Rage- Flaming Reapers 5

Capítulo 28

Thea

As duas semanas seguintes foram... Difíceis, para dizer o mínimo. Eu não saí do lado de Azura em nenhum momento. Posso contar nos dedos às vezes que saí daquele hospital. Dica... Não iria nem mesmo usar a segunda mão. Não houve nenhum sinal de melhora em seu estado, mas de piora também não, o que eu suponho que seja bom.

Enquanto eu não saí do lado da minha amiga naquela cama de hospital, Rage não saiu do meu lado em momento nenhum. Não posso dizer que falei mais de duas palavras com ele, ou com ninguém, na verdade, mas estava mais do que grata por ele está ali. Se não fosse isso... Eu provavelmente teria desabado ao som da palavra coma.

Outra pessoa que também não saiu do hospital, e eu ouso dizer que passava mais tempo lá do que eu? Sniper. Depois do ataque de Azura, o motoqueiro pareceu sentir uma espécie de culpa, e agora também não deixava minha amiga sozinha. Eu internamente o agradecia por isso.

Já Alexis... Bem, a menina estava um pouco irritada. Isso era o meu uso do eufemismo. Nenhum dos Flaming Reapers a deixava sair muito, e quando ela saia, uma horda de motoqueiros ia com ela. A garota ia para escola com pelo menos três deles a seguindo... Eu fiquei agradecida por isso também.

Eu havia criado uma rotina nesse último par de semanas. Acordava no quarto de Rage, com o motoqueiro ao meu lado, me arrumava e ia para o hospital, onde eu passava o dia inteiro. Depois, a noite, voltava para o clube e dormia, apenas para repetir a mesma coisa no dia seguinte.

Apenas uma declaração a fazer sobre isso... Comida de hospital era uma merda.

Mas, um dia, eu meio que quebrei a rotina. Acordei cedo demais, e não estava na hora de ir para o hospital ainda. Então, decidi levantar e sair do quarto. Talvez tomar um ar, ou algo assim.

Eram em volta de seis da manhã, então não haviam muitas pessoas acordadas no clube. Passo pelo complexo, indo para o lado de fora. Assim que saio, escuto os gritos.

"Isso é uma fantasia, Crow! Uma fodida fantasia!" Franzi a testa ao reconhecer a voz. Aqua.

A voz vinha mais afastado um pouco, e eu não conseguia vê-los, mas dava para ouvir perfeitamente.

"Não é não, little blue! Eu já te disse, não vou te ensinar a lutar apenas para você acabar como uma de nós!" A voz do Prez grita de volta, e eu mordo o lábio, sem saber se devia voltar ao clube ou não.

"Sério? Eu não quero isso, quero apenas saber me defender." A voz da Old Lady vem igualmente poderosa, e eu me surpreendo. Aqua não me pareceu o tipo de pessoa que se levantava por si mesma dessa maneira... Bom saber que eu estava errada.

"Você não vai precisar." Crow retruca e, apesar de eu não conseguir ver o seu rosto, quase consigo ver sua expressão irritada.

"Por que? Porque você vai ficar comigo o tempo todo? Vinte quatro horas por dia? Isso é uma fantasia, Crow, e você sabe muito bem!" Um minuto de silêncio segue após a fala de Aqua e eu franzi a testa.

Me encosto contra a parede externa do clube, decidindo não voltar ainda. Eu precisava de um ar. Ei, não me culpe por escutar as conversas alheias. Regra número um de brigas... Se você não quiser que todos escutem, não gritem em um lugar aberto e exposto. Todos conhecem a regra básica.

A culpa não é minha se Crow e Aqua não estão seguindo a regra.

"E se eu acabar que nem Azura, ahn? A diferença é que eu vou acabar pior, porque Az consegue se virar. Você não pode ficar na minha cola todo minuto, Crow, ou isso não vai funcionar." A voz da Old Lady vem mais baixa um pouco, mais calma, como se quisesse fazer seu marido pensar.

"O que não vai funcionar?" O Prez questiona, e até mesmo eu consigo ouvir a pitada de receio em sua voz. Tudo bem, não imaginava Crow nessa situação até esse segundo.

"Nós. Nós não vamos funcionar desse jeito." Aqua responde, sua voz fraca, e eu sinto uma pequena vontade de chorar pelo casal.

Mais um minuto de silêncio segue, até que ouço alguém suspirar.

"Eu te amo, Lil blue. Não vou ficar na sua cola o tempo todo... Algum outro motoqueiro vai. Não vou te treinar, Aqua." Então eu escuto passos se afastando, e dou graças a Deus que Crow não foi na minha direção.

Mas o sentimento de alívio passa rápido, quando quase trombo com Aqua quando a Old Lady faz a curva, saindo de trás da parede onde os dois estavam, com uma expressão cansada. Ela me encara franzindo um pouco a testa.

"Você escutou?" A menina não parecia chateada, apenas curiosa, e eu assenti cautelosamente. Ela suspira e se encosta a parede ao meu lado. "Ele é tão frustante."

"Você quer que ele a treine?" Pergunto, porque essa parte ficou meio duvidosa na minha cabeça. Ela encosta a parte de trás da sua cabeça na parede.

"Não precisa ser ele... Alguns dos motoqueiros. Spain, Dragon, Sniper... Qualquer um. Mas Crow tem essa fodida fantasia que vai conseguir me proteger toda vez que algo acontecer." Diz, fechando os olhos por alguns instantes.

"Eu acho muito foda que você luta com ele por o que quer." Digo, sincera, e ela abre os olhos para me encarar. Um sorrisinho aparece em seu rosto e suas bochechas coram um pouco.

"Me levou alguns meses para aprender a fazer isso, e não sei se ainda dominei essa área." Solto uma risadinha e a Old Lady me segue um pouco.

"Quer um conselho?" Pergunto, e ela assente. Sorri um pouco. "Não deixa ele ganhar. Se você realmente quer alguém te treinando, vá até as celas do inferno para defender isso. Prez ou não." Seu sorriso cresce um pouco, e eu dou a mim mesma um hi-five mental.

"Obrigada pela dica, Thea." Aqua diz, se afastando um pouco da parede e se aproximando da porta. Ela para antes de entrar, olhando para mim novamente. "Aliás... Estou torcendo para você e Rage. Sei que não está em um bom momento agora, mas não deixa ele escapar."

Eu assisto enquanto a Old Lady entra no complexo, a porta fechando atrás dela. Minha mente trabalha no que ela diz, e eu suspiro.

A garota estava certa. Ele não iria escapar, eu não ia deixar.

Mas, mais importante... Eu não ia deixar eu mesma fugir de nada disso.