta por aqui que a qualidade do áudio tá melhor https://open.spotify.com/track/4YutJsNwBBInE8vemufpQ8 )

 Estava frio pra caramba naquela cidade e eu sentia falta de Miami. Entre os espaços mínimos de tempo em que a minha obsessão por certa garota me permitia pensar em qualquer coisa além dela, eram as minhas únicas certezas. Que detesto Nova York e detesto não conseguir manter minha mente em qualquer outra coisa -o que, indiretamente, significa pensar nela também. Estou cansada disso.

 Além, claro, de eu estar sendo ridícula, patética, emocionada e qualquer outro ridículo que sirva de sinônimo ou complemento para grudenta. Irritante. Fere meu orgulho e fere o meu senso do ridículo perceber que nem me importo. Não sei o que estou tentando. Não sei o que estou fazendo.

 Sei, apenas, que aquela garota é demais para mim, e se por ventura ela se lembra de alguma coisa do que aconteceu no sábado à noite, certamente está preferindo esquecer -então o que é que eu estou fazendo aqui? Porque não me dei conta de que esperar horas e horas para vê-la de novo e, então, fingir que ela não é o motivo de eu ter vindo, soa desesperado e meio psicótico?

 O que é que está acontecendo comigo?

 Eu fugiria, se estivesse no lugar dela. Estou quase fugindo. Eu não me lembro de já ter gostado tanto do beijo de alguém como gostei do dela e isso o primeiro passo para um desastre épico. Talvez seja apenas coisa da minha cabeça e, sinceramente, espero que sim. Espero que alguns amassos em qualquer canto escondido dessa rua quase deserta resolva a minha obsessão.

 Espero que Camila queira me beijar só mais uma vez. Espero que essa última vez dure o suficiente para que eu nunca mais sinta vontade.

 Espero que meu plano não despenque ladeira abaixo.

 Espero que o gosto da boca dela não fique impregnado em mim por mais uma dia, nem uma semana e nem mais tempo nenhum. Eu tenho medo de que ela se torne o meu novo vício. Sei que não há lugar nenhum em mim onde possa existir a mínima vontade de combate-lo.

 Meu terceiro cigarro alcança o filtro e o atiro apagado no chão, controlando o impulso de acender outro enquanto limpo o suor das minhas mãos na calça jeans e respiro fundo. Oito e trinta e dois da noite, em ponto, as risadas altas vindo de dentro do colégio me despertam do meu estado de torpor e aprumo meu corpo contra o muro mofado, repassando o que dizer.

 Ou o que não dizer.

 Como agir.

 Como não parecer mais ridícula do que já estou sendo.

 Como convencê-la de que não estou ficando louca.

 Ouço a voz de Camila e meu coração me dá um soco no peito. Repetindo palavrões sussurrados por não conseguir me lembrar de meia merda do discurso casual e relaxado que eu tinha pronto para quando ela viesse, acerto o punho fechado contra minha própria testa e acendo outro cigarro com minhas mãos trêmulas.

 Trago. Duas vezes.

 Eu preciso ir embora daqui antes que ela me chute. Ela é a garota popular que joga futebol e chuta as pessoas, os garotos, as meninas, qualquer pessoa, qualquer ser humano, qualquer criatura. Camila tem fama de inalcançável. Os rumores ao redor da escola são de que ela consegue dispensar alguém com a suavidade de quem diz um bom dia. Como raios eu a beijei naquela festa? Duas possibilidades: álcool ou o duende dos milagres estava bastante inspirado.

In My VeinsOnde histórias criam vida. Descubra agora