A Leoa Perdida

Capítulo 7

A Rainha não dormiu bem. Sonhou com os gritos da multidão e com Joffrey, a olhando com desprezo e ordenando que a matassem pela da vergonha trazida para a Casa. Com isso, ficou perturbada. Mas não houve tempo para que o torturante sonho se prolongasse mais, já que nas primeiras horas da manhã veio a septã acordá-la para as orações.

Cersei vestiu-se de maneira simples e sentou-se, pronta a repetir as rimas de A Estrela de Sete Pontas, pensando no quanto aquilo era hipócrita e que tudo que estava fazendo era por Tommen.

Enquanto isso, Lohanna estava nos jardins, deixando com que a luz do Sol, a bênção de R'hllor, tocasse sua pele. Uma vez que não poderia acender uma fogueira como deveria, entoava seus cânticos de agradecimento ao Senhor da Luz para si mesma. E pedia que Porto Real fosse limpa dos falsos deuses.

Em seguida, foi falar com Kevan, pois o tio havia solicitado sua presença.

- Bom dia, tio Kevan. – Disse Lohanna, desconfiada.

- Bom dia. – Ele respondeu – Você deve estar se perguntando por que a chamei aqui. Foi para lhe dizer que você ainda é jovem o suficiente para se casar de novo e ter outros filhos. Por isso, estou avisando-a que começarei a buscar pretendentes.

Lohanna o fitou, incrédula. Pensou que poderia ser uma brincadeira de mau gosto, porém Kevan não era um homem zombeteiro.

- Qual a sua intenção com isso? Melhorar a imagem de nossa Casa? Conseguir apoiadores? Meu pai me escondeu por muitos anos, e o senhor sabe o motivo. Deseja me expor agora? As pessoas voltariam a falar, e isso pioraria a situação. – Lohanna argumentou. Me casar novamente é a última coisa que quero, pensou.

Kevan fez uma expressão de desaprovação, mas sua sobrinha tinha razão em alguns pontos. Com a Fé Militante no poder, se o fato de Lohanna ter visões nas chamas voltasse a ser comentado, todos estariam em maus lençóis e ela poderia ser presa por heresia.

Então Kevan retrucou: - Você veio para a corte. Isto já é uma exposição. E um risco, devo acrescentar. Se você queria contato com a família, poderia ter nos enviado corvos. Ou, se o que você queria era voltar para casa, poderia ter ido a Rochedo Casterly, disfarçada, sem causar alarde.

Lohanna mostrou a tristeza em seu rosto e respondeu: - Rochedo Casterly? Por que eu iria para lá? Para ver a minha mãe na cripta? Sonhar com os fantasmas de um lugar que um dia teve vida, música e alegria, mas hoje é morada de apenas memórias? Não. Cersei está aqui, e Jaime voltará. Eles são minha família, eu preciso deles. Eu não poderia passar o resto da minha vida sem vê-los novamente.

Kevan pensou no quanto aquele comentário era doce. Não conhecia a sobrinha mais nova direito, porém além dessa doçura, no pouco tempo que conviveu com ela, teve a impressão de que ela era uma mulher sábia e devia ser cruel caso necessitasse. Sobretudo com o deus estranho que ela cultuava.

- E Tyrion? - Perguntou Kevan – Você sente vontade de procurá-lo?

Lohanna brincou com uma mecha de cabelo, pensou um pouco e respondeu – Não o conheço. De certa forma ele causou o meu exílio, nascendo e confirmando minha previsão. Mas eu sei que quem me mandou embora foi nosso pai. E só voltei após a morte dele, pois sabia que ele faria o que o senhor está tentando fazer agora. Mas não penso em Tyrion, exceto pelo fato de ele ter matado quem insubstituivelmente comandava e trazia prestígio e respeito para nossa Casa. – Disse a mulher, olhando desafiadoramente para o tio.

Kevan não gostou de tal insinuação e fechou sua expressão. Lohanna foi embora sem pedir licença.