II

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                No meio de um matagal que conseguia crescer além da altura do alambrado que o cercava, cinco ou seis prédios se erguiam como ilhas no meio do mar verde. Feitos de concreto, janelas de ferro e completamente abandonados, algumas paredes já estavam há muito manchadas de preto por causa da infiltração da chuva. Debaixo de quase todas as janelas escorria o vermelho da ferrugem que se desprendia das janelas sem pintura. O alambrado não tinha portão, aquele lugar tinha sido fechado para sempre por alguém. Mas, num dos cantos, um buraco na cerca permitia qualquer pessoa que quisesse entrar para mergulhar no mato verde.

Matheus rapidamente passou pelo buraco e começou a se embrenhar. Eu olhei em volta assustado pois tive medo que alguma pessoa que estivesse por ali pudesse ver ele invadindo o local que claramente não queria nenhum visitante. Em volta, porém, só terrenos vazios e árvores baixas nos testemunhavam cometendo aquele crime.

-Vem logo cara – ele falou de dentro da cerca.

-Você deveria ter me avisado para vir de tênis e não de chinelo.

Antes mesmo que eu terminasse de reclamar ele já tinha mergulhado no mato. Eu só conseguia ouvir o barulho das folhas se afastando a medida que ele avançava.

Fui atrás dele tentando afastar o mato com minhas mãos para que ele não me batesse no rosto, o que era meio inútil já que a quantidade de mato era muito maior do que minha quantidade de braços. Depois do que parecia uns cem metros, mas que poderia também ser menos de dez, chegamos a uma clareira enorme. Era o estacionamento daquele lugar as faixas brancas estavam quase que completamente apagadas mas ainda era possível ver que, em algum momento, aquelas linhas delimitavam um monte de vagas para um monte de carros. O chão de asfalto impedia que o mato crescesse e de lá era possível ter uma visão mais clara dos cinco ou seis prédios.

Os andares inferiores estavam todos grafitados ou pichados e a maioria das janelas tinha sido arrancada e depois seladas com tijolos de concreto para impedir a entrada. Um caminho de cimento ligava cada um dos prédios como se fossem uma picada no meio do matagal que entre eles também crescia. Tudo que não estivesse bloqueado por concreto, cimento ou asfalto tinha sido tomado pelo mato.

-Legal né?

-O que é aqui?

-Não sei bem. Meu irmão me trouxe aqui ontem. Parece que era um hospital ou coisa parecida né.

-Não sei, não tem nada escrito em lugar nenhum...

-Vem.

Matheus recomeçou a andar pelo caminho de cimento. Passamos pelo primeiro prédio, depois pelo segundo que era quase igual ao primeiro. No terceiro a porta que tinha sido bloqueada pelos tijolos estava aberta. Alguém tinha derrubado o bloqueio. Lá dentro a escuridão era total. Eu me aproximei um pouco da porta e um vento frio e úmido parecia sair de dentro do prédio. O cheiro era de bolor e mais alguma coisa.

Meu amigo me puxou pelo braço, não era naquele prédio que ele queria me levar. Chegamos ao quarto prédio. Este era bem diferente dos outros. A maioria das janelas ficava de um só lado e, além disso, a construção parecia mais bem acabada. Ou pelo menos tinha sido mais bem ornamentada antes de ter se tornado um prédio abandonado. As janelas eram de madeira mas estavam quase todas destruídas e caídas no chão. O último andar era composto por uma varanda que tomava toda a frente do prédio, e as portas que levavam a ela em algum momento foram de vidro.

Ao lado da porta de entrada tinha um banco de praça que curiosamente estava quase novo. Nós entramos pela porta. O Ar lá dentro era frio também como no outro prédio. Mas o cheiro era bem pior. Não só umidade mas também alguma coisa apodrecia naquele lugar. Uma escada levava para os andares superiores ao fundo do corredor de entrada e à direta de quem entrava um balcão onde imagino que se pudesse pedir informações para quem ali trabalhasse.

HWhere stories live. Discover now