Capítulo 4~Péssima ideia!

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O barulho do vento se chocando contra as paredes daquele lugar era muito mais alto do que o normal, como se tivesse a força de um furacão. Ser acordada dessa maneira realmente não era muito bom. Sem falar do frio que tinha ficado.

Demorei para perceber qualquer coisa, porque não dá para fazer nada direito quando se está com sono. Pouco a pouco percebi que estava em um lugar meio diferente, mas ainda sim em algum canto daqueles caminhos subterrâneos. A iluminação parecia ainda mais precária, feita apenas por um lampião – isso em pleno século 21! – que tinha sua chama quase apagando de vez.

Me estiquei para alcançar o objeto, mas sem querer acabei deixando algo cair, parecia que era algo como um cobertor que estava sobre mim, e, surpreendentemente, só naquele momento fui perceber a presença dele.

Peguei o lampião para ver mais de perto o que era aquilo, porém acabei tendo uma surpresa. Ao invés de um cobertor, era um casaco, bem conhecido por sinal. O casaco do Ayato. Olhei várias vezes, tentando ter certeza se eu não estava imaginando coisas, realmente, era do próprio. Quando coloquei a "pequena luz" mais a frente, pude ver o meu ruivo desacordado, sentado e encostado contra a parede, curvando as costas para frente.

O pior era que no seu peitoral havia uma garra de lobo cravada bem no meio, seus braços estavam cobertos por feridas, porém algo me surpreendeu. Aparentavam ser tanto resultado de ataque de lobos quanto o estrago que uma espada faria, como se alguém tivesse lutado com ele.

– Ayato! – tentei o acordar, sem ao menos ter certeza se ele estava vivo – Ayato, se isto for uma brincadeira... por favor abra os olhos... – tentei até mesmo o sacudir, mas ele continuava imóvel

Olhei em volta para ver se encontrava mais algo, e por causa disso acabei vendo outras visões perturbadoras.

Do lado direito, havia Laito, de seu chapéu apenas restava a fita que tinha ficado pendurada no casaco dele, ou do que tinha sobrado dele. No pescoço dava para ver claramente um corte de espada profundo que continuava sangrando, e ainda mais feridas causadas pelas garras dos lobos.

Subaru também estava desmaiado, porém ao menos os seus machucados estavam cessando, mesmo assim tinha perdido uma manga de sua blusa e o que tinha restado, tinha sido tingido completamente de vermelho.

No centro, Lambros, tinha uma enorme mordida no pescoço, e de longe era a ferida mais feia.

O lampião parou de funcionar naquele momento, assim como minha esperança também estava desaparecendo. Além de tudo, onde diabos Shu e Kanato estavam? Por que tínhamos ido parar ali?

Nos meus pensamentos tentava me convencer de que na verdade aquilo deveria ser apenas um pesadelo e que nada daquilo que tinha acontecido era real. Segurei a mão do meu amado com força e, novamente, nenhuma reação. Estava provando do puro desespero, de novo.

– Droga, eu, independentemente de onde vou, acabo parando em um beco sem saída. – milagrosamente, mesmo com o barulho do vento, ouvi um homem desconhecido falando – Será que vim para a região certa?

Em circunstâncias normais deveria temer quaisquer desconhecidos naquele lugar, porque pelo que entendia aquela deveria ser uma área isolada e conhecida apenas por membros da família Sakamaki ou quem fosse bastante próximo deles. Entretanto, realmente precisava de ajuda, então acabei por decidir apelar para aquele mero desconhecido.

– Tem alguém aí? – perguntei apenas para ter certeza de que não estava alucinando – Se for o caso, por favor, me ajude! – pedi com uma voz que saiu naturalmente chorosa

– Ah... quem... – parecia que o homem iria tentar perguntar algo, porém acabou falhando para montar a frase – Espere aí!

Consegui ouvir sons de passos, com o tempo eles acabaram ficando mais altos, indicando que quem quer que fosse aquela boa alma estava se aproximando. Nem ao menos poderia ver seu rosto por causa daquela escuridão, só soube quando esse garoto até então desconhecido virou o corredor e ficou no mesmo que o meu.

– Você consegue enxergar algo? Meus amigos estão desacordados e eu não sei nem ao menos se eles ainda estão vivos! Por favor, me ajuda...

– Primeiro, calma. – Muito fácil falar, quero ver fazer – Eles não estão mortos, veja – ele pegou a minha mão e levou para onde imaginava estar Ayato, me fazendo encostar no corpo dele

Estranhamente, a ponta dos meus dedos passou a formigar assim que o toquei.

– O que diabos é isto? – perguntei até mesmo um pouco assustada

– É a regeneração do Ayato trabalhando. Assim como nos humanos depois de algum tempo a ferida irá cicatrizar, creio que por volta de umas três semanas pelo estado do... – acabei o interrompendo

– Conhece o Ayato então... mesmo assim eu não te reconheço pela voz ou por qualquer coisa, então, quem você é?

Ele demorou um bocado para responder, porém dei o tempo que precisasse para responder. Só não esperava que o homem se fingiria de surdo e mudaria de assunto, como se nem isso quisesse falar.

– ... para estarem aqui imagino que todos estavam fugindo. Acho que sei o que fazer – manti minha boca devidamente fechada, porque se aquele moço conseguia enxergar no escuro, certamente já via minha cara de brava

De repente, houve ma espécie de flash branco, ofuscando minha visão. Algo surgiu, era bem parecido com um espelho aliás. Mas nele nada se refletia, era formado por cordas coloridas amarradas uma a outra, aquele treco flutuava no meio do nada e transmitia tanta luz que machucou meus olhos de primeira. Parecia um portal na verdade.

– Da próxima vez avisa antes... – ele apenas riu em resposta da minha queixa

– Esse portal vai te levar diretamente para o Makai, mais especificamente até a segunda mansão dos Sakamakis. É seguro por lá

Assenti, dando um passo a frente, me aproximando daquilo. Mas hesitei. A única coisa que estava fazendo era confiar em um completo estranho, talvez estivesse louca. Ao mesmo tempo, ou confiava nele, ou juntava as mãos e rezava, porque ninguém mais estava dando sinal de vida por perto.

– Pode pelo menos dizer o seu nome? – tentei insistir uma última vez

O ouvi suspirar profundamente, se aproximando, mas sem deixar o brilho do portal iluminar sua face, continuando no lado escuro.

– Sou alguém que acabou conquistando o desprezo dos trigêmeos. Eles me odeiam desde pequenos. Mas, ainda sim, tenho compaixão por esses três. – disse, deixando aquilo soar de uma maneira misteriosa – Agora, vá de uma vez. Mando os garotos depois

Uma última vez, encarei aquele portal peculiar. Mesmo sabendo que aquilo poderia ser uma cilada, e que poderia acabar morta ou sequestrada, resolvi entrar vendo que nada além daquilo poderia ser feito. Foi outra péssima ideia! Assim que entrei, senti uma sensação de sufocamento, minha garganta apertava muito, comecei a tossir e minha visão ficou embaçada. Perdi a força nas pernas e acabei caindo de joelhos, sendo torturada lentamente, enquanto, em meus pensamentos, me xingava por ter sido tão idiota.

Continua...

Choices~A escuridão não cessa.Onde histórias criam vida. Descubra agora