Capítulo 19

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Thea

Eu nunca iria esquecer aquele som enquanto eu vivesse. Os gritos de desespero. Ele não parou. Os gritos continuaram, por mais que eu tentasse chamar sua atenção, era como se ele nem mesmo conseguisse me ver ali mais, e estivesse preso na própria mente.

Os próximos acontecimentos foram como um borrão. Os motoqueiros vieram, e Drew me afastou de Rage, que Ainda gritava. Os Flaming Reapers o seguraram, o que apenas fez com que ele começasse a se debater, e o levaram para uma sala um pouco mais afastada.

Eu segui, com meu irmão ao meu lado. Era como aquelas salas de interrogatório, onde você conseguia assistir tudo por um vidro. Eu, Joker, Drew e Crow ficamos naquela sala, enquanto Hacker, Sniper e Wolf prenderam Rage, ambos seus pulsos presos em correntes acima da cabeça.

Eu tentei dizer a eles que não era necessário, mas meu irmão botou uma mão em meu ombro, e, quando eu olhei para seu rosto, eu sabia que era. Rage continuou a gritar e se debater, e eu vi os três motoqueiros que o prenderam irem até a sala atrás do vidro.

Quando Rage gritou, quase todo mundo do clube havia ido até lá, mas Crow afastou todos, menos nós. Ele iria me afastar também, mas grudei em Drew, e tínhamos coisas mais importantes a ver do que se eu estava ou não na sala.

Quando Hacker, Sniper e Wolf entram na sala, meu irmão e Joker vão falar com Rage. Eu assisto enquanto, por muito tempo, horas até, eles tentam. Em algum ponto, Rage para de gritar, mas era como se ele estivesse preso em um pesadelo em sua própria mente.

Vejo quando Drew e Joker trocam um olhar que me apavora. Naquele olhar, tinha medo. Quando você vê medo em dois motoqueiros incrivelmente assustadores, isso lhe confirma que algo está seriamente errado.

Quando os dois voltam, sem nenhum pingo de sucesso, meu irmão suspira e diz:

"Eu não acho que ele volta dessa vez." Essa frase me aterrorizou. Me levantei da cadeira que estava sentada no canto da sala.

"Como assim, dessa vez?" Pergunto, e todos os motoqueiros trocam olhares. Vejo meu irmão olhar para Crow, que assente, então Drew me explica.

"Não é a primeira vez que Rage pira desde jeito, Tee. Normalmente, é por algum pesadelo ou algo do tipo. Mas ele sempre volta depois de alguns minutos... Acho que dessa vez, nós o perdemos de vez." Havia devastação em seu rosto, mas eu não iria aceitar essa merda.

Conhecia meu irmão, ele não desistia assim. Não importa o quanto tenha mudado, sabia que isso fazia parte da pessoa que era. Levei alguns minutos, mas logo entendi. Eles pretendiam me tirar daqui. Semicerrei os olhos, e sei que Drew viu que entendi o que pretendia fazer.

"Eu vou entrar lá." Digo, e ele me encara como se eu tivesse perdido a cabeça. Não o deixo falar. "Primeiro, ele está acorrentado, Dew. Segundo, eu te amo, você é meu irmão. Mas eu não sou uma garotinha mais, tudo bem? Não nos vemos a dez anos, Drew. As coisas mudaram. Deixe eu fazer isso... Por favor?"

Ele suspira e o vejo trincar a mandíbula. Olha para o Prez novamente, que depois de um instante assente, e Drew rola os olhos. Eu sei que ganhei dessa vez.

"Qualquer sinal de problema, eu entro e você nunca mais fica no mesmo quarto que ele." Rolo os olhos e dou um beijo na bochecha dele ao passar para a sala.

Quando entro para falar com Rage, fecho a porta atrás de mim. Ele estava sem camisa, suor escorrendo pelo seu peito nu, além do sangue parcialmente seco. Eu suspiro e me aproximo, mas não arranco nenhuma reação.

"Rage?" Murmuro, más ele não se move. Me aproximo mais, parando bem na sua frente, um suspiro de distância, e vejo seu corpo ficar tenso. "Fala comigo. Por favor."

"Vai embora, Thea." Ele sussurra, sua voz nada mais do que um fraco murmuro, mas consegui compreender facilmente na sala fechada. "Por quê teve que fazer aquilo?"

Franzi a testa, e toco levemente seu rosto, temendo a reação. Para a minha surpresa, Rage apenas fecha seus olhos fortemente, parecendo devastado por algum motivo.

"Tira isso de mim." Ele fala, sua voz em tom de súplica, abrindo os olhos novamente. O desespero em seus olhos era óbvio, e eu sentia vontade de me encolher em uma bola e chorar.

"Do que você está falando, Rage?" Pergunto, e ele olha para baixo. Demoro para entender, mas logo vejo que ele estava olhando diretamente para seu bolso.

Franzi a testa e busquei algo lá dentro, de costas para a janela, de modo que eles não teriam ângulo suficiente para ver que eu sequer buscava algo. Arregalo os olhos quando minhas mãos encontram um canivete. Eu não tinha ideia que ele conseguiu guardar isso antes de ser levado.

"Por favor, Tee. Eu preciso disso fora de mim..." Ele sussurra, seu rosto cansado, e eu finalmente me toco do que ele queria que eu fizesse. Meus olhos se enchem de lágrimas e minha mão começa a tremer.

"Porque você não pode fazer?" Pergunto, trêmula, e ele abaixa a cabeça.

"Eles não vão me soltar, e as memórias voltam, Tee. Por favor..  agora." Eu mordo o lábio, mas sabia que isso era, de alguma forma, importante para ele.

Me aproximo, e Rage não se afasta quando toco seu peito nu, mas ainda fazendo uma careta, como se sentisse dor, ou como se o toque lhe trouxesse uma lembrança ruim. Seus olhos encontram os meus e sua testa se encosta na minha. Era importante para ele que eu fizesse aquilo.

Uma lágrima escapa do meu olho no segundo que a lâmina do canivete que eu segurava encontra sua pele. Solto um soluço ao fazer o corte, e Rage solta uma espécie de gemido. Não era dor ou prazer... Era mais um alívio. Como se realmente tivesse algo que precisasse sair.

"Por quê fez aquilo, Thea? Eu te disse, você iria morrer se se importasse comigo." Rage murmura quando eu faço o segundo corte, e, com lágrimas caindo dos meus olhos, eu o olho confusa. "Eu tentei te avisar."

Ele fecha os olhos e parece adormecer antes que eu lhe pergunte o que quis dizer. Minhas mãos ainda estavam na sua pele, e eu encarava os cortes que fiz.

Ele me pediu para fazê-lo. Senti como se tivesse cortando algo sagrado, como se tivesse sendo compelida a fazê-lo.

Fecho os olhos, também cansada. Ele estava bem. Eu estava bem... Nós iríamos ficar bem.

Rage- Flaming Reapers 5Onde histórias criam vida. Descubra agora