O reencontro.

266 15 5
                                    


Era uma mistura de sentimentos que a assolava agora, mas um coisa era certa para Sansa: o medo da rejeição. Da mesma forma como se sentiu quando fugiu para ele na primeira vez. Naquele tempo não sabia como Jon a receberia, pois sempre fora uma péssima irmã para ele, e agora, tanto tempo depois não se achava menos pior, uma vez que ocupava a cadeira de Rainha do Norte, enquanto ele havia sido banido para a Muralha.

Quantas vezes precisaria ainda pedir perdão a Jon? Quando faria algo certo e seguro que poderia ter certeza de não prejudica-lo de forma alguma? Sentia tanta culpa em seu íntimo e na mesma proporção sentia seu ser inundar pelo amor, absurdo, arrebatador e que a fazia consumir-se nele.

_Senhora, perdoe-me a intromissão, mas seria mais prudente cavalgar com mais cautela.

Mal ela percebeu que àquela altura estava a pleno galope, quando o soldado equiparou-se a sua montaria e pediu constrangido, mas com insistência, que ela diminuísse o ritmo para sua própria segurança. Apenas assentiu em silêncio e diminuiu um pouco as trotadas.

Diante do portão de madeira, bem menos imponente do que fora outrora, ouviu-se uma corneta avisando a chegada de visitantes. E a ordem de abrir os portões já estava sendo dada.

POV Jon

Não costumava dormir muito, mas desde que eu havia recebido o bilhete dela, meus olhos descansavam cada vez menos. Era constrangedora a forma que eu me sentia em relação a isso. As vezes pego-me sorrindo sozinho com o simples vislumbre do sorriso dela em minhas memórias. Os olhos azuis, profundamente azuis e que falavam por si só, também é algo nela que me encanta. Mas, agora, diante desta mulher forte, altiva, uma verdadeira rainha, não sei exatamente o que pensar ou como devo agir, ou o que devo esperar.

Éramos outros, nossas vidas tomaram o rumo que não poderia ter sido outro, senão ficarmos separados. O barulho da corneta avisando a aproximação me fez sair dos meus devaneios. Juntamente com outros irmãos da guarda da noite, esperávamos de maneira tão solene quanto possível, a chegada da Rainha Stark e de sua comitiva. Pensei em cortar minha barba e cabelos, mas não o fiz, porque não tinha qualquer pretensão de agradá-la nesse aspecto. Nunca estivemos tão longes e proibidos um para o outro quanto agora. Mas, para prestar-lhe uma pequena homenagem, vesti o gibão que ela fizera para mim no passado e que era tão semelhante ao que Ned Stark costumava usar.

Alguns rostos conhecidos e outros não, transpuseram o portão e logo atrás, aquela cabeleira ruiva que sangrava o branco da neve, desceu sozinha do seu cavalo e parou ligeiramente como se também ela estivesse insegura, antes de dar o primeiro passo em minha direção. Ela estava vestida com uma capa de pelo cinza e um vestido também cinza. Os cabelos estavam completamente soltos e sem nenhuma coroa ou qualquer outro adorno. Linda, majestosa, meus batimentos dispararam sem que eu pudesse fazer nada a respeito.

Já diante dela, desci meu joelho direito e abaixei minha cabeça.

_Majestade! Bem vinda à Muralha.

Numa fração de segundos ela se jogou em meus braços, como fez da vez passada e eu apenas a apertei, tão forte, tão possessivo, como se nada pudesse tirá-la mais de mim.

As pessoas ao redor, bem como na primeira vez, olharam-se um tanto encabuladas, enquanto vivíamos aquele momento só nosso. Soltei-a com muito pesar e as perguntas protocolares não puderam deixar de ser feitas.

_Fez boa viagem, Senhora?

_Sim, Jon. Estava ansiosa por chegar aqui e ver com meus próprios olhos a condição que se encontra a Muralha e a Guarda da noite.

-Vamos todos entrar. Há uma refeição quente e leitos para o descanso de todos depois dessa longa jornada.

_Eu prefiro direto me recolher um pouco, se me permite, Lord Comandante.

_Como quiser, Majestade. Meus aposentos estão preparados para a senhora e eu ficarei junto aos outros irmãos.

_Não, Jon! De jeito nenhum. Não precisa sair de sua cama para me deixar confortável. Eu ocupo outro quarto.

_ De maneira alguma. Se me permite a acompanharei até lá.

Já estávamos longe dos demais, quando cheguei à frente do meu quarto.

_Não é nem um pouco luxuoso e muito indigno da sua pessoa, mas o preparei com todo o cuidado e esmero possível.

Quando abriu a porta, Sansa se sentiu emocionada, pois ele arrumara tudo minuciosamente para ela. Até flores selvagens havia em um vaso e ela não pode mais se conter senão jogar-se novamente nos braços dele.

_Me perdoa, Jon. Mil vezes te peço. Jamais quis que você viesse para cá. Jamais quis usar a coroa dos lobos como Rainha, a menos que fosse por ser a esposa do verdadeiro rei, que deveria ser você.

Jon novamente apertou-a junto de si. E apenas constatou:

_ O norte e Winterfell não poderiam ter uma Rainha mais justa e merecedora. Não há o que perdoar.

Sansa se afastou um pouco e olhando para ela, mais uma vez a imensidão azul mergulhada nos olhos negros, colou seus lábios aos dele. Jon ficou um pouco parado , mas logo em seguida suas línguas já enroscavam uma na outra.

A iniciativa de separar foi dele, que com muito esforço e olhando para uma Sansa preterida e confusa, disse: _Não posso. Não podemos...há muito em jogo agora. O seu reinado e o de Bran e eu aqui como um fiador da paz, desde que eu permaneça encerrado nesta Muralha.

_E tudo o que você me disse, Jon? Você falou diante das criptas que me amava e que eu era a mulher da sua vida.

_Sansa, você é. Mas tudo agora é diferente. Você é uma rainha e eu sou um irmão juramentado que não pode casar, nem ter filhos.

Dizendo isso, Jon foi rápido em direção à porta, passando por ela e não olhando para trás. Estava mais uma vez se dilacerando, mas não a colocaria em risco nunca mais. Não entendia, porém se isso era o certo a se fazer, porque seu coração doía daquela forma. Por quê parecia errado?!

The song of ice and pain.Onde histórias criam vida. Descubra agora