St. Morris

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Lamar me ajuda com o café da manhã enquanto mamãe arruma o cabelo de belinha. Nós estamos só com um carro então mamãe terá que nos levar todo dia, primeiro deixando Belinha na escola dela, depois eu e Lamar na St. Morris e depois indo pro escritório em Downtown.

-Você tá preparada?- Lamar me pergunta.

-Preparada é meu nome do meio- Respondo.

-Seu nome do meio é Rolim kirida- Belinha grita da sala. Como pode uma criança de 8 anos guardar tanto deboche dentro de si?

[...]

-Bom primeiro dia de aula meus nenéns- Mamãe diz antes de sair com o carro e é tudo que eu desejo.

Entramos pelo multidão no corredor e seguimos até a secretaria onde uma mulher ruiva de cabelos extremamente repuxados num coque nos entrega nossos horários e explica onde será a primeira aula de cada um. Lamar tem aula de Biologia e eu de química, algo me diz que serão longas horas.

Entro na sala e uma professora loira de meia idade me encara.

-Olá, você deve ser a aluna brasileira, Any Gabrielly sim? Eu sou a sr. Thompson, por favor, sente-se, vamos começar a aula.

No canto esquerdo da sala vejo Joalin que aponta freneticamente para a carteira ao seu lado, próxima a ela vejo o garoto asiático de ontem e uma garota negra linda com tranças vermelhas lixando as longas unhas pintadas de branco, deduzo que ela seja Diarra, sobre quem Joalin falou ontem.

-Eu posso passar o meu caderno pra você copiar a matéria depois, pensando bem, melhor você pegar o do Krys, é mais decoradinho- Joalin diz.

-Não é isso, é que o seu caderno é uma completa bagunça garota- Krys reclama.

-É melhor vocês calarem a boca ou querem que a gente vá pra detenção no primeiro dia de aula da Any?- Diarra repreende.

-Olha, acho que eu não quero não- Digo.

-Shhhhhh- A professora sibila de costas para a turma enquanto escreve algo sobre isomeria no quadro- Srt. Beauchamp eu sei que ainda está cochichando.

- Eu acredito que todo aluno do high scool deve passar pela detenção pelo menos uma vez, pra adquirir experiência- Joalin susurra gesticulando para defender sua tese.

- Eu acho que prefiro minha inexperiência- Krys cochicha em resposta.

[...]

A aula de química passa e a de literatura que vem logo em seguida também e então chega o horário do almoço. Na multidão de pessoas que se encaminham pro refeitório não consigo ver Lamar, mas se bem conheço meu irmão, ele vai me achar. Joalin me guia paraa enorme mesa onde vejo Sina, Sofya, alguns conhecidos e desconhecidos também. Ao lado de Sofya está a garota com traços indianos que descubro que se chama Shivani, e Hina, uma garota  do Japão de olhinhos puxados incrivelmente tão fofa quanto Sofya, elas cursam o primeiro ano. Conversando exageradamente alto com Sina está uma garota de cabelos negros,a mexicana Sabina, e mais ao lado cortando seu sanduíche em tiras extremamente uniformes está a garota coreana, Heyoon. Próximo a eles vejo rostos conhecidos da noite anterior, Noah, Bailey que descubro ser filipino, e o mal encarado Josh, que faz questão de não parecer feliz com minha presença,  mas eu o ignoro exatamente como ele faz comigo. Todos estes outros cursam o terceiro ano assim como meu irmão, que por falar nele, não o vejo em lugar algum, mas Lamar tem um ótimo senso de localização e se não achar a cantina, ele tem um sanduíche de peito de peru na bolsa para emergências, na minha família somos assim, passar fome é algo inaceitável.

Aqui estou eu sentada em uma mesa com vários imigrantes, até mesmo eu e a família Beauchamp que se mudou do Canadá quando Sofya nasceu pra ficarem mais próximos dos avós maternos. Mamãe estava certa, esta região possuia diversos imigrantes.

Em poucos minutos estou inclusa na conversa do grupo reunido na mesa, sendo bombardeada com perguntas sobre os países que morei, qual meu lugar favorito, quantas línguas eu falo e etc. É fácil se sentir acolhida aqui, sei que se eu for embora em breve serão novos amigos que abandonarei, mas eu já estou acostumada com despedidas.

POV'S JOSH

Estou remexendo minha fatia de torta de maçã entediado enquanto meus amigos pagam pau pra pequena brasileira viajada. Não é que eu seja rude, mais mudanças me assutam. Todos que estão nesta mesa, com exceção da pequena intrusa, são meus amigos de longa data, por exemplo, Noah, foi o meu primeiro amigo quando nos mudamos do Canadá, e os outros, bem, ficamos próximos por causa da academia de dança de Kyle; todos nós partilhamos do amor pela arte. E do nada durante o nosso almoço de domingo em casa, Sofya desanda a falar sobre uma tal de Any Gabrielly, Any com qualquer? Mas ela não é uma qualquer, é uma menininha irritante na qual eu acertei uma bola de futebol americano na noite passada, a mesma que brigou com Huanita por estar tentando fazer o número 2 no seu precioso gramado. O irmão dela por outro lado é alguém legal, hoje ele até participou do meu grupo de biologia junto com Noah e Bailey. Talvez isso soe como implicância contra a novata, é, e talvez seja só isso mesmo.

-Olhem só, aquele alí é o gatinho que sentou do meu lado na aula de matemática- Sabina exclama como a boa cracatua que ela é.

Olho para a entrada da cantina a tempo de ver que ela está falando de Lamar, que acena para nós, faz um sinal de espera e caminha em direção a máquina de refrigerantes.
-Ei Lamar, para de ser lerdo e sente aqui!- Bailey reclama.

-Me parece mejor sentarme en ti Lamar- Sabina diz em alto e bom som no seu idioma materno. Eu não entendo sequer uma palavra, mas vejo Any arregalar os olhos e então começar a rir como uma louca.

Todos nós a olhamos sem entender, até mesmo Sabina. A brasileira respira fundo e ainda com os olhos cheios de lágrimas e o rosto vermelho de tanto rir ela diz.
- Sabi, Lamar é meu irmão, nós acabamos de mudar da Espanha, além de antes já termos morado em outros países que falam espanhol, então tenho que te dizer, él entendió perfectamente todo lo que usted dijo amiga- E então ela volta a rir.

Sabina põe as mãos no rosto petrificada de vergonha e não demora pouco pra nós também caiamos na risada, Sabina disse alguma imoralidade para Lamar, mas mal sabia ela que tanto ele quanto a irmã são fluentes em espanhol.

Lamar vem em nossa direção e parece alheio a cantada imoral de Sabina quando se senta ao meu lado na mesa, ele não deve ter ouvido.

- Bom dia gente- Ele diz abrindo uma lata de Pepsi- Hola morena, después podemos discutir mejor su propuesta.

Any começa novamente com sua crise de riso, e mesmo sem entender quase nada do diálogo, todos da mesa riem juntos.

I think it's loveOnde histórias criam vida. Descubra agora