Through Her

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 Meu sobrenome deveria ser sedentarismo. Lauren Michelle Sedentarismo Jauregui. Nunca fiz parte de equipe nenhuma, nunca fui uma atleta, nunca me candidatei a líder de torcida e matava a maioria das aulas de educação física -consequentemente, acumulava uma coleção admirável de notas baixas no meu boletim. Em Miami fui assim, agora em Nova York também. Meu negócio era tocar violão no auditório vazio e ir para os fundos da escola fumar maconha quando ninguém estava vigiando, o que explicava alguma coisa; eu só tinha 17 anos, mas meus pulmões não me deixavam nem correr dez metros sem agonizar.

 Não houve um mero indivíduo que não tenha estranhado quando me juntei a minha turma nos treinos de futebol aquela manhã, mesmo morta de cansaço e ciente de que praticar alguma atividade física fosse minha última pretensão. Halsey perguntou a Louis sete vezes se aquilo era o apocalipse batendo à porta e a técnica quase me mandou para a detenção quando lhe ergui meu dedo do meio, então não fiz mais, porque não podia correr o risco, e eles continuaram torrando minha paciência.

 Precisei fingir fazer alguma coisa durante dez minutos. Me alonguei com as outras garotas e dei voltas ao redor do campo, parando para recuperar o fôlego a cada trinta segundos, e cheguei a participar da divisão dos times.

 Toquei a bola de um lado para o outro e fiz caretas enquanto as outras armavam jogadas. Halsey discutiu com Louise Adams, que fez uma falta forte demais em sua panturrilha direita, e Courtney Path amaldiçoou a família de qualquer pessoa em um raio de dois quilômetros quando errou o tempo de bola na cara do gol.

 Não havia espírito esportivo ali. Elas jogavam movidas pela força do ódio.

 Assim que avistei a turma do segundo ano vir desde o vestiário até o campo de treinos ao lado do nosso, corri até onde Halsey estava e acertei meu cotovelo em sua costela para chamar a atenção.

-Me derruba!

-O que?

-Não pergunta, merda. Só me joga no chão.

 Ela franziu os olhos, mas fez. Deixou que eu recebesse o próximo passe e se lançou contra o meu corpo, me fazendo a despencar feito um saco de batatas sobre a grama macia. Levei uma mão ao meu braço direito e não precisei forçar caretas de dor, porque minha amiga é um brutamontes e realmente doeu. A treinadora apitou e se aproximou para conferir enquanto Halsey se desculpava.

 Ela tocou os dedos da mão direita no meu ombro e eu gritei. Adivinhem para quem irá o próximo Oscar?

-Desnecessário, Vives -bufou, me puxando pelo braço bom para que eu ficasse de pé- A enfermaria está fechada, então pegue um pouco de gelo e fique quieta. Cuidamos disso depois.

 Isso mesmo, senhoras e senhores. Lauren Sedentarismo Jauregui acaba de se tornar a atriz do ano.

 Alcancei uma bolsa de gelo e uma garrafa de água no cooler ao lado de uma das traves e fui me sentar em algum lugar onde eu pudesse vê-la. Sim, era o meu único objetivo e ninguém pode me julgar. Camila se alongava enquanto batia papo com algumas colegas e estava absurdamente linda naquele uniforme justo -para não dizer gostosa, o que soa meio rude, mas foda-se porque ela não me ajuda nem um pouco a manter minha mente livre de perversões.

 Quando me viu, franziu os olhos e acenou. Sorriu. Um sorriso largo, meio confuso, meio sacana -sim, ela conseguia fazer as três coisas virarem algo singular. Se virou de costas e curvou o corpo para tocar os pés com a ponta dos dedos, marcando sua bunda admirável no short de malha e eu juro que senti minha boca secar.

 Ela estava fazendo de propósito? Pelo menos imagina o que aquilo causa na cabeça de alguém?

 Alguns caras assoviaram e eu pensei em mandar todo mundo ir se foder, mas não era nenhum deles que ela estava provocando daquele jeito. Eles não colocaram as mãos sobre aquele corpo inacreditável duas maravilhosas vezes. Pensei em sorrir também, mas meu queixo estava caído no chão e daria trabalho trazê-lo de volta -sabendo que ela o faria despencar de novo, de novo e de novo, infinitamente, não me dei ao trabalho. Porque ela é a Camila, afinal, e apesar de jogar futebol, o esporte favorito dela é me fazer perder a razão.

In My VeinsOnde histórias criam vida. Descubra agora