Capítulo 7

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Rage

"Mamãe?" Sussurro baixinho, procurando caminhar pela casa nas pontas dos pés, caso o homem mau ainda estivesse aqui. Ele normalmente não estava, mas eu já estive errado antes, e nunca era bom. "Mamãe?" Camo novamente, um pouco mais alto dessa vez.

Aperto o Chuck, meu boneco de pelúcia que a mamãe me deu quando eu era menor, no meu braço, meu coração acelerado no peito. Será que o homem mau tinha levado a mamãe? Não... Ele estava no bar a essa hora, e ela estava em casa. Era sempre assim. Sempre.

Caminho pelo corredor, me afastando mais e mais da porta do meu quarto. Minha casa não era muito grande, mas tinha dois andares. No de cima, tinha dois quartos, o meu e o que mamãe dividia com o homem mau, e um banheiro. No de baixo, tinha a cozinha, sala e... Bem, só.

Desço as escadas devagar, mordendo o lábio quando escuto o barulho do degrau rangendo. Eu já tinha seis anos, digo a mim mesmo, podia lutar com o homem mau caso precisasse, tento me convencer. Mas, da última vez que tentei, não acabou muito bem para mim.

Mas, se eu não tentar nada, ele vai para cima da mamãe. E a mamãe está fraca, não consegue defender a si mesma. Ela precisa de mim. Seu Damon, ela dizia. Eu podia proteger ela. Iria conseguir.

Continuo descendo os degraus, mais rápido dessa vez. A sala estava vazia, e eu vou até a cozinha procurar. A minha casa era meio bagunçada, por isso não trazia meus amigos da escola aqui. Ou pelo menos seria por isso que eu não traria nenhum, se eu tivesse algum amigo.

Mas as crianças na escola não gostam muito de mim. Mamãe diz que é porque são estúpidas e não sabem escolher um bom amigo. Ela não gosta que eu ande com garotos na minha idade, diz que vão me machucar. Mamãe acha que todos vão me machucar... Mas tudo bem. Ela só quer me proteger.

Procuro na cozinha, mas também não encontro nada lá. Suspiro, apertando Chuck contra o meu peito. Sempre o carregava para todo o lugar. O homem mau não gostava, dizia que parecia me fazer fraco, mas mamãe sempre sorria um pouco ao me ver com ele, então eu nunca o deixava de lado. Gostava quando mamãe sorria.

Sem encontrar ninguém ou nada na cozinha, abro a geladeira. Estava vazia. Nunca tinha muita coisa na geladeira. Mamãe normalmente pedia algo para nós comermos, e o homem mau sempre comia no bar. Ele trazia dinheiro de volta todo dia, mesmo que eu não soubesse de onde ele conseguia.

Com um suspiro, fecho e começo a andar de volta para as escadas. Subo devagar, os degraus rangendo ao meu pé, e caminho lentamente de volta para o meu quarto. Porém, antes de entrar, paro na porta e olho para a porta fechada do quarto de mamãe.

O homem mau não estava em casa hoje, então ela podia estar no quarto sozinha. Com um sorrisinho, decidido a encontrá-la, eu caminho até a porta e lentamente abro.

"Mamãe?" Sussurro, e quando não recebo resposta dou alguns passos a frente. O quarto estava vazio, e eu bufo de decepção.

O único lugar na casa que restava era... O banheiro! Isso, ela pode estar no banheiro. Com um novo sorriso e um pouco de esperança, ando mais rápido para o banheiro.

Bato na porta fechada.

"Mamãe? Está aí?" Quando não escuto resposta, franzi a testa e abro a porta, me esticando para pegar na maçaneta. Eu era pequeno, sempre fui baixinho. O homem mau diz que isso me faz fraco e frágil.

Mamãe sempre disse que gostava.

Travo assim que encontro a figura na banheira, sabendo que aquilo não podia ser bom.

"Mamãe?" Chamo, meu lábio tremendo e meus olhos queimando, enchendo de lágrimas. Me aproximo dela e balanço seus ombros. "Mamãe, acorda."

Ela estava deitada na banheira, com a cabeça apoiada na borda. A água estava toda vermelha, cor de sangue, e seus pulsos, boiando na água da banheira, estavam cortados. Pego a mão dela, lembrando que mamãe sempre me disse que meu beijo curava tudo.

Dou um beijo em seu braço, um pouco acima de onde estava cortado.

"Mamãe?" Chamo uma última vez, minha voz fraca. Eu não sabia o que estava acontecendo. Tinha seis anos, e mamãe não estava me respondendo.

Mas fiz algo que nunca saiu de minha mente. Aquele som... Eu abri minha boca, e eu gritei.

Acordo em um baque, pulando na cama, suor escorrendo pela minha testa. Percebo alguém gritando, mas levo um tempo para notar que a pessoa era eu. Pisco algumas vezes, tentando desesperadamente tirar a imagem vívida na minha cabeça.

JP não corre para dentro do meu quarto, como vez da primeira vez. Ele já havia se acostumado com os pesadelos.

Com pressa, pego a faca na cabeceira da cama e faço um corte relativamente grande no meu peito nu, vendo o sangue escorrer. Imediatamente relaxo um pouco, jogando a cabeça para trás e fechando os olhos.

Os abro assim que a imagem volta. Era por isso que eu não dormia, porra. Toda a noite, dormia cerca de uma hora, duas no máximo. Saudável, não muito. Mas era melhor que os fodidos pesadelos...

Ou melhor. Que as fodidas memórias.

Eu não queria ter nada disso na minha cabeça. Não queria lembrar da noite em que encontrei minha mãe morta na banheira, porque cortou os próprios pulsos. Não queria lembrar do dia em que ela me abandonou, porra.

O homem mau chegou minutos depois daquilo. Nunca iria esquecer seu rosto, a expressão distorcida ao ver minha mãe morta. Como se ele se importasse com ela... Como se ele a amasse, até. Puto escroto do caralho.

Se ele a amava, meu nome é Barney. A única coisa que o filho da puta sabia fazer era sair, ficar bêbado, voltar e meter porrada na sua esposa e no filho dela. Bem... Filho dos dois, tecnicamente.

Mas assim que ele era. Assim que ele sempre foi. É... Pai do ano, realmente.

Eu achava que aquele dia foi o pior dia da minha vida... Por algum tempo depois daquilo, acreditei nisso. Fui burro para cacete.

O pesadelo chegou depois.

Rage- Flaming Reapers 5Onde histórias criam vida. Descubra agora