Valorizo bastante os meus momentos de solidão. De rodar pela casa com a música nas alturas, olhar para mim mesma no espelho e, sem vergonha, ensaiar discursos de um futuro imaginário – ou perder alguns segundos com o olhar perdido, tomando aquele solzinho de inverno que entra pela janela, sem me preocupar com mais ninguém.
É como se eu deixasse a minha carga pesada ir embora e voltasse a ser leve, mesmo que isso resulte num esvaziamento gradual. Na verdade, é mais ou menos por aí: estes momentos sempre se dão depois de dias cheios, como se fossem paradas necessárias numa rotina turbulenta, em que a paz preenche cada pedacinho meu. Não à toa.
Só que nem sempre é bom. Depois de algum tempo, sinto falta de ouvir uma resposta aos meus questionamentos. Também é legal poder comentar observações que surgem inesperadamente ou compartilhar ideias. Sou uma pessoa que, por mais que dê certo sozinha, precisa de gente me rodeando para funcionar melhor.
Me recarrega conversar, abraçar, desabafar e olhar para um rosto que não seja o meu... Aprender com alguém que está ao meu lado vira a tomada que marca o raio enchendo a bateria. De certa forma, sei que é natural e que, por vivermos em sociedade, essa necessidade de companhia constante não é ruim.
O meu medo é isso evoluir para uma certa dependência, como se eu precisasse estar ligada a outros o tempo todo, como um aparelho viciado, que não funciona mais sozinho. E sabemos o que acontece com este tipo de equipamento, né? Você o despluga da energia e ele simplesmente desliga.
Por isso, tomo cuidado. Paro no meio termo e repenso.
Percebo que a felicidade tem que estar bem dividida entre as duas situações, como uma mãe que tenta ser justa ao repartir o doce da padaria com seus dois filhos. Gosto de estar sozinha, gosto de estar em grupo. Gosto de viver só, mas também gosto de ter pessoas comigo. Aliás, gosto de namorar, mas é claro que também gosto de ser solteira.
A motivação para abrir sorrisos frequentes nas duas ocasiões tem que existir. E sigo assim, cuidando para encontrar a alegria na convivência com o outro e na falta dela também. Desse jeito, não tem erro.