Capítulo 1

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Thea

A batida na minha porta apenas me prova que, novamente, estou atrasada, e corro pela minha casa para abrir. Dou um sorriso inocente para a minha melhor amiga quando a vejo do outro lado, e ela apenas rola os olhos.

"Vamos, Tee. Vince vai nos botar na rua se a gente se atrasar mais uma vez." Suspiro e concordo com a cabeça, ajeitando meu salto alto e pegando a minha bolsa antes de sair.

Fecho a porta e passo a chave, saindo com Azura logo depois. Vince era o dono do clube de strip que nós duas trabalhamos. Ele era gente boa e tinha uma útil regra sobre não tocar nas dançarinas, mas odiava quando estávamos atrasadas.

"Como está Lexy?" Pergunto a Az quando entramos em seu carro parado na frente do prédio. Nós duas moramos no mesmo apartamento, em um bairro nada amigável. Mas era o que podíamos pagar.

Minha amiga suspira.

"Difícil. Ela tenta me ajudar e fingir que está tudo bem, mas eu vejo na cara dela o quanto ela gostaria de ter uma vida relativamente normal." Eu sinto por ela. Alexis era sua irmã mais nova, mas nós a chamamos de Lexy. Ela estava atualmente com dezessete anos, se eu não me engano.

Azura sempre bancou sua irmã, era por isso que ela se tornou uma stripper. O salário era bom o suficiente para manter comida na mesa, e minha amiga ainda trabalhava de manhã em um restaurante.

Eu conheci Az alguns anos atrás, quando nós duas estávamos em Los Angeles. Ela estava trabalhando que nem uma louca, precisando de dinheiro, e eu estava prestes a perder meu apartamento por não conseguir pagá-lo. Lexy tinha treze anos na época e, quando fiquei amiga de Azura, tentei ajudar como podia.

Mas quando as coisas ficaram apertadas demais, conhecemos Vince. Ele nos ofereceu um trabalho aqui. Na época, nós negamos. Mas alguns anos depois, eu achei rastros de Drew nessa mesma cidade, e aceitei o trabalho. Azura me seguiu, e aqui estamos.

"E o motoqueiro sexy? Já conseguiu descobrir quem é?" Azura fala, um sorrisinho aparecendo em seu rosto, e eu rolo os olhos.

"Não descobri e nem vou, Az. Não estou atrás de homem no momento e, por tudo que sabemos, ele podia muito bem estar olhando para você." Digo, mesmo que a ideia do motoqueiro me encarando fizesse meu corpo esquentar.

Mas ele realmente podia estar olhando para Azura. Se eu era bonita, Azura era deslumbrante. Tinha um e setenta de altura, mais ou menos, e aquele corpo de dar inveja em qualquer um. Seu cabelo era todo pintado de azul escuro, algo que combinou muito com sua personalidade, e cortado na altura do peito. Seus olhos eram castanhos escuros e ela tinha um rosto maravilhoso.

"Ah, acredite em mim, Tee. Ele estava olhando para você. Quando você estava naquele palco, ele estava te fodendo com os olhos, amiga." Sinto minhas bochechas queimarem e afundo no banco, fazendo Azura soltar uma risada.

Eu sabia que não era feia. Tinha olhos verdes que sempre amei, cabelos em uma mistura natural de castanho com dourado, pele oliva e um metro e sessenta e três. Meu corpo era curvilíneo, e todo o peito que me faltava eu compensava na bunda. Nunca me vi feia.

Mas não queria pensar que aquele motoqueiro estava me encarando. Porque, para ser sincera comigo mesma, eu o estava encarando também. Nos últimos seis meses que ele veio todo o dia para a boate, nós tivemos sérias trocas de olhares.

"Sério, Tee. Precisa relaxar um pouco. Não me lembro da última vez que te vi com um namorado." Minha amiga murmura e eu suspiro.

"Eu tenho namorados, Azura. Talvez não em um bom tempo, mas não estou procurando por um no momento." Ela rola os olhos.

"Qual foi a última vez que transou? Sério, amiga, não pode deixar a xana sozinha por muito tempo." Meu rosto estava em fogo e eu arregalo os olhos.

"Azura!!" Grito, e minha amiga cai na gargalhada. Eu não era a pessoa mais confortável do mundo quando se trata de falar sobre sexo, e minha amiga amava me deixar constrangida com isso.

Ligo o rádio, tentando a ignorar, e ela ri durante todo o trajeto até a boate. Paramos no estacionamento e todo o humor vai embora quando vimos Vince parado na porta, parecendo chateado.

Vince era enorme. Seu cabelo era crespo e rente a cabeça, preto. Sua pele era bem escura e seus músculos do tamanho de uma melancia. Tinha tatuagens por todo o corpo e fazia qualquer um tremer na base.

Exceto Azura, pela pequena queda que ele tem por ela. Minha amiga nunca gostou de Vince, mas é fato que ele ficava mais suave ao redor dela.

"Vocês duas. Palco. Agora." Sim, esse era o Vince sendo mais suave. Suspiro e caminhamos rapidamente para o camarim.

Troco de roupa, botando meu uniforme, que envolvia uma lingerie preta e uma grande jaqueta que iria embora tão rápido quanto apareceu. Olho para Azura, que me envia um sorriso tranquilizador antes de nós duas entrarmos no palco.

Eu odiava esse trabalho. Ela também, eu sabia. Mas Az tinha que bancar a si mesma e Alexis, e eu tinha que bancar a mim mesma e continuar na cidade, procurando por Drew. Precisava pagar os detetives que contratei também.

Assim que entro no palco, meus olhos encontram o lugar no fundo, onde o motoqueiro sempre estava. Ele sentava em uma cadeira perto do bar, sem parecer querer ser visto pelas pessoas. Seus cabelos eram negros mas seus olhos eram tão azuis que chamavam atenção até mesmo a distancia que estava entre nós.

Eu deixo a música tomar conta de mim e começo a dançar. Balanço os quadris e deixo a jaqueta cair pelo meu corpo. Sinto meus olhos queimarem mas os fecho, tentando fingir que estou sozinha e que não escuto os homens com o dobro da minha idade assoviando e gritando.

Levanto meus braços e viro de costas para a plateia, rebolando ao som da música. A primeira lágrima cai do meu rosto quando eu tiro o sutiã, fazendo a mesma coisa que faço todos os dias da semana, de segunda a sexta.

Eu odiava isso. Olho para o meu lado direito e vejo Azura fazendo a mesma coisa. Mas ela não chorava. Eu era a única que sempre chorava, Az sempre endurecia a expressão e engolia seus sentimentos.

Eu não podia fazer isso. Então apenas dançava, fechando os olhos e fingindo que estava sozinha.

Rage- Flaming Reapers 5Onde histórias criam vida. Descubra agora