Capítulo 9

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No novo dia que surgira, Cersei queria ouvir mais de Lohanna, já que a história ainda não estava completa. Por que a haviam dado como morta, como Jaime ouvira anos antes ao entrar para falar com o pai?

Então, quis almoçar com a quase caçula da família Lannister. Porém, as septãs e noviças estavam participando das refeições, e isso era um importuno sem tamanho.

- Hoje eu abrirei mão das refeições durante o dia – anunciou Cersei às religiosas – o jejum será bom para me purificar. E vocês deveriam ser purificadas de refeições pelo resto de suas malditas e inúteis vidas, pensou. – E gostaria de rezar com minha irmã.

Sair de perto das septãs pelo segundo dia consecutivo seria impensável, se não fosse pela persuasão de Lohanna. A sacerdotisa de R'hllor as havia feito acreditar que era devota dos Sete e uma boa mulher segundo os mandamentos daquela religião. Desse modo, havia a crença de que se alguém poderia dobrar a rainha completamente à Fé dos Sete, esse alguém seria de seu próprio sangue.

***

Novamente juntas, as duas Lannister conversavam.

"- Meu marido era horrível. Assim como os Farman, me mantinha trancada, e Alya também. Poucas vezes minha filha viu o mundo fora de nosso quarto em sua curta vida. – Lohanna conteve a emoção – Porém, eu mal o via e era grata por isso. Tyson era indiferente, frio. Apenas apareceu raivoso uma vez, no que me deu um soco que me empurrou através do quarto como se eu fosse nada."

Cersei via o paralelo disso com seu próprio casamento com Robert. Sentia raiva, ódio, que Lohanna houvesse passado por coisa parecida e tivesse vivido enjaulada como um animal ao lado de sua sobrinha.

- Jaime o teria matado e liberto você e sua filha, se pudesse saber onde estava. – afirmou a rainha. Jaime amava ambas as irmãs com a mesma intensidade, ainda que de formas diferentes.

- Sim, nosso irmão faria isso. – Lohanna sorriu – Mas não seria necessário. Pouco depois da morte de nossa filha, meu marido foi esfaqueado em uma briga e morreu. –Continuava sorrindo, porém de forma mais discreta. Mas seu tom mudou: "- Com o acontecido, a Casa Arryn gostaria de me casar com outro membro de seu clã para manter a aliança com nossa Casa. Mas eu não suportaria mais aquilo, então fugi."

Cersei assentiu, sorrindo. – Desse modo - Lohanna continuou – informaram a nosso pai através de um corvo que eu havia perecido por não suportar a morte da minha filha. Mas eu suportei, e continuei vivendo por ela. – Disse, com expressão resignada. – Peguei um saco do ouro que me restava e levei comigo. Consegui viajar até Volantis e me apresentar em um Templo Vermelho, para conhecer a mim mesma e servir em minha vocação.

- Você passou bastante tempo lá, certo? E provavelmente nunca me enviou um corvo por temer que a carta fosse interceptada por espiões. – Indagou a rainha, ligeiramente triste e bastante curiosa.

- Sim, mas eu também acreditava que era amaldiçoada e traria problemas à nossa família, por mais que a saudade doesse. Além disso, era claro que R'hllor queria o meu serviço no templo durante aqueles anos. – Lohanna explicou – Mas agora, você precisa de mim, eu pude ver nas chamas. E obtive a permissão de tentar trazer a Luz à cidade real, ainda que nenhum de nossos sacerdotes geralmente consiga muito êxito por aqui.

- Mas cedo ou tarde todos verão a Luz – continuou a sacerdotisa – especialmente em tempos de um inverno avassalador próximo. – E mudou o assunto, tirando aquele olhar vidrado de seus olhos. – Eu quero ver Jaime, eu soube que lhe cortaram a mão. Não consigo imaginar como ele ficou depois disso. Preciso abraçá-lo e dizer que estou viva, aqui, por vocês dois. – Disse, saudosa.

Cersei gostou daquilo, e disse que também queria ver Jaime mais do que qualquer outra coisa. – E ajeitou as mãos sobre o colo, revelando sem querer a Lohanna uma das feridas que se auto infligira.

A Leoa PerdidaOnde histórias criam vida. Descubra agora