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palavras não ditas - parte um - 285

O som forte de água se chocando com os vidros da janela mostram que está chovendo em mais uma madrugada na cidade, mas é tão normal isso acontecer no mês de janeiro que quase ninguém se importa. A não ser por aquela porção da população que vive em áreas que sofrem com alagamentos, nestes locais seus moradores olham para o céu temerosos e tristes, não pela água que banha a cidade, mas por seus bens que podem facilmente se perder caso ela suba demais. É uma madrugada desta em São Paulo a quinta maior cidade do mundo e o coração econômico do Brasil. Não que aqui tenhamos brigas de Bairros, não é isso, mas sempre os mais abastados que vivem nos bairros nobres olham com desdém, para os locais mais afastados, lá sempre recebendo a atenção que falta a estes pedaços de terra, tão escassos de serviços públicos e muitas vezes seus moradores desejam apenas um olhar carinhoso e atencioso dos que estão no poder. Um destes bairros abriga um jovem investigador do DHPP a divisão de homicídios e proteção a pessoa do estado.

Estou falando da famosa zona leste de São Paulo ou ZL para os mais íntimos. Onde seus habitantes gostam e se sentem orgulhosos de chamá-la assim, não que este pedaço da cidade seja mais abençoado que os demais ou mesmo o fato de o sol nascer no leste, diz respeito a esse carinho que seus moradores tem, não sei, mas acho que ali tem um Q a mais que falta as demais regiões, um misto de alegria e paixão flui a todo momento de lá o que acaba atraindo muitos cidadãos a procura de algo que lhes falta no resto da cidade e de um bairro bem especifico vem nosso investigador que é acordado as 5 horas da manhã por seu celular que toca desesperado como se o mundo fosse acabar caso ele não o atenda, com os olhos pesados e ainda meio embriagado pelo sono, Edson atende o telefone a voz do outro lado diz rápido e curto:

- Houve um homicídio no Brooklin, preciso de você aqui.

- Hoje é minha folga.

- Não mais... - após um breve e duro silencio como se a voz do outro lado respirasse fundo continua - espero que seus livros de terror e gibis te ajudem neste caso, nunca presenciei algo assim, te enviei o endereço pelo whats.

Antes que pudesse retrucar ou se queixar a ligação é desligada, olhando para o relógio do celular Edson percebe que são exatas 5:23 da manhã – vinte e três. Não que Edson seja um cara supersticioso, más há algo nos números que o incomoda, como sua ex namorada foi morta aos 23 anos ou seu pai que morreu as 23:00 horas do dia 11 de dezembro de 2012, houve quem dissesse a ele que não eram vinte e três horas e sim onze da noite, mas isso não o deixou mais tranquilo, ainda mais sabendo que a soma do dia com o mês dão vinte e três e a soma do ano da trinta e dois, vinte e três ao contrário. Parece que aquele número o perseguia e teve certeza disso, após assistir ao filme número 23 com o ator Jim Carey – acho que ele devia ter continuado na comedia, é só o que eu acho – fala Edson deixando as palavras escaparem de seus pensamentos e ecoarem pela casa vazia, o som de suas palavras saíram mais alto que desejava, levantando lentamente ele caminha para o banheiro a fim de tomar uma ducha e afastar de vez o sono, olhando a casa extremamente vazia em seu quarto apenas a cama, que na verdade é um colchão de casal jogado em cima de uns pallets – está na moda... É rústico, disse ela – diz Edson e novamente seus pensamentos ecoam pela casa em palavras mais altas que desejava, e uma voz feminina vinda de outro canto da casa lhe interrompe o pensamento dizendo:

- Se não gosta, me avisa que troco.

- Não é isso, só não estou acostumado a este estilo – diz Edson apontando para a cama e caminhando para fora do quarto

- O que aconteceu que já está de pé? - diz a mulher que caminha pela cozinha da casa tendo escutado a conversa esperando apenas a confirmação de seu marido.

Edson que atravessa a porta do quarto diz caminhando na direção da voz - Recebi uma ligação do Amorim, ele disse que houve um homicídio que era para eu me dirigir até lá - naquela casa vazia não há a necessidade de gritar algumas poucas palavras ditas em um tom mais alto ecoam por toda a residência sem pudor.