CAPÍTULO 4

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MADALENA CEREJA

Cheguei à cozinha e encarei o apartamento silencioso, minha mochila e o violão ainda estava em uma das cadeiras, na correria toda dona Luísa não tinha sequer me mostrado onde eu dormiria, e me recusava a voltar ao quarto daquele ogro para fazer tal pergunta.

Pelas próximas horas me sentei na cadeira a qual tinha ocupado antes e encarei o tampo da mesa. O silêncio continuou, como se estivesse sozinha ali. Me sentindo cansada demais fiquei quieta, abaixando a cabeça deixando minha mente zanzar pelos últimos acontecimentos.

Estava anoitecendo quando meu estômago roncou e eu percebi que estava sem comer há horas, nem sequer tinha bebido água, por isso mais uma vez de pé me movi pela cozinha ampla de inox que parecia nunca ter sido usada e bebi um grande copo com água decidida a fazer algo para jantar, pois se Enrico não queria comer, eu queria, fui até a geladeira vendo o que poderia fazer.

Puxei as mangas da blusa e embolei meu cabelo para o topo da cabeça o prendendo em um coque, lavei bem as mãos começando a cortar alguns legumes, ia fazê-los junto com um frango e faria um arroz branco.

Logo que coloquei a cebola para dourar o cheiro invadiu o ambiente, logo tive certeza que tinha cheirado até o quarto pois um novo grito de Enrico veio dessa vez me chamando apenas pelo primeiro nome. Enquanto abaixava o fogo e andava até seu quarto perguntei a mim mesma se me acostumaria com aquilo.

— Pois não? — Parei de pé ainda na porta.

— Eu disse que não quero comer. Falou sem sequer me olhar.

— Eu sei, senhor.

— Então por que diabos está cheirando comida?

— Porque eu também moro aqui agora, e eu vou comer. — Falei tentando não parecer debochada, mas tendo a certeza que tinha falhado miseravelmente quando ele me olhou com espanto por tamanha audácia. — Desculpe, senhor estou com fome, olhe para mim e perceba que eu não fico sem comida.

Pisco tentando consertar parecendo mais gentil e ele abre e fecha a boca como se quisesse dizer algo, mas nada sai.

— Vai querer?

— Já disse que não.

— Ok, posso ir? Levantei as sobrancelhas e ele bufou derrotado.

— Sai.

— Ok, tchau. — Aceno docemente para ele que me olhava irritado e volto para a cozinha com um sorriso enorme no rosto por ter deixado ele sem reação.

Passo o próximo tempo cozinhando e fazendo questão de usar bastante tempero para que o aroma infestasse todo lugar. Estava terminando de servir meu prato quando novamente o grito de Enrico me chamando invadiu meus ouvidos. Involuntariamente me peguei sorrindo o enxergando como uma criancinha birrenta. Andei para o seu quarto e entrei.

— Pois não, senhor Enrico?

— Madalena, você foi contratada para me dar remédios e não está fazendo isso, está na hora do meu comprimido. Se não se acha capacitada para isso é só ir embora!

— Sinto muito, sua mãe não me passou os horários ainda, acho que pensou que você iria fazer... — Volto a me aproximar da gaveta que mais cedo tinha me causado medo e a abro dessa vez preparada para o que ia ver. Pego o pote que tinha um adesivo de "noite" colado e o entrego. Sem dizer nada saio indo até a cozinha pegando um vidro de água na geladeira junto com um copo e volto. O sirvo e espero ele beber.

— Trouxe uma garrafa de vidro, para o caso de você sentir sede...

— Não gosto de água natural.

CIDADE CINZA {DEGUSTAÇÃO} DISPONÍVEL AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora