CAPÍTULO 8

5.2K 641 92
                                    

AVATAR DE JONAS


ENRICO DE GIORDANO

Pensei que eu tinha conhecido o inferno há três anos atrás quando Patrícia tinha morrido com um filho meu no ventre. Viver no inferno tinha se tornado fácil para mim, nunca tinha sido tentado, difícil estava agora que um maldito anjo tinha invadido o local.

Madalena Cereja Ferrão tinha aparecido como se gritasse ser a salvação para o pobre homem fodido que eu era. Mas eu não podia ser salvo.

Depois daquele maldito episódio que era do qual eu me alimentava nos momentos de fraqueza que foi quando eu a beijei eu vinha mantendo firme a decisão de a ignorar e trata-la como se não estivesse ali. Mas o problema era que ela estava, e em todo canto daquele maldito apartamento e da minha mente.

Nunca tinha me masturbado tanto em minha vida, nem na adolescência nem nos três anos de viúvo. Eu simplesmente precisava reviver nosso beijo e imaginar que tínhamos ido a diante de madrugada quando sonhava com Madalena ou de manhã quando acordava tão duro que chegava a doer. Muitas vezes eu só queria que aquele telefonema não tivesse nos interrompido.

De olhos fechados me satisfazia sozinho, não podia tocar sua pele que eu agora sabia ser macia, nem sequer podia sentir seu cheiro gostoso e ouvir os suspiros carregados com tesão. Mas era só isso que podia ter.

Jonas aparecia as vezes, trazia sempre um sorriso enorme no rosto quando entrava no quarto, sorriso este que eu queria tirar no soco. Tinha me garantido que não conversava sobre nada demais com Madalena, e eu sequer podia questionar mais sobre, já que se o fizesse ele insistiria no fato de que eu estava apaixonado por ela. E também não podia perguntar para ela, pois além de a estar ignorando ficaria na cara o meu ciúme.

Tinha criado a rotina para que Madalena pensasse que eu não prestava mais atenção nela, sempre estava fazendo algo quando ela aparecia, evitava fielmente olhar dentro dos seus olhos negros que faziam me sentir perdido. Mas o fato era que tinha me tornado um maldito voyeur e a seguia a todo canto mesmo engessado. Ela tinha razão, eu sabia ser silencioso quando queria.

Mesmo com dificuldade pela perna ficava escondido no corredor a observando cozinhar, ou pela fresta da porta do seu quarto a vendo assistir desenhos animados. Ela estava fascinada por eles, passava horas a fio os assistindo, e eu me pegava sorrindo ao perceber que ela tinha adquirido um gosto especial por Pokémon.

Em uma tarde depois de dias a rejeitando, me sentindo mal de saudade de ao menos ver o sorriso descontraído em seus lábios tinha me enfiado embaixo do chuveiro, tinha ficado assustado ao perceber que ao mesmo tempo que meu pau implorava para que eu o aliviasse pensando na boca gostosa de Madalena me chupando, ou na boceta que mesmo não tendo tido a chance de tocar tinha certeza que era perfeita eu simplesmente chorei.

Chorei feito criança, depois que terminei de me lavar sai para o quarto totalmente abalado, dei de cara com ela ali, como se Deus me dissesse: ela está aí, pegue-a seu babaca. Madalena ficou estacada na porta me encarando como se estivesse encantada comigo. E mais uma vez eu a afastei pedindo que ela saísse. Pedi, pois, tudo que pude fazer naquele momento foi voltar para o banheiro para finalmente bater a punheta que tinha me negado bater enquanto chorava.

Os dias passaram vagarosamente, Madalena tinha entendido que eu não queria muito contato e tinha começado a sair. Primeiro tinha ido até o mercado sozinha e depois apenas avisava que sairia com a amiga Aline, filha da mulher que a ajudara ainda quando vinha para São Paulo.

De certo modo quis ficar aliviado por ela estar seguindo sua vida, mas na verdade eu odiava. Odiava a ver saindo e voltando alegre, odiava a ver mexendo no celular tão distraída que era incapaz de notar o quanto eu estava chateado. Mas essa era minha vida. Vivendo no inferno com um anjo do lado.

CIDADE CINZA {DEGUSTAÇÃO} DISPONÍVEL AMAZONOnde histórias criam vida. Descubra agora