CAPÍTULO 5

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A fim de não correr o risco de cochilar de novo, me coloquei de pé e comecei a fuxicar nas roupas que dona Luísa tinha me trago, descobri que definitivamente ela não me enxergava como eu me via. Tinha algumas blusas que ficariam curtas demais e duas calças que eu tinha certeza que pareceriam uma segunda pele. Junto ainda tinham mais três pijamas tão curtos quanto o que eu usava no momento.

Dobrei cada uma das roupas e as empilhei perto da cabeceira, caminhei até a porta que levava para a varanda e a destranquei com cuidado. Quando sai para o ar gelado da madrugada mais uma vez me perdi na imensidão que via lá embaixo. O tempo realmente não parava ali, os carros passavam lá embaixo e os prédios tinham muitas luzes acesas. Lembrei de como sempre diziam "tempo é dinheiro", ali aquilo era real, e para muitas pessoas dinheiro importava mais que a vida, e eu sabia disso pois conhecia de perto um. Joaquim.

Quando faltavam menos de cinco minutos para o medicamento sai do quarto e andei até a cozinha pegando um copo com água gelada antes de voltar na direção do quarto de Enrico.

Girei a maçaneta calmamente e entrei dando de cara com tamanha escuridão que tive que ligar a luz. Enrico fechava até as cortinas cinzas enormes. Tentando não fazer barulho andei até a cômoda e abri a gaveta. Me surpreendi ao perceber que as pistolas já não estavam mais ali. Talvez ele tenha medo que você o mate. Minha mente sugeriu e eu quis rir. Localizei o remédio correto e retirei uma drágea.

Um gemido me fez virar de imediato pensando se mais uma vez ele tinha me pegado espionando, mas Enrico continuava imóvel. Imaginei o quão desconfortável devia ser dormir com a perna imobilizada. O lençol estava enrolado apenas sobre sua cintura e coxas, o peito desnudo e o abdômen malhado, os braços relaxados e abertos. Seu rosto mesmo em sono pareceu incomodado quando mais um suspiro veio, como se estivesse sonhando.

Aproximei da cama meio receosa e deixei o copo na mesinha ao lado segurando o comprimido na outra mão. Estendi o braço livre e toquei minha mão na sua com cuidado.

— Enrico. — Chamei recebendo mais um resmungo em resposta. — Enrico, o remédio.

Em um segundo estava tocando seus dedos e no outro eu já estava sendo jogada na cama com ele montando sobre mim e com sua enorme mão em meu pescoço.

A velocidade em que eu gritei assustada foi a mesma que ele pareceu estar em transe sem perceber o que fazia.

— Me solta. Pedi com medo.

— Madalena? — Ele afrouxou o aperto e depois de finalmente voltar a si me soltou totalmente. — Meu Deus, machuquei você? — Perguntou analisando meu pescoço e eu senti todo o seu corpo prensado sobre o meu, inclusive sua anatomia masculina que roçava minha coxa.

— Eu estou bem. Sai de cima. — Peço tentando me remexer e Enrico rolou para o lado ainda totalmente desconcertado.

— Desculpa, eu estava tendo um pesadelo. Que ideia foi essa de entrar aqui? — Seu tom de voz foi rude.

— Eu não tive ideia alguma, está na hora do seu remédio que inclusive no meio disso tudo eu não faço a mínima ideia de onde foi parar, terei de pegar outro. Me sentei ajeitando as roupas antes de me levantar. Me senti inquieta ao perceber que agora de pé o pijama parecia ter desaparecido me deixando nua já que seus olhos não saíam de minhas pernas. Talvez estava imaginando onde eu estava com a cabeça em usar aquilo. Sentindo seu olhar queimar em mim andei de novo até o móvel e peguei mais um comprimido e voltei o entregando.

— Obrigado. — Ele respondeu assim que lhe passei o copo com água gelada.

Me mantive calada observando-o engolir a drágea quando falou de novo: — Me desculpa por te fazer acordar também, eu poderia fazer isso.

CIDADE CINZA {DEGUSTAÇÃO} DISPONÍVEL AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora