A fim de não correr o risco de cochilar de novo, me coloquei de pé e comecei a fuxicar nas roupas que dona Luísa tinha me trago, descobri que definitivamente ela não me enxergava como eu me via. Tinha algumas blusas que ficariam curtas demais e duas calças que eu tinha certeza que pareceriam uma segunda pele. Junto ainda tinham mais três pijamas tão curtos quanto o que eu usava no momento.
Dobrei cada uma das roupas e as empilhei perto da cabeceira, caminhei até a porta que levava para a varanda e a destranquei com cuidado. Quando sai para o ar gelado da madrugada mais uma vez me perdi na imensidão que via lá embaixo. O tempo realmente não parava ali, os carros passavam lá embaixo e os prédios tinham muitas luzes acesas. Lembrei de como sempre diziam "tempo é dinheiro", ali aquilo era real, e para muitas pessoas dinheiro importava mais que a vida, e eu sabia disso pois conhecia de perto um. Joaquim.
Quando faltavam menos de cinco minutos para o medicamento sai do quarto e andei até a cozinha pegando um copo com água gelada antes de voltar na direção do quarto de Enrico.
Girei a maçaneta calmamente e entrei dando de cara com tamanha escuridão que tive que ligar a luz. Enrico fechava até as cortinas cinzas enormes. Tentando não fazer barulho andei até a cômoda e abri a gaveta. Me surpreendi ao perceber que as pistolas já não estavam mais ali. Talvez ele tenha medo que você o mate. Minha mente sugeriu e eu quis rir. Localizei o remédio correto e retirei uma drágea.
Um gemido me fez virar de imediato pensando se mais uma vez ele tinha me pegado espionando, mas Enrico continuava imóvel. Imaginei o quão desconfortável devia ser dormir com a perna imobilizada. O lençol estava enrolado apenas sobre sua cintura e coxas, o peito desnudo e o abdômen malhado, os braços relaxados e abertos. Seu rosto mesmo em sono pareceu incomodado quando mais um suspiro veio, como se estivesse sonhando.
Aproximei da cama meio receosa e deixei o copo na mesinha ao lado segurando o comprimido na outra mão. Estendi o braço livre e toquei minha mão na sua com cuidado.
— Enrico. — Chamei recebendo mais um resmungo em resposta. — Enrico, o remédio.
Em um segundo estava tocando seus dedos e no outro eu já estava sendo jogada na cama com ele montando sobre mim e com sua enorme mão em meu pescoço.
A velocidade em que eu gritei assustada foi a mesma que ele pareceu estar em transe sem perceber o que fazia.
— Me solta. Pedi com medo.
— Madalena? — Ele afrouxou o aperto e depois de finalmente voltar a si me soltou totalmente. — Meu Deus, machuquei você? — Perguntou analisando meu pescoço e eu senti todo o seu corpo prensado sobre o meu, inclusive sua anatomia masculina que roçava minha coxa.
— Eu estou bem. Sai de cima. — Peço tentando me remexer e Enrico rolou para o lado ainda totalmente desconcertado.
— Desculpa, eu estava tendo um pesadelo. Que ideia foi essa de entrar aqui? — Seu tom de voz foi rude.
— Eu não tive ideia alguma, está na hora do seu remédio que inclusive no meio disso tudo eu não faço a mínima ideia de onde foi parar, terei de pegar outro. Me sentei ajeitando as roupas antes de me levantar. Me senti inquieta ao perceber que agora de pé o pijama parecia ter desaparecido me deixando nua já que seus olhos não saíam de minhas pernas. Talvez estava imaginando onde eu estava com a cabeça em usar aquilo. Sentindo seu olhar queimar em mim andei de novo até o móvel e peguei mais um comprimido e voltei o entregando.
— Obrigado. — Ele respondeu assim que lhe passei o copo com água gelada.
Me mantive calada observando-o engolir a drágea quando falou de novo: — Me desculpa por te fazer acordar também, eu poderia fazer isso.
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CIDADE CINZA {DEGUSTAÇÃO} DISPONÍVEL AMAZON
RomanceEnrico De Giordano tinha uma vida boa perante as milhões de pessoas que moravam na selva de pedra chamada São Paulo. Tinha sucesso profissional, uma bela casa, pais saudáveis e bens de vida, uma esposa linda e o tão sonhado filho a caminho. Numa noi...