Capítulo 15

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Rage

"Sério, cara... Quem é a cadela?" Snake me pergunta, e eu sinceramente me pergunto porque demorou tanto para ele me questionar sobre isso. Dizer que não era exatamente comum eu trazer garotas para o meu quarto é um fodido eufemismo. A única cadela que já foi lá é... Jade?

Porra, sim. Pouco depois que cheguei no clube, ainda era um prospecto, Snake a mandou para mim. Ela perguntou se eu queria sexo, e eu disse que não. A cadela deu de ombros e ficou tentando falar comigo por algum tempo, e desistiu quando viu que não ia funcionar. Eu gostava dela, porém. Era uma garota boa, e não mereceu morrer do jeito que fez.

"Temos um rato no clube. Está preocupado com uma garota que eu trago?" Questiono, vendo Joker tomar o lugar no meu outro lado. Rolo os olhos, deixando a cabeça cair no encosto do sofá.

"Termos um rato no clube é mais comum do que você trazer uma cadela, Rage." Joker diz, e Snake solta uma gargalhada. Era raro que o motoqueiro fizesse uma piada, então quando fazia podia ser apreciada. Seu rosto era sério, mas tinha uma pitada de diversão em seus olhos.

"Vão se foder." Resmungo, e os dois não respondem, deixando que eu não fale mais sobre o assunto. "Vee me contou sobre o treinamento das meninas."

"Porra, nem fala sobre essa merda." Snake resmunga, mas eu podia ver o amor em seus olhos, algo que não achei que aconteceria com ele.

"Me deixa puto para caralho que Skyler tenha que fazer isso." Joker murmura, e eu vejo Crow e Aqua perto do bar. A Old Lady tinha uma expressão meio triste, mas parecia disfarçar com um sorriso no rosto.

Não falo mais nada sobre o assunto, e em alguns minutos decido ir para o meu quarto, essa porra de bloqueio já me dando nos nervos. Eu gostava de ficar no clube... Mas precisava do meu tempo, porra. Precisava para caralho.

Mas, aparentemente, eu não teria isso tão cedo. Assim que abri a porta, encontro Thea sentada na cama, com um livro aberto no colo e seus olhos focados na página. O fato de que, quando viemos para cá, ela se lembrou de um livro e esqueceu de trazer roupas era surpreendentemente adorável.

Seus olhos encontram os meus quando eu entro, e ela me oferece um pequeno sorrisinho. Aquele sorriso faz meu coração correr um pouco, e eu trinco a mandíbula. Odiava essa merda.

Quando ela adormeceu, ontem a noite, eu a observei por um tempo. Fiquei lá, parado, a olhando dormir. Quando ela rolou para o outro lado e esfregou os olhos levemente, fazendo um som incrivelmente fofo, meu coração correu de um jeito que não fazia desde... Bem, nunca. E isso assustou o inferno fora de mim.

E coisas me assustando não era normal. E eu odiava esse sentimento filho da puta.

"Por que faz isso?" Thea pergunta suavemente, me afastando do meu devaneio, e eu fecho a porta atrás de mim, suspirando.

"Faço o que?" Pergunto, e ela marca o livro com uma fita verde, fechando e deixando de lado, ajoelhando na cama para me encarar.

"Desde de manhã. Faz essa careta, trincando a mandíbula e franzindo o cenho toda vez que se aproxima de mim." Diz, e eu meio que gosto do fato dela ser direta, apesar de desejar que não tivesse dito isso. Porque eu não consigo mentir para ela.

Então apenas me viro de costas, indo em direção o armário para trocar de roupa. Eu tinha a intenção de treinar um pouco lá em baixo, na sala de treinamento, já que era o único lugar que me fazia relaxar nesses bloqueios. Tiro a camisa, sem querer olhar em seus olhos.

"Porque você chega muito perto." Murmuro, e um instante de silêncio segue. Sem me importar se ela estava encarando ou não, tiro as calças jeans e troco por uma de moletom.

"Perto de que?" A escuto falar, sua voz um pouco alterada, então eu me viro. Seus olhos estavam em meu corpo, e sei que ela não deixa de notar as cicatrizes. Não tinha como não notar.

Elas estavam aí desde meus sete anos. Por todo o fodido lugar no meu corpo.

Me aproximo um pouco dela, parando na frente da cama. Thea estava ajoelhada na borda do colchão, então estávamos mais perto que o normal. Analiso seu rosto por alguns segundos antes de falar.

"Perto demais de fazer com que eu me sinta... Normal. Humano." Ela franze a testa, e eu me afasto, caminhando em direção a porta para sair.

"Você é humano, Rage." Thea responde, e eu solto uma risada. Não era de humor, era ríspida, feia. Incrivelmente sarcástica.

"Não, Tee. Eu não sou." Digo, me virando para ela. Me aproximo novamente enquanto falo as próximas palavras, lentamente. "Humanos não machucam as pessoas. Humanos não matam pessoas que amam. Humanos têm pessoas com quem se importam com eles."

Assim que termino a última palavra, nós estamos cara a cara, apenas um pouco afastados. Quando Thea desce da cama, ficando em pé na minha frente, estamos um suspiro um do outro, mas ainda sem se tocar. Meu corpo fica tenso, mas eu não afasto.

"E se eu me importar com você?" Ela pergunta, sua voz não mais com um sussurro, e eu trinco a mandíbula.

"Você não pode gostar de mim, Tee. Não faça isso com você mesma." Murmuro, e a garota franze a testa.

"Por que não?" Eu suspiro, sem ser tão ríspido dessa vez, minha voz saindo mais cansada do que qualquer outra coisa quando eu falo.

"Porque eu destruo coisas. Pessoas. Sempre fiz isso, nunca vai parar. Eu destruo tudo que toco, e por isso não toco em mais ninguém. Não pode se importar comigo, Tee, porque essa vai ser sua sentença de morte." Seus olhos se enchem de lágrimas, e eu sinto uma pontada ao fazê-la chorar novamente. Mas ela precisava ouvir isso. Cada pequena palavra.

"Rage..." Não a deixo terminar.

"Estou falando sério, garota. Fique. Longe. De mim." Sussurro, minha voz mais rígida dessa vez rigorosa. Ela morde o lábio, e eu sabia que estava impedindo um choro.

"Tudo bem." Murmura, e da a volta por mim. Fecho os olhos, apenas escutando a porta bater quando ela saí.

Fico parado por alguns longos minutos. Porra, eu sabia que era necessário... Então eu não deveria ir atrás dela, não é?

Não, não deveria. Mas, mesmo assim, eu me encontro saindo do quarto em busca daquela garota.

Rage- Flaming Reapers 5Onde histórias criam vida. Descubra agora