Wish I Could

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 Lauren

 Dezembro chegou e cobriu Nova York de neve.

 As ruas inteiras em tom de branco, luzes natalinas de um canto a outro, pessoas de nariz vermelho e casacos grossos, um papai Noel a cada esquina, corais de crianças carentes cantando nas praças, pistas de patinação protagonizando tombos épicos em conjunto e a fila do Starbucks crescendo a cada dia. Desde que eu havia chego naquela cidade, era, sem dúvida, a primeira vez que ela me agradava um pouco.

 Em Miami, quase não há neve.

 A neve faz com que eu me sinta em um desses filmes clichês de romance natalino. Ponto para Nova York.

 Equilibrando dois copos de chocolate quente na minha mão direita, me esgueirei entre a multidão de pessoas circulando pelas calçadas da quinta avenida sem a mínima paciência ou cordialidade. Conferi novamente o endereço que recebi por mensagem e respirei aliviada ao fazer a última curva, avistando o letreiro discreto e vintage da livraria.

 Coisas típicas da Camila. Ela realmente tem algo contra a cultura do século 21.

 Então eu, basicamente, me apaixonei por uma garota que bate em mim sempre que ouço músicas com palavrões.

 Eu apanho bastante.

 E cada maldito detalhe só me faz ainda mais louca por ela.

-Trago a pessoa amada em dois dias -a mulher de vestido longo e bijuterias extravagantes me abordou na calçada, empurrando um folheto contra meu peito. Seu cabelo ruivo e ondulado parecia ter entrado em guerra com o clima- Dois dias, ouviu? Não três. É só marcar uma consulta, menina bonita. Também vejo o futuro e te livro de más energias!

 Dois dias?

 Mais um pouco de concorrência e alguém ofereceria os mesmos serviços em um tempo recorde de dez minutos.

 Estive a ponto de perguntar se os poderes mágicos dela eram capazes de fazer Camila se apaixonar por mim também, mas não quis soar amargurada. Rindo da minha própria estupidez, trombei em algum idiota tão distraído quanto eu assim que empurrei a porta da livraria.

 O chocolate quente realmente quente explodiu do copo e encharcou as beiradas do meu casaco aberto, a camiseta por baixo, minhas mãos, me arrancando um gritinho assustado e doloroso na medida em que aquela merda me queimava. Ouvi aquela risada conhecida em algum canto enquanto o homem de olhos arregalados parecia desesperado em se desculpar.

-Está tudo bem. Não se preocupe, está tudo bem -insisti, antes que ele tivesse uma crise de asma.

-Tem certeza? Olha, moça, eu posso...

-Sim, sim. Só preciso me secar -sorri, tranquilamente. Ele assentiu e se desculpou mais uma vez antes de sair.

 Camila me encarava de longe, o livro aberto sobre a pequena mesa de madeira, o queixo apoiado na mão direita e um sorriso divertido no rosto. Revirei meus olhos e caminhei até ela, lhe entregando o copo sobrevivente depois de atirar o outro no lixo.

-Apostei vinte dólares comigo mesma que você não chegaria intacta até aqui. Toda desastrada.

-É culpa minha se o cidadão de Nova York tem problemas de vista? -me defendi, pendurando o casaco nas costas da cadeira. Camila franziu o nariz, apontando com o indicador para os próprios lábios, e sorri do jeito idiota de sempre antes de me inclinar para beijá-la- Está aqui há muito tempo?

-Algumas páginas de Agatha Christie e mais vinte e três páginas de O Morro dos Ventos Uivantes. Eu já li um milhão de vezes e confesso que pulei alguns parágrafos, então acho que uns vinte minutos -deu de ombros, tirando a tampa do copo para assoprar antes de dar um gole- Você mora do lado da minha casa e cruza a cidade para nos encontrarmos. Nós somos mais precavidas ou mais ridículas?

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⏰ Última atualização: Jun 14, 2019 ⏰

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