CAPÍTULO 2

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MADALENA CEREJA

A viagem para São Paulo tinha sido mais tranquila, talvez por finalmente poder relaxar um pouco do medo de ser encontrada que me assombrara em toda viagem até Campo Grande. Tudo que agora temia era estar em lugar desconhecido e com um dinheiro que alguma hora acabaria.

Teria que conseguir um emprego o mais rápido possível, levando em conta que meus estudos se baseavam apenas no fim do ensino médio, me faziam temer arrumar algo com muita facilidade.

Mas não deixaria que isso me abalasse, teria que correr atrás e medo de serviço eu nunca tive, iria procurar algo honesto que me sustentasse, após me estabilizar poderia pensar em finalmente estudar.

Olhei pela janela, a rodovia escura passava depressa, mais uma vez meu coração vagou pensando em Vicente. Ele tinha conseguido dobrar o maldito Rodrigues? Algum dia ele conseguiria a tão esperada vingança?

Fechei meus olhos desejando que o melhor destino para minha vida e para a dele fosse traçado naquele momento. O sono me invadiu logo assim que terminei minha prece. Me permiti descansar como não vinha fazendo desde o falecimento do meu pai. Só voltei a acordar novamente quando o ônibus fez uma curva e parou. Acordei atônita descobrindo que tínhamos encostado em um ponto de parada. Me espreguicei limpando os olhos e bebi um pouco de água.

— Será que ainda vai demorar muito? Indaguei para a senhora que estava viajando na fileira do meu lado, por sorte o ônibus não estava lotado, nos dando a possibilidade de ocupar duas poltronas.

— Parece que mais duas horinhas, chegaremos logo depois do almoço. — Levou as mãos aos cabelos pintados de castanho. — Você vai comer agora?

— Estou bem, obrigada. — Agradeci lhe oferecendo um sorriso.

— Não quer que eu te traga algo?

— Não senhora, estou mesmo bem.

— Certo, pode vigiar está sacola então? — Apontou para o seu banco.

— Olho sim. — Concordei e ela saiu pelo corredor até a porta.

Voltei a me distrair pensando na primeira coisa que eu faria quando chegasse, teria de encontrar um lugar para ficar e veria com as pessoas sobre empregos, amanhã de manhã procuraria alguns? Teria de comprar também algumas roupas. Puxei os punhos do meu agasalho já desgastado e velho.

Passados alguns minutos a senhora retornou trazendo nas mãos um pacote de biscoito e uma garrafa de água e me ofereceu carinhosa enquanto se sentava na poltrona ao meu lado e o restante dos passageiros que haviam descido terminavam de se acomodar para que seguíssemos viagem.

— Pra você. — Me entregou.

— Não precisava.

— Você dormiu e não desceu em nenhuma parada, eu fiquei preocupada. — Sorriu gentil. — Como se chama?

— Madalena, e a senhora? — Respondi aceitando seu agrado.

— É um prazer, Madalena, eu me chamo Rosa. E então, o que está indo fazer em São Paulo?

— Estou indo morar.

— É mesmo? Minha filha mora lá, estou indo visitar ela e meus netos, ela está meio tristinha, o casamento não vai muito bem.

— Que pena.

— Pois é. — Concordou como se falasse em convencimento para si mesma. — Você é corajosa, está indo sozinha... está deixando seus pais? Parece tão jovem, você mora em Campo Grande?

CIDADE CINZA {DEGUSTAÇÃO} DISPONÍVEL AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora