Conexão de Alma

Considerações

Harriet deixou que Elijah entrasse no quarto primeiro, observando o príncipe, que por um breve momento, deixou de lado as formalidades e agiu como um simples rapaz apreciador de música.

Elijah sorriu ao ver a lira e, com todo o cuidado de um instrumentista, segurou o instrumento em suas mãos, experimentando dedilhar algumas notas. Quando pensou em tocar alguma canção, lembrou-se que não estava sozinho.

-Agradeço muitíssimo pelo presente, minha rainha - ele respondeu, realmente comovido com o presente.

-Fico feliz que tenha gostado - Harriet lhe deu um sorriso cortês - eu receio ter me demorado muito com o príncipe, não me entenda mal, foi realmente agradabilíssimo, porém outros deveres ainda esperam por mim.

-Oh eu entendo perfeitamente majestade, não se preocupe - Elijah ousou sorrir de volta para ela.

Harriet se inclinou num cumprimento assim como Elijah, e relutantemente, a rainha deixou o príncipe com a companhia de sua música.

Elijah lembrou-se de canções que sua mãe costumava cantar, para fazê-lo dormir, para alegrá-lo, para divertí-lo. O príncipe se surpreendeu ao perceber que, mesmo depois de passado muito tempo, seus dedos ainda eram ágeis e correspondiam ao que sua mente instruía a fazer.

Passou muito tempo ali, apenas tocando, completamente envolvido com a música e, só percebeu quanto tempo tinha se passado quando sua mãe veio cumprimentá-lo.

-Senti sua falta, filho - disse Elizabeth com um sorriso materno - parece que correu tudo bem com a rainha.

-Ah sim, foi ela que me presenteou com a lira, acabei me distraindo com a música... - respondeu Elijah.

-Apenas com a música? - perguntou sua mãe num tom sugestivo.

-O que quis dizer com isso, mamãe? - o príncipe a olhou desconfiado.

-Com todo respeito, Elijah eu o conheço filho - Elizabeth ajeitou sua postura, falando sério - sei o quanto está preocupado com a rainha, e é uma preocupação genuína, sem nem um pouco de interesse.

-Bom, nisso a senhora tem razão - concordou o príncipe - ela é simplesmente uma moça triste, carrega uma culpa enorme dentro de si, e confesso que isso me faz me apiedar dela, gostaria de ajudar essa situação, sendo um bom amigo.

-Você será mais que isso meu querido, será o marido dela - Elizabeth lembrou o filho - talvez, a partir disso, surja o amor que você tanto deseja.

-Eu... - Elijah ainda tinha dúvidas quanto a isso - não tenho certeza, mamãe, não mesmo.

-Apenas continue se esforçando pra ser um bom amigo - sua mãe aconselhou - o tempo dirá o que vai acontecer.

-É só o que podemos fazer, esperar - concordou Elijah, por fim.

A mãe o deixou, também fazendo com que Elijah tivesse um tempo a sós para pensar. Estaria ele realmente se apaixonando pela rainha? E se fosse esse o caso, seria bem melhor para ele, pra que se casasse com alguém que amava, mesmo que fosse por um casamento arranjado. No entanto, era isso mesmo que Elijah estava sentindo? E se Harriet não correspondesse os seus sentimentos? Se os chamou de seus, talvez realmente era o que estava sentindo. Amava aquela mulher tão gentil e paciente, forte, que estava carregando o peso do mundo em seus ombros, o que Elijah queria desesperadamente tirar.

Parecia repentino, mas desde que a conhecera, que a cortejara, percebeu que sua afeição por ela tinha crescido, até se tornar em amor naquele momento.

Não muito longe dali, na sala do trono, Harriet atendia o povo e outros afazeres do governo. Sua mente estava focada, e ela dava o seu melhor para conseguir resolver todas as questões. Quando finalmente dispensou a todos, com a hora do almoço se aproximando, seus pensamentos deram lugar ao seu coração.

Harriet tinha ficado contente por Elijah ter gostado do presente, e ainda assim, por mais que tivesse passado parte da manhã com ele, estava ansiosa por revê-lo. Havia algo que não conseguia deixar de pensar, em como o príncipe fora gentil com um assunto tão delicado, como ele estava encarando o casamento arranjado da melhor forma possível. E em seu coração, a própria rainha notou que, não seria nada mal ter Elijah como marido, ao contrário, seria maravilhoso. O pensamento a fez perceber algo, que a princípio a espantou muito, Harriet tinha verdadeiramente se apaixonado por Elijah.

Por mais que essa descoberta fosse bastante proveitosa para a situação em que ambos estavam, ainda assim, ela sentia medo. Por um lado, casaria com alguém que amava, o que desejava toda sua vida, no entanto, se não fosse correspondida, sabia que doeria ainda mais.

Tudo que estava à rainha agora era casar, adiantar logo o matrimônio, cumprir seu dever para o bem e unificação de seu povo, se o príncipe poderia amá-la também, Harriet teria que aguardar para ver se isso aconteceria um dia.